Discutir
sobre o mundo tecnológico e suas consequências na sociedade e no comportamento
humano atual vem sendo um tema cada vez mais explorado pelo cinema. Antes mesmo
do belíssimo “Her” (Spike Jonze, 2013), esse aspecto fora discutido também pelo
argentino Gustavo Taretto através de “Medianeras” (2011).
Buenos Aires
é o pano de fundo e sua arquitetura é referência para o desenrolar da história
e das narrações em off dos protagonistas, fazendo paralelos sobre as descrições
da capital argentina e de como vivemos e agimos atualmente. Aqui, acompanhamos
a vida de um homem e uma mulher. Ambos vivem sozinhos em pequenos apartamentos,
e, por mero acaso, vivem em prédios que ficam de frente um para o outro.
Assim
acompanhamos o cotidiano dessas duas pessoas, tão próximas e que nem fazem
ideia da existência um do outro. Martín é um rapaz que se descreve com inúmeros
problemas psicológicos, é criador de websites e passa mais tempo em frente ao
computador do que deveria. Mariana é uma mulher que acabou de voltar para seu
antigo apartamento, já que acabou de terminar um relacionamento de quatro anos.
É formada em arquitetura, mas trabalha como vitrinista de uma loja e tem
claustrofobia.
Em diversos
momentos a vida dessas duas pessoas se encontra, mas seguem imperceptíveis um
ao outro. Enquanto isso, Mariana e Martín vivem seus dramas pessoais e vemos o
quão frustradas são suas tentativas de se relacionar com outras pessoas, como
se sempre houvesse um problema que não os permitisse esse tipo de felicidade.
O vazio na
vida de ambos chega a ser facilmente sentido, pois a direção acertou em cheio em
deixar o filme com um visual tão simples e em manter sua realidade tangível,
como um retrato de nosso próprio cotidiano solitário no centro urbano. E claro,
tudo isso acontecendo com uma trilha sonora excelente de fundo.
Além da
solidão, o uso da tecnologia é percebido no incômodo do uso de um celular
quando duas pessoas estão juntas, em como usamos as ferramentas do mundo digital
para nos poupar de sair de casa e de manter contato com as pessoas tamanha a
sua quantidade de funções, ou como acabamos ficando isolados sem ao menos notar
que esse processo já está em andamento.
Apesar da
carga melancólica dos personagens e do olhar perdido que cada um possui,
“Medianeras” não tem o objetivo de se manter apenas na crítica ao nosso modo de
viver. Temos o choro sincero ao assistir a cena final de “Manhattan” (Woody
Allen, 1979), uma conversa que é interrompida e mostra a beleza do acaso ao
comprar velas e o fim da procura pelo que se buscara há tanto tempo. Um filme
marcante pela sua simplicidade e pela sinceridade de seus personagens.