Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Segundo os médicos, qualquer coisa perto de uma recuperação completa é improvável. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes, logo se veem envolvidos no que pode ser seu caso mais perigoso até então. Brady está de volta e, desta vez, não planeja se vingar apenas de seus inimigos, mas atingir toda uma cidade.
Em Último turno, Stephen King leva a trilogia a uma conclusão sublime e aterrorizante, combinando a narrativa policial de Mr. Mercedes e Achados e perdidos com o suspense sobrenatural que é sua marca registrada.
"O último turno" vem nos apresentar o desfecho da trilogia Bill Hodges (
Mr. Mercedes e Achados e Perdidos, clique nos títulos para as resenhas) e nos contar o que aconteceu (ou vai acontecer) com nossos velhos conhecidos personagens e nos apresentar alguns novos integrantes da trama também.
Ao contrário de Achados e Perdidos, onde tínhamos uma história paralela aos acontecimentos do primeiro livro da série, aqui somos levados de volta ao universo de Brady para ver o que tem acontecido com este personagem desde seu último ato de terrorismo no show do 'Round Here. Brady ou, se preferir, o Assassino do Mercedes, nos foi apresentado no primeiro volume da trilogia ao atropelar uma multidão que estava em uma fila de feirão de empregos. O final de Achados e Perdidos, por sua vez, nos mostra que Brady poderia estar um pouco diferente daquilo que imaginávamos, e nos deixou com água na boca para sabermos como seria o confronto final entre estes dois personagens.

Serei uma eterna fã do modo como Stephen narra suas histórias e constrói seus personagens. Bill, Jerome e Holly já são nossos velhos conhecidos e aqui podemos ver que a relação entre eles apenas se aperfeiçoou, principalmente se pararmos para nos lembrar de como era Holly em Mr. Mercedes e como ela está agora. A menina antes tímida e com dificuldade para interagir com as pessoas, aqui já possui verdadeiros amigos e uma personalidade bem mais aberta. Há crescimento pessoal e há crescimento de relacionamentos.
E há crescimento no vilão também. Brady ao descobrir todos os poderes que sua mente adquiriu (onde Telecinesia é apenas a ponta de um gigantesco iceberg) resolve se vingar não apenas daqueles que o deixaram naquele estado vegetativo e, até certo ponto