Por fim chegamos ao final do ano que nos traz nada mais nada menos do que o Natal. Algumas pessoas comemoram a data com tudo o que têm direito, outras nem tanto. Há pessoas que nem mesmo comemoram o natal, dependendo do que este significa para cada um. Porém, quando falamos em natal ou vemos o natal na televisão, seja por propagandas ou em séries e filmes a data sempre vem vinculada à esperança. Mas de que esperança estamos falando? Em pleno século XXI no que é que temos esperança propriamente? Cabe a nós, nesse momento, fazer uma pequena reflexão do sentido dessa palavra por meio de filmes e histórias que nos são conhecidas e até mesmo clichês, mas que não deixam de nos mostrar algo de fantástico sobre nós mesmos. Obs: De qualquer modo não se preocupem, acredito que não farei com que passem por alguma tortura tal como a sexagésima reprise de A Lagoa Azul. Sendo assim, prossigamos.
O Natal, como o conhecemos, representa a data em que Jesus teria nascido, o que para o cristianismo significa a base de tudo o que se acredita, isto é, que Jesus, o salvador, veio enfim resgatar as almas de seus filhos e conduzi-las para a eternidade ao seu lado. Assim, de acordo com nossas comemorações no ocidente, em primeiro lugar, podemos pensar em esperança de salvação, de algo mais fora desse mundo terreno e que seria muito melhor do que aqui temos, esperança de vida. Acredito que já a partir dessa esperança podemos extrair outras faces do Natal que são representadas no cinema, televisão e literatura. Uma dessas faces, por assim dizer, seria a da esperança de ser uma pessoa melhor, o que vem basicamente do conto Um Conto de Natal de Charles Dickens. A história, para quem ainda não se recordou, é aquela dos três fantasmas do Natal passado, presente e futuro que trazem diversas perspectivas da vida de Scrooge a fim de mostrar ao protagonista em que ele se transformou e como ele terminará os seus dias, uma vez que Scrooge era um homem muito avarento, mesquinho e ligado demais as coisas materiais. Assim, a história prioriza as relações entre as pessoas e como estas são o que decidem nossa felicidade ou miséria, dependendo de como as conduzimos, relações essas das quais já falamos ao longo do ano aqui no quadro. Dessa maneira, a esperança de atingir algo melhor do que nossas vidas cotidianas permanece no sentido da palavra, que entretanto, se liga mais ao sentido terreno de relações entre pessoas, uma vez que isso também importa quando e se desejamos paz de espírito.
O conto aqui citado também nos importa na medida que apresenta várias adaptações para o cinema tais como O Adorável Avarento de Ronald Neame, Os Fantasmas de Scrooge de Robert Zemeckis, Conto de Natal de David Hugh Jones e Os Fantasmas Contra-atacam de Richard Donner, sendo o último mais próximo do gênero comédia. Dentre os quatro filmes, ao menos um a maioria já deve ter visto em algum momento de suas vidas, tendo em conta o quão memorável e ainda recorrente a história de Dickens se faz. Para aqueles que ainda não conhecem algum deles vale a pena aproveitar o clima de festividade e dar uma conferida.

Partindo daqui, e talvez seja um salto precipitado, penso no Natal do século XXI, este nosso mesmo. É impossível negar que a data serve cada vez mais ao mercado, e que por vezes, infelizmente, pode nos causar mais estresse do que traz esperança. É isso o que nos mostra filmes como Um Sequestro de Natal de Ron Underwood, Férias Frustadas de Natal de Jeremiah S. Chechik e Meu Papai é Noel de John Pasquin, que apesar do tom jocoso, nos lembra muito do trabalho que temos para deixar tudo pronto e perfeito para todos no dia do Natal. Pensando em nossa palavra tema, podemos concluir que a esperança aqui é a de que todos fiquem felizes na data, independente do que aconteça. Partimos então das nossas primeira e segunda concepções de esperança e levamos isso ao extremo, ao lugar em que essas conceções na verdade não se encaixam e acabamos criando uma terceira, a esperança de que tudo saia como o planejado ou de maneira que todos fiquem satisfeitos (daí também as nossas longas listas de desejos e objetivos para o ano novo). Assim, para as famílias em geral o natal pode significar união e troca de presentes, bem como uma bela ceia, a famosa ceia, já que muitas dos nossos momentos se centram em comida, outro dos nossos temas já abordados. Ainda a respeito dessa mercantilização da data é legal conferir O Natal do Charlie Brown de Bill Melendez, que trata do tema mais diretamente.
Entretanto, nem todas as famílias ou pessoas podem dizer que o Natal se baseia nisso, na esperança de ser melhor ou de que tudo seja bom. Por vezes, a esperança pode ser somente permanecer vivo, tal como nos mostra o filme Feliz Natal de Christian Carion, que coloca o Natal em meio a uma situação que pode nos parecer incomum dependendo de onde nos encontramos, que é a das trincheiras da Primeira Guerra Mundial, ou seja, um ambiente hostil e perigoso. Não só outra concepção da nossa palavra aqui buscada, mas uma outra visão de vida é aqui colocada: a de que mesmo quando as situações não dependem de nós, podemos apelar para a gentileza e ao que temos de comum com os outros, tudo, no filme, ampliado por essa esperança de vida que o Natal nos traz. Creio que a esperança aqui é a que mais se aproxima do que chamamos “verdadeiro sentido do natal” que na verdade é o sentido do que é mais simples na vida: a própria vida.

Assim, mais do que relações com nossos semelhantes – que também é mostrado no filme citado acima – e do que festas, o Natal ou nascimento de Jesus é o dia de pensarmos que somos possuidores de um espírito e de uma consciência, de uma vida na qual podemos decidir que caminho tomar, o que pode trazer consequências em nossas vidas relacionadas aos outros sentidos da palavra esperança que aqui foram expostos, ou ao menos podemos tentar lidar da melhor maneira com o que não depende da nossa escolha, mas afeta a nossa vida. Podemos então juntar as facetas da palavra e trazer uma complexa porque simples definição: o Natal traz esperança de que possamos continuar a lembrar não só do sentido verdadeiro do Natal, mas o sentido verdadeiro de nossas vidas, do motivo de estarmos em determinada hora e local fazendo o que fazemos. Outros filmes que mostram um pouco dessa esperança são De Ilusão também se Vive de George Seaton, A Felicidade não se Compra de Frank Capra e O Quarto Sábio de Michael Ray Rhodes, filmes que são muitas vezes esquecidos, mas que refletem o que de melhor há nessa época do ano, certamente que não árvores e luzes, mas uma visão da vida que nos amplia como seres humanos, e que pode evitar um Natal e vida trágicos como o do episódio "White Christmas" da série Black Mirror, o que também seria uma boa não? Mas daí já entramos em outra reflexão...melhor deixarmos para o próximo ano. Um Feliz Natal do Temática DDS para todos os seriadores, cinéfilos e leitores desse nosso mundo.