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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: DESCENDO A PIRÂMIDE: LULARICH OS ESQUEMAS QUE DESTROEM VIDAS
Author: Jéssica Ohara
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  Você já ouviu falar da Lularoe? Ou de DeAnne e Mark Stidham? Não? Eu também não tinha até uns dois meses atrás quando vários vídeos sobre ...


 

Você já ouviu falar da Lularoe? Ou de DeAnne e Mark Stidham? Não? Eu também não tinha até uns dois meses atrás quando vários vídeos sobre essa empresa começaram a aparecer no meu feed do youtube. Eu sou bem a louca dos documentário da DW ou BBC, além daqueles bem aleatórios de alguns youtubers, então não foi surpresa nenhuma quando essa recomendação apareceu. Primeiro apareceram pequenos depoimentos, depois os documentários em si, além de centenas de desabafos que levavam uns aos outros. E o que era só uma venda de roupa no atacado se tornou até esquema de cirurgia bariátrica. Sim, essa escalada foi selvagem.

Antes de mais nada, a Lularoe é, alegadamente (não tenho dinheiro para os advogados), um esquema de pirâmide que tem como alvo mães que trabalham meio período ou donas de casa precisando de dinheiro. Eu não precisava conhecer a marca para saber muito bem o que isso significava. Os brasileiros estão muito acostumados a esse tipo de negócio e, principalmente, as suas consequências devastadoras. 

Existem dois tipos de negócio que se confundem um pouco: Um empresa de marketing multinível e um esquema de pirâmide, o primeiro é legal e o segundo é ilegal na maioria dos países. No Brasil, ele é classificado como um crime contra a economia popular.  Mas qual a diferença? No marketing multinível, um grupo está no topo e recruta pessoas para venderem os seus produtos, essas pessoas também podem recrutar outras pessoas e pode, ou não, acontecer de terem comissões ou vantagens envolvidas nesse recrutamento. Outro ponto importante é que não há taxas para tornar-se parte do negócio ou se há, existem políticas sólidas de devolução caso o produto não seja vendido. Todo o lucro vem da venda do produto, comissões, salários, vantagens etc.

Já no esquema de pirâmide, o objetivo é recrutar cada vez mais gente para tornar-se parte do negócio pois o lucro está no valor inicial que esses revendedores pagam para fazerem parte da empresa. Inclusive, as comissões dos recrutadores também são em cima disso. Há estudos que apontam que se um esquema desses chegasse ao 13°nível toda a população da Terra teria que estar incluída. Ou seja, é um negócio destinado e previsivelmente falho.

Mas é óbvio que eles não são vendidos dessa forma. No caso da Lularoe, o que é dito é que a marca vende roupas confortáveis com estampas únicas e limitadas. O que, na teoria, geraria um valor agregado de se ter um produto exclusivo. Criada por DeAnne e Mark, a marca estabeleceu-se entre a classe média e bem educada branca dos EUA que investiu parte de suas poupanças para fazer parte desse negócio que gritava promissor. Só que não deu lá muito certo.

O meu farinho de pseudoinvetigadora gritou e eu fui atrás de um documentário mais completo que expusesse todo o contexto da marca e como se deram as acusações de esquema de pirâmide. Achei o Lularich no Amazon Prime que conseguiu tirar todas as minhas dúvidas e me deixar empolgada por cada episódio.

Gente, o bagulho é muito doido. Tudo começa como uma venda de roupas no porta-malas de um carro, no qual DeAnne começa a conseguir o seu próprio dinheiro. Ai depois, de forma muitíssimo altruista ela decide compartilhar esse poder com outras mulheres e cria um negócio no qual ela manda kits para as clientes para elas terem sua própria loja e assim ter uma renda extra. O típico empoderamento capitalista.

As roupas realmente fazem sucesso no começo, todo mundo queria uma estampa limitada que não se repetiria e o marketing inicial é bom. Todo mundo quer ter uma Lularoe. Bom, todo mundo branco, né. Logo de cara, a gente vê que boa parte das consumidoras e vendedoras são brancas, apesar de umas pouquíssimas exceções. As coisas parecem promissoras, o problema vem mesmo quando eles decidem entrar num modo super capitalista e também porque resolveram envolver toda a familia nisso. O casal tem vários filhos e resolveu colocar todo mundo na empresa. O velho e bom nepotismo.

Uma superprodução começou a ser feita só que sem uma logística pensada para isso. As roupas começaram a ficar acumuladas no estacionamento da empresa. E quando chegavam nas clientes, estavam sujas, com estampas bizarras e com uma qualidade baixíssima. Os problemas se agravaram aí e as antigas vendedoras começaram a tentar sair do negócio. Mas é óbvio que a empresa não ia deixar isso ser fácil. Além de não devolver o dinheiro por um estoque com defeito, começaram a colocar regras cada vez mais rígidas para a devolução. Regras que não estavam no contrato.

E não acaba aí. Há alguns depoimentos no documentário sobre como as reuniões de incentivo estavam começando a parecer também tipo de culto. Inclusive, havia citações bíblicas e uma espécie de pregação contra os inimigos. Sim, gente, o bagulho ficou doido. Mas pela minha experiência pessoal com esse tipo de negócio, isso não é incomum. Além de tudo isso, DeAnne começou a incentivar as vendedoras mais próximas a fazerem cirurgia bariátrica num clinica do México. Sim, de forma completamente aleatória por motivos completamente estéticos.

No final, a Lularoe responde a muitos processos judiciais e teve que fazer alguns acordos com a justiça. Não é o suficiente, queria muito que ela fechasse, mas como o próprio documentário deixa claro, o governo não costuma se atrever a fazer isso. Muitas pessoas ficaram falidas e tem histórias muito pesadas de depressão e outros traumas relacionados.

Eu me lembrei muito da minha própria história. Tenho uma tia que sempre entrava nesses esquemas, mas o mais destrutivo foi o do herbalife, ela perdeu tudo e até hoje não se recuperou. E pior, não consegue ver que foi por causa desse empresa. Ela tinha um futuro promissor e destruiu ele por promessas de ganhos rápidos e fáceis. Deu tudo errado.

Não são só pessoas de meia idade que passam por isso, eu tenho amigos que se envolveram na venda de produtos de beleza como hinode e faziam verdadeiras armadilhas para atrais os outros amigos a participarem também. O que fica disso tudo é que não dá pra confiar em promessas de dinheiro fácil, muito menos quando vem de produtos bregas que você mesma não usaria.

O documentário é muito bom e eu super recomendo. Foi minha diversão das férias.

Pontuação: 9

Veria de novo? Acho que sim.

Indicaria? Simmm

Adeus e obrigada pelos peixes!

TRAILER LULARICH

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