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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: NA MINHA PELE: SOBRE AFIRMAÇÃO E EMPATIA
Author: Jéssica Ohara
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Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e ...




Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação. 
Ainda que não seja uma biografia, em Na minha pele Lázaro compartilha episódios íntimos de sua vida e também suas dúvidas, descobertas e conquistas. Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismos, Lázaro nos fala da importância do diálogo. Não se pode abraçar a diferença pela diferença, mas lutar pela sua aceitação num mundo ainda tão cheio de preconceitos.

Um livro sincero e revelador, que propõe uma mudança de conduta e nos convoca a ser mais vigilantes e atentos ao outro.


"Por isso, digo sempre aos meninos e meninas que têm origem parecidas com a minha: não há vida com limite preestabelecido. Seu lugar é aquele em que você sonha estar."

Começar essa resenha é um desafio porque eu me considero um pessoa sensível, apesar do uso indiscriminado que se faz atualmente dessa palavra, não significa que qualquer coisa deixa marcas no meu coração, eu sou facilmente suscetível a me emocionar com o que acontece a minha volta, mas a maior parte desses sentimentos fica por um tempo muito curto na minha mente. Entretanto, há coisas que tocam profundamente, elas vão de encontro à feridas mal cicatrizadas, mas das quais aprendemos a disfarçar a dor. Na Minha Pele é exatamente sobre esse processo, sobre todas as coisas que nós, negros, tivemos que reprimir em prol de ser aceito por uma sociedade que tem ressentimento de cada conquista nossa*, a mesma que em qualquer oportunidade destrói um pouco de nossa identidade.

"Nomear é importante, é um exercício para não perdermos os atributos que nos distinguem, para provocar empatia com o outro."

Lázaro Ramos parte de suas reminiscência, apesar de em sua infância também ter que conviver com a  desigualdade e o racismo, conseguiu ter sua autoestima bem trabalhada, podendo se ver como um ser humano pleno e bonito e, principalmente, consciente de suas referências. Um movimento que só aumentou na adolescência e na vida adulta. Mesmo sendo essa exceção(que no livro ele sempre faz questão de dizer que confirma a regra), ele não ficou isento do efeitos do racismo estrutural que se encontra nos meio de comunicação e entretenimento, seus principais nichos de trabalho.

"Muitas vezes o racismo faz com que a gente não trilhe nosso caminho e comece a pautar nossas ações pela demanda do preconceito."

Através da sua descoberta como ator, ele se reafirmou como negro. É muito intenso como ele demonstra que isso só foi possível devido ao conjunto de referências negras que ele tinha e que acabou por só aumentar com o tempo. Quando você lê essas confissões sendo negro(e como branco também), você começa quase que automaticamente a contar quantas referências e exemplos você teve enquanto crescia, e como esse processo afetou as suas escolhas futuras. É triste perceber que a falta delas pode ser a causa de vários problemas de autoestima e confiança que temos hoje.

"Meu afeto é potência"

Outro ponto importante levantado por esse relato é a descoberta dos caminhos possíveis para combater o preconceito e a discriminação dentro dos nossos ambiente. Há momentos que precisaremos ser políticos, explicar por mais que a dor e a raiva estejam entaladas na garganta, e há outros que só uma atitude firme e que não dê margem para respostas é que fará efeitos. Nessas discussões que Lázaro traz, lembrei muito de uma amiga da minha mãe que sempre fala que o movimento negro está dentro de cada um de nós, só o fato de estarmos em um lugar que nos era negado já demonstra uma vitória de todos.

"Agora pergunto: uma vida de resistência é uma vida plena?"

Há uma mensagem muito bonita sobre o futuro na fala de Lázaro, sobre incentivar as crianças, de todas as etnias, a conhecerem a cultura negra, criando assim uma possibilidade que a próxima geração enxergue com mais respeito o seu igual. Ele relata sobre como ele e a Taís tentam trabalhar isso com os próprios filhos, ensinando-os a se amarem e a terem referências positivas negras durante o seu crescimento.

Por fim, devo ainda salientar as indicações de vídeos e livros que ele dá ao longo de todo o livro, nos dando base para aprofundarmos e conhecermos mais sobre os aspectos que ele trabalha. Esse livro é como uma daquelas conversas que verdades muito profundas sobre nós e os outros são ditas, há choros e desabafos, mas sempre com uma reconfortante sensação de que estamos falando com um amigo. 

*No livro indicava uma fala(que podem ser vistos nesse e nesse texto) do Milton Santos, no qual ele discute a mudança de perspectiva sobre a discriminação e sobre quem tem ressentimento de quem.


AUTOR(A): Lázaro Ramos
PÁGINAS: 152
EDITORA: Editora objetiva
LANÇAMENTO: 2017
ONDE COMPRAR: Aqui







INDICAÇÕES DO LIVRO

TEXTOS
Temos sobre afetividade, violência obstetrícia  e afrofuturismo.
VÍDEOS









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