Vampiros são seres muito bem conhecidos por nós. Misturam várias características, algumas vindas do passado, outras mais recentes. De uma maneira ou outra acabaram mudando muito desde sua origem, apesar de algumas características relacionadas à esses seres terem se mantido ao longo da história, como a madeira, arma poderosa contra estes. Assim, aproveitando esse mês de horrores, seria bom resgatarmos alguns fatores e suas origens como o alho, o ser convidado para entrar na casa de alguém, ou então a tão polêmica questão do sol e sua consequência para os vampiros, além de alguns tipos de vampiros com os quais nos deparamos na televisão e na literatura. É importante lembrar que nem todos os vampiros serão abordados, mas que cada um deles contribui para ampliarmos nosso entendimento sobre esses seres de outro mundo, que, entretanto, estão tão presentes em nosso meio.
Diferentemente do zumbi, o vampiro nasceu na literatura, mais especificamente no poema de Ossenfelder intitulado “Der Vampyr”, em que o vampiro surge como um ser de outro mundo que conduz o indivíduo, no caso uma moça, ao caminho oposto do sagrado. Porém é só com o vampiro de Polidori que se originou o vampiro que hoje conhecemos: aquele com características sedutoras, que encanta e convence as pessoas na realização de seus desejos. É uma narrativa muito importante, portanto, pois constrói a imagem de vampiro que perdura até hoje em algumas séries e romances como em Buffy, a Caça-Vampiros, True Blood, The Vampire Diaries, a saga Crepúsculo e nos vampiros de Anne Rice. Em Carmilla de Le Fanu vemos a introdução da questão de que o vampiro necessita ser convidado para entrar em qualquer casa. É interessante ver como isso ainda permanece atualmente, visto que a narrativa data de 1987. Também é preciso notar que a personagem vampírica protagonista se trata de uma mulher, diferentemente da maioria dos vampiros atuais, que mesmo quando são mulheres, o são por questão de terem se convertido em vampiro graças a outro vampiro, quase sempre, homem. Esses textos citados são a base para a construção do vampiro que conhecemos hoje, que mesmo sofrendo algumas alterações por vezes consideradas bizarras, continuam apresentando essas características de ser mágico e místico de outro mundo, sedutor e encantador.
Daqui podemos partir para o nosso mais famoso vampiro da literatura e do cinema: o conde Drácula. O romance de Bram Stoker é um clássico do vampírico e trouxe um vampiro não somente sedutor, mas apaixonado e assustador como sempre. É no romance que vemos a introdução do alho como artefato de combate aos vampiros, mesmo não tendo sido tão bem explicado, e um tanto quanto esquecido atualmente. Também temos o morcego como realização animal de Drácula, o que, mais uma vez, não se utiliza recentemente. Em relação ao cinema, temos três filmes importantes relacionados ao romace de Stoker: Drácula de Tod Browning, Drácula de Bram Stoker de Francis Coppola e O Vampiro da Noite de Terence Fisher, sendo o primeiro mais fiel ao romance e os dois últimos variações deste.

Os vampiros de Anne Rice, Lestat e Louis, e principalmente Louis, são bem complexos e cercados pela crise existencial de ser um vampiro em meio à humanidade. São pálidos e sempre sedutores, e não andam na luz do dia, o que mantém a tradição do vampiro original. O filme Entrevista com o Vampiro de Neil Jordan, adaptado do romance, é muito bem feito e capta bem a essência desse tipo de vampiro mais ligado ao psicológico do que ao puro terror, se distanciando do vampiro puramente monstro e das trevas e aproximando-se mais do vampiro-humano, uma vez que o protagonista é um vampiro recente, que até então só lidava com problemas e situações pertencentes ao universo humano.
