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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: AQUELES QUE FICAM
Author: Jéssica Ohara
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Eu não li o conto que originou Drive My Car , mas conheço suficiente o trabalho do Murakami para saber que suas histórias entram profundamen...

Eu não li o conto que originou Drive My Car, mas conheço suficiente o trabalho do Murakami para saber que suas histórias entram profundamente na alma. Nessa adaptação, temos Kafuku, um ator e diretor de teatro que perdeu sua mulher, Oto. Ele é convidado para participar de uma residência artística em um teatro na qual poderia adaptar seu sucesso em Tio Vânia, de Tchécov, com o seu método. Kafuku mistura atores de origens diferentes em uma única peça, cada um podendo falar a sua língua.

O teatro disponibiliza uma motorista, Watari. Acostumado a dirigir o próprio carro, ele não gosta da ideia no começo, mas cede vendo que não teria outra escolha. Uma intensa relação começa entre os dois, não no sentido amoroso, mas num compartilhamento da dor. Watari perdeu a mãe em um acidente e se culpa por isso da mesma forma que Kafuku pela morte da esposa. Os dois, nas diversas viagens de carro, além de ouvirem a voz de Oto constantemente pela fita do carro que Kafuku sempre pede para tocar, estreitam seu laços através do puro silêncio, há um entendimento no olhar que nem precisa ser direcionado um para o outro.

Na adaptação, Kafuku escolheu para um dos papeis, Takatsuki, antigo colega de trabalho e amante de sua mulher. Ele tenta ver nele o que Oto viu para talvez recuperar um pouco da presença dela. O treinamento dos atores, o texto de Tchécov e a convivência com Watari, faz com que Kafuku, aos poucos, confronte seu demônios, perceba a sua dor. Ele sente que poderia ter mudado o passado e isso o impede de seguir em frente.

Em Drive My Car, nós percebemos que guardamos lembranças, tokens, não só para rememorar momentos felizes, mas para reafirmar a nossa culpa. A cada vez que Kafuku ouvia a fita, ele pensava no que havia perdido e cada vez que Watari olhava-se no espelho do retrovisor lembrava do que havia feito. É um ciclo de autopunição. Através do expurgo feito pelo texto da peça, as emoções extravasam e os dois percebem que não há mais como ficar preso a aquilo que não pode ser mudado.

Eu gostei em como Hamaguchi não retira a ideia de culpa dos personagens e sim, que é inútil deixar de viver por isso. O filme é longo (3 horas) e bonito, não achei ele pesado mesmo com a duração, você acaba por entrar no universo do filme. Pude entender quais eram as nuances que eu devia me atentar, ele esquenta o coração e dá vontade de superar alguns erros. É um dos melhores filmes do ano, mas não sei se vai levar a estatueta.

TRAILER DRIVE MY CAR 

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