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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: NÃO VERÁS PAÍS NENHUM: O FUTURO?
Author: Jéssica Ohara
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  Durante muitas décadas a poesia A Pátria, de Olavo Bilac, foi lida, decorada e recitada pelas crianças brasileiras. Os versos iniciais diz...

 



Durante muitas décadas a poesia A Pátria, de Olavo Bilac, foi lida, decorada e recitada pelas crianças brasileiras. Os versos iniciais diziam: "Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!/ Criança! Não verás nenhum país como este!" Não deixa de ser uma ironia cruel encontrar o verso bilaqueano adotado como título (e com seu significado virado pelo avesso) de um dos romances mais devastadores e pessimistas da literatura brasileira, o oposto do róseo otimismo do poeta das estrelas, Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão. Enquanto gerações de crianças brasileiras recitavam o poema de Bilac, o país (aliás, em sintonia com o mundo) ia acelerando, lentamente, o seu processo de autodestruição, com a devastação das florestas, o acúmulo de lixo, a degradação do meio ambiente, a que se juntou, nos últimos tempos, à destruição da camada de ozônio do planeta, projetando perspectivas sombrias para a humanidade. Romance apocalíptico, no sentido de contar uma história do fim dos tempos, Não Verás País Nenhum se desenrola em um futuro não determinado, mas cada vez mais presente na realidade do brasileiro. Uma época terrível, na qual a Amazônia se transformou em um deserto sem nenhuma árvore; onde "O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne em poucas horas"; onde a carência de água impõe a reciclagem da urina, bebida pelas pessoas. A administração do país chegou ao caos. Governantes medíocres, cada vez mais afastados do povo, interessados apenas em vantagens pessoais, uma polícia corrupta e assustadora. No meio desse mundo sombrio, uma história de amor, na qual o autor sugere que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto o bicho-homem alimentar esperanças e for capaz de gestos de generosidade



Eita, livrinho duro! Eu demorei quase três anos pra terminar esse livro, mas não se engane, não é por ele ser ruim, mas por ser realista até demais. Nesses tempos tenebrosos de Bolsonaro que estamos vivendo, não consegui continuar a leitura na época que comecei. Não verás país nenhum é denso e pujante ao te apresentar um país destruído por mentiras, é impossível ter esperança que aquele futuro ficticio termine de um jeito bom. Ou seja, uma leitura nada feliz.

Esse ano resolvi retomar livro e acabar com velhas pendências. Não estava mais tão frágil como antes e consegui manter um ritmo de leitura sem que isso acabasse com o meu emocional. Mas por que a obra de Ignácio Loyola de Brandão é tão pesada? Primeiro que estamos falando de uma realidade próxima, um Brasil que destruiu suas florestas, desertificou o que pôde e abandonou os mais frágeis a potências estrangeiras. Nada muito distante.

Na história, acompanhamos Souza, um homem na meia idade casado a 32 anos com Adelaide. Ele é teimoso, orgulhoso e metódico. Ela é acanhada, religiosa e assustada. Essa é a primeira impressão passada pelos dois, pessoas comuns, sem grandes ambições que estão só tentando sobreviver. Tudo muda qnd um futuro aparece na mão de Souza, a princípio ele é pequeno, não provoca dores nem chama muita atenção. Conforme o tempo passa, uma simples mudança da rotina conhecida do casal faz com que tudo o que era conhecido e estabelecido antes se desfaça no ar.

Souza passa a perceber toda a sua acomodação e tenta analisar o que levou o país a tremenda tragédia. Um professor acostumado aos porquês vai enlouquecendo ao poucos ao entender que talvez seja tarde demais para reclamar. Souza passou a vida toda esperando por uma mudança, sem ao menos tentar mudar. Ele só esperou e deixou de viver. 

Podemos tirar muitas reflexões do livro, mas pra mim a importância foi a atualidade dos temas abordados. A cada tragédia vejo que estamos mais perto do Brasil das grandes marquises de Loyola do que do mundo de Mann.

 
 

 AUTOR: 
Ignácio Loyola Brandão
 PÁGINAS: 379
 EDITORA: Global
 LANÇAMENTO: 2001
 ONDE COMPRAR: Aqui





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