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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: LUGAR DE FALA
Author: Jéssica Ohara
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Eu estava realmente ansiosa pra falar sobre esse filme. Sendo a volta do blog, melhor ainda. Bom, eu não quero me gabar, mas vi a pré-estrei...


Eu estava realmente ansiosa pra falar sobre esse filme. Sendo a volta do blog, melhor ainda. Bom, eu não quero me gabar, mas vi a pré-estreia juntinho ~trinta fileiras de distância~ do Lázaro Ramos, então vocês já podem pensar um pouquinho na emoção desse dia. O filme foi baseado na peça de Aldri Anunciação, chamada Namibia, não!. Eu não fui ao teatro e nem tinha visto o trailer, mas sabia sobre o que era a história. E cara, foi muito bom ir sem saber nada pq o impacto foi gigante.

A história é sobre um Brasil no futuro que decide que os seus "mais melaninados" vão ter a oportunidade M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A de voltar a África. Afinal, não é de lá que a gente veio? Essa lógica completamente distorcida é usada para fazer um eugenia social nos moldes modernos. Como se fosse possível eliminar o negro da história do Brasil. Essa ação começa como um convite e logo se torna mais uma forma de opressão e perseguição do Estado com expurgo de negros a força.

No meio desse furacão, estão os amigos Antônio, Capitu e André., Os três vivem juntos e sentem todas as dores e belezas de ser um negro brasileiro. Antônio, advogado, e Capitu, médica, são casados e esperam logo começar uma família. Já, André, é um jornalista e militante que namora Sarah, uma mulher branca. Os quatro convivem bem e felizes até que essa tentativa de exterminio começa. Todos tentam combater de um jeito ou de outro e acabam se tornando o centro de um movimento de resistência de diversas formas.

A abordagem que o filme faz sobre o racismo é sensacional. Ele nos leva a ver aquele preconceito cotidiano, daquela vizinha que nos olha de cima a baixo, do segurança que só suporta a nossa presença, das pessoas que antes pareciam tão liberais, mas acuadas, não hesitariam em nos entregar. Lázaro faz isso com um contraponto das forças que nós conseguimos no caos: o povo preto que se une, os nossos amigos brancos que não nos abandonariam, aqueles que mesmo sem nos conhecer se arriscariam por uma causa. Apesar da intensa violência de um expurgo, Lázaro no mostra a esperança que só encontramos quando nos aliamos.

As atuações estão impecáveis, destaque pela participação de Alfred Enoch, ator anglobrasileiro, que fez sua estreia no cinema nacional, mas é mais conhecido por How To Get Away With Murder, no papel de Wes. Eu me surpreendi muito com o português dele, considerando que ele não viveu no Brasil, e na carga de emoção que ele deu ao personagem. Há dois monólogos dele no filmes que fazem com que qualquer um fique com suas pernas bambas.

Thais também é uma Capitu excepcional que representou bem a mulher negra que se vê em um lugar de elite e tem que se adaptar a ele, apagando parte de sua identidade. Tudo que ela teve que aguentar explode em um lindo monólogo que fala sobre todo o peso que a sociedade impõe sobre nós. Não menos importante, foi o maravilhoso Seu Jorge como André que não era um alivio cômico apesar de suas falas engraçadas, mas sim um militante que luta com as armas que tem, no caso dele, a voz e o poder de conquistar com as suas palavras. Ele foi um dos pontos altos do filme.

Por fim, Medida Provisória mostra o que o Brasil poderia ser se acreditasse nem que seja mais um pouquinho no seu potencial cinematográfico. Há muitas vozes a serem ouvidas e histórias a serem contadas. Pra mim, ver esse filme foi como uma lavagem na alma, em um país que destrói nossos sonhos a cada manchete, é importante ter algo que te motive a levantar a cabeça.

TRAILER MEDIDA PROVISÓRIA

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