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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: [CRÍTICA] MEU PAI - O DESPEDAÇAR DA CONSCIÊNCIA
Author: Jéssica Ohara
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Vocês já se perderam alguma vez? Já sentiram o nervosismo de estar em um local desconhecido? Quando você tem que achar alguém pra perguntar ...

Vocês já se perderam alguma vez? Já sentiram o nervosismo de estar em um local desconhecido? Quando você tem que achar alguém pra perguntar onde você está, parece que toda a sua extroversão desaparece e só resta uma criança que perdeu os pais no mercado. Depois, quando você encontra o caminho certo, você sente o quão bobo foi toda aquela ansiedade. Mas, e se, você nunca achasse o caminho de volta? Se a cada passo você ficasse mais distante do objetivo?

Meu Pai é como uma viagem por um labirinto de memórias que você acha que conhece cada personagem e esquina, mas a cada virada muda alguma coisa e você já não sabe mais onde está. Pessoas que você nunca viu te tratam como se te conhecessem e de alguma forma, você sente que tem algo errado, mas não consegue entender bem o que é. Tudo está diferente e igual ao mesmo tempo.

A história segue, se assim posso dizer pois não é uma linha reta, a vida de Anthony com sua filha Anne. Ele já é um senhor idoso com muitas manias e um temperamento difícil. O filme começa quando a cuidadora se demite e Anne vai tentar entender o que aconteceu. O grande trunfo do roteiro é nos fazer acreditar, nessa primeira parte do filme, que estamos vendo como uma terceira pessoa ou o narrador. Mas, na verdade, estamos vendo pelos olhos de Anthony.

Ele tem Alzheimer e os sintomas logo ficam evidentes. O filme traz cenas que se misturam como se fizessem parte da mesma sequência temporal. Nós sentimos o que Anthony sente, ele não consegue diferenciar o passado do presente, os rostos se misturam e começa a esquecer fatos importantes da sua vida. Quando o personagem é apresentado, nós não simpatizamos muito, ele pode ser muito irritante e despejar sua raiva na filha. Mas a partir do momento que entendemos o que está acontecendo, percebemos que tudo faz parte da doença. Ele está angustiado porque não entender o que há de estranho.

A falta de conhecimento sobre o próprio estado foi o que mais me tocou nesse filme. Parece óbvio que em algum momento contaram a sua doença, mas tudo já está tão avançado que ele mesmo esqueceu. Dói muito ver a confusão nos olhos dele, aquele sentimento de desamparo tão estampado. O filme consegue incorporar na sua narrativa toda a confusão que Anthony sente, nos levando em ciclos e mais ciclos de ida e volta nas lembranças e acompanhando de perto a deterioração de sua mente.

Anthony Hopkins está magnifico no papel, criando uma personagem extremamente forte. O olhar dele transmite toda a consternação da história, seus gestos, posturas corporais vão acompanhando o caminho que a doença traça. Me emocionei com ele diversas vezes, a vontade de abraçar é imensa e a gente não consegue não pensar sobre o futuro com Alzheimer.

Olivia Colman representa todos os parentes que ficam para assistir aquela figura amada perder aos poucos a sua consciência. O peso de relações falidas por causa do cuidado constante, o medo de ser esquecida e o amor por alguém que mal a reconhece. Ela faz uma filha que não contesta mais o pai por saber da inutilidade do gesto. Ela sofre e está frustrada por não poder ajudar.  

O filme tem todos os méritos para estar na lista do Oscar. Em nenhum momento, ele decepciona em suas atuações, narrativas e fotografia. Tudo é belo e triste. 

TRAILER MEU PAI

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