Além do vampiro mais próximo do humano que vemos na maioria das séries e filmes que abordam a questão, temos aqueles filmes que brincam com o vampiro utilizando de suas próprias características como em Sombras da Noite de Tim Burton e O Pequeno Vampiro de Uli Edel. No primeiro, a tradição vampírica é levada aos seus excessos, mostrando Barnabás como um vampiro desajeitado e reinserido na sociedade vinte anos depois de seu tempo, que tendo que dormir em um caixão e conviver com novidades que lhe aparecem, leva à comicidade o fato de ser um vampiro. Já no segundo filme temos a figura desse ser das trevas transformada em uma criança como qualquer outra, a não ser pelo fato de ser um vampiro, mas que se dá muito bem com humanos. Assim, confirmamos a imagem mais humanizada e menos monstruosa do vampiro que vem se construindo ainda hoje como um, e não único, dos caminhos pelo qual esse ser se desenvolve.
Qual então seria o outro caminho? Esse seria o grotesco ainda puro, ao vampiro ainda como monstro. Isso pode ser encontrado em filmes como Deixe Ela Entrar de Tomas Alfredson, A Hora do Espanto de Tom Holland que já tem seu remake de 2011 por Craig Gillespie e Um Drink no Inferno de Robert Rodriguez, em que o vampiro é mais monstruoso do que o comum e se difere inclusive do original, do vampiro como o conhecemos.

Em meio a esses caminhos pelo qual acredito que nossos vampiros vêm se mostrando ainda vale a pena citar aqui Blade, o vampiro herói que além de não ter relação com a luz do sol, se torna vampiro de maneira diferenciada, por contaminação, o que se aproxima mais de vampirismo como doença do que vampirismo como maldição. Também temos uma tendência recente em misturar vampiros com lobisomens, seja lutando uns contra os outros, seja em forma de híbrido, o lobisomem e o vampiro em um ser único. Isso é possível de ser observado em filmes como os da saga de Anjos da Noite e séries como The Vampire Diaries, True Blood e a saga Crepúsculo já mencionados. Atualmente, não só na questão de Crepúsculo que leva isso ao extremo, mas mesmo em outras séries já se admite que o vampiro ande no sol, como, por exemplo, por questões de magia, o que envolve a bruxa também. Outros seres do sobrenatural aparecem muito ligados aos nossos amigos vampiros hoje, que raramente é visto em uma série como o único ser mágico da história. A não ser, creio eu, na série mais recente sobre o assunto, e que traz uma versão até então não vista do vampiro: The Strain, baseada na trilogia de romances de Guillermo Del Toro e Chuck Hogan, e que narra uma espécie de apocalipse vampírico. Aqui, os vampiros, ou melhor “sugadores de sangue” pois que diferem imensamente dos vampiros que conhecemos, são monstros surgidos de uma espécie de praga que se espalha através de um verme, tendo como responsável o Mestre, o vampiro-mor. Também em séries como Penny Dreadful vemos os vampiros como monstros que seguem um suposto mestre maior do que eles, mestre que se encontra nas trevas, no desconhecido. Essas séries nos trazem o elemento do estranhamento em relação ao que conhecíamos como a imagem icônica do vampiro das últimas décadas, pois que os mostra muito mais misteriosos do que o comum, trazendo o elemento do pavor e do desconhecido acima do humano ou do monstruoso, e no caso de The Strain, até mesmo um elemento mais científico, de doença, praga que se alastra na humanidade, além da prata como arma contra esses seres, que até então era somente usada no lobisomem.
Vimos, assim, um pouco da história dos vampiros, seres que merecem nosso reconhecimento, uma vez que estão há tanto tempo entre nós. Entre suas variações vemos que o vampiro se mantém como sobrenatural, como fora do comum, ora mais humano, ora mais monstro. Entretanto, ainda temos muito tempo à nossa frente, e a história do vampiro certamente não acaba aqui, assim como a tradição tende a ser mudada cada vez mais, apesar de ser o princípio de tudo o que conhecemos hoje a respeito dessa figura, como no filme mais recente sobre o assunto, Drácula: a História Nunca Contada de Gary Shore, que aposta na infância e na vida humana de Drácula, que até então era o nosso vampiro por excelência, isto é, o vampiro que surge como tal e assim permanece, sem nenhuma menção à sua vida anterior.