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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: A MULHER DE PÉS DESCALÇOS: UM ADEUS ATRAVÉS DAS PALAVRAS
Author: Jéssica Ohara
Rating 5 of 5 Des:
O romance “A mulher de pés descalços” trata de maneira pungente dos conflitos enfrentados pelas mulheres na Ruanda das lutas fratricidas ent...



O romance “A mulher de pés descalços” trata de maneira pungente dos conflitos enfrentados pelas mulheres na Ruanda das lutas fratricidas entre as etnias Tutsi e Hutu, que culminaram com o ominoso genocídio praticado pelos hutus em 1994. Naquele momento, Scholastique Mukasonga, que é da etnia tutsi, já estava radicada na França, e viu à distância sua família ser dizimada. Escritora e ativista da diáspora negra, ela toma para si o chamamento para dar voz à dor e à perda, principalmente de sua mãe Stefania, cuja memória é homenageada em “A mulher de pés descalços”.

Só mamãe pra achar que no meio da pandemia eu precisava ler um livro sobre perda. E pior, perda sem despedida. Realmente, caiu como uma luva, minha terapeuta agradece. Eu estava realmente sem nenhum preparo pra esse livro, minha mãe mandou pelo correio só porque ela precisava enviar um cartão pra mim e por segurança o colocou dentro dessa história que ela já queria há um tempo que eu lesse. Situação Win-win.

Eu devo começar dizendo logo minha impressão final: é um livro pequeno demais pra conter tanta dor. Não falo isso como uma crítica, mas como um alerta. A história é autobiográfica, nela Scholastique Mukasonga conta um pouco da vida de sua mãe como uma tentativa de ressuscitá-la para enterra-la de forma digna. A mãe da autora junto com outros 26 membros da família foram assassinados no genocidio de Ruanda.

Stefania sempre pediu aos filhos que não a deixassem morrer descoberta, que era preciso que o último gesto de sua prole fosse cobri-la para que ela fosse com honra. Mas os filhos não puderam fazer isso, na verdade, boa parte dos filhos e netos morreram juntos com ela, a maioria a golpes de facão. Falo dessa forma seca porque é uma violência que precisa ser absorvida em toda a sua magnitude, não podemos esquecer.

O livro é uma reunião de lembranças de Scholastique tanto de sua mãe como da vida cotidiana no vários exílios que os Hutus impuseram aos Tutsi. A autora discorre sobre como eles sempre tentavam dar um jeito de se reconstruir e manter viva a própria cultura. Ela conta dos rituais que existiam pra casamentos, pra nascimentos e qualquer ato importante da vida de um de seu povo.

Não são sempre reminiscências felizes, o espirito da perseguição sempre rondava as suas cidades. Scholastique já começa o livro exatamente contando como sua mãe estava constantemente se preparando para a fuga e para que ao menos seus filhos sobrevivessem. E também como nada disso adiantou na hora derradeira. 

Considerando a tragédia humana que estamos, não é de se espantar que eu esteja sensível. Mas mesmo senão fosse pela atual situação, essa história é forte demais, não há como não se sensibilizar com o desenrolar dos fatos e nem pela irreversibilidade de toda a situação. Eu não sei se Scholastique conseguiu com esse livro dar a despedida que a sua mãe merecia,  mas que a partir de hj Stefania vive em mim, ela vive.


AUTORES: Scholastique Mukasonga
PÁGINAS: 160
EDITORA: Nós                                                                  LANÇAMENTO: 2017
ONDE COMPRAR: Aqui

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