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Title: A ESCRITA E OS LIVROS #1- YOKO OGAWA: HOTEL ÍRIS
Author: Diário de Seriador
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Esta é a história de Mari, uma jovem de 17 anos que trabalha quase em tempo integral para sua mãe em um hotel. Ela conhece um homem mais vel...



Esta é a história de Mari, uma jovem de 17 anos que trabalha quase em tempo integral para sua mãe em um hotel. Ela conhece um homem mais velho, um tradutor de romances russos, que mora em uma ilha próxima e é cercado de rumores sobre ter matado a própria esposa. Ela se apaixona por ele. E seu desejo é tão grande que, mesmo diante do sofrimento que o tradutor lhe inflige, ela o procura dia após dia. Por que uma jovem bela e delicada precisa tanto desse arrogante e perturbado amor?




“Cala boca, sua puta. Disse a mim mesma que ainda não tinha ouvido uma ordem ressoar de um jeito tão bonito. Dele emanava sangue-frio, majestade e convicção. Até mesmo a palavra “puta” tinha um tom encantador”. (p. 11) 

É por meio dessa citação de “Hotel Íris” que iniciamos a abertura a este livro, escrito por Yoko Ogawa. 

Publicado pela primeira vez no ano de 2003, no Japão, sob título ホテル・アイリス(Hoteru Airisu), logo de início o livro já destoa um pouco das temáticas corriqueiras que Ogawa costuma se debruçar. Desta vez, não são elementos como a memória, a decrepitude da vida, o tempo, todos temas que são muito abordados e visitados nos trabalhos da autora publicados também aqui no Brasil. 

Hotel Íris ganha sua primeira e única tradução feita a partir do francês para o português em 2011. Na época, Ogawa já tinha um vasto número de publicações fora do Brasil, porém, esse foi o primeiro livro da autora a adentrar o nosso território tropical. Ogawa trabalha com ficções e não-ficções, sua temática geralmente envolve  assuntos que à primeira vista podem causar um certo estranhamento por parte do leitor, mas que fazem sentido em suas narrativas. Quem lê consegue perceber a maestria da autora em tornar um tema forte em movimentos ainda mais profundos, capazes de permitir inúmeras reflexões sobre seus textos. Com Hotel Íris não seria diferente, apesar da temática mudar. 

A história narrada em primeira pessoa através da personagem Mari: seu nome é simples, pequeno, fácil de se recordar, fácil também de se aproximar. Dessa maneira, Ogawa tenta transcrever a passagem de Mari de maneira fluída, mas com um ar de irritabilidade, um ar de questionamento. A autora possui um mecanismo seu de tentar ao máximo prender o leitor com seu enredo tranquilo, mas que por debaixo dos panos, nas entrelinhas, vamos concatenando as ideias para perceber a imensidão que seu trabalho possui. 

De início é de se assustar que nós, enquanto leitores, nos deparemos de cara com a utilização de jargão “sua puta!” direcionado exclusivamente a uma personagem feminina e comecemos a ponderar: o que aconteceu? Qual será a reação dessa mulher? Ficamos curiosos quanto a isso, e esse é o ponto chave da narrativa de Ogawa. Através desse simples linguajar ela é capaz de nos proporcionar subjetivamente aquilo que Mari mais deseja. Se puta foi a palavra que a causou sentimentos conflitantes, é por meio dessa mera palavra que conheceremos as profundidades de Mari. Nos debruçamos na narrativa de uma personagem feminina que não vê problemas em se submeter a um homem mais velho, pois ela subverte a questão da submissão ao prazer dela. Não é o homem que está colocando-a como submissa, é justamente o contrário, pois o tradutor, esse homem mais velho, é apenas uma peça crucial para a exploração e desejo sexual, carnal de Mari. Este homem não passa de uma engrenagem para que Mari, nessa relação par, consiga concluir seu ato sadomasoquista e masoquista ao mesmo tempo. 

Por meio desse enredo de Ogawa vemos algumas questões como o suspense e a curiosidade que perpassam a morte e o silêncio. Estar em silêncio também não é uma maneira categórica de significar a morte? Assim podemos pensar através desse romance. O livro é composto por treze capítulos ao todo, número suficiente para fazer você se perder na ilha em que o Hotel está localizada. Tal como quase todas as outras personagens, a ilha não possua nome, a única a ser nomeada é Mari. Dessa forma, o leitor é capaz de se aprofundas em inúmeras narrativas através do mecanismo proposto por Ogawa. Ela não é a primeira a fazer isso, porém, ela se apega a essa façanha justamente para tornar a nós, leitores, críticos e reflexivos sobre quem são essas pessoas. Seria ela eu, seria ela você? Seria nós? Tudo é possível.


 AUTORA: Yoko Ogawa

 TRADUTOR: Rubens Figueiredo
 PÁGINAS: 320
 EDITORA: Intrínseca
 LANÇAMENTO: 2015
 ONDE COMPRAR: Aqui







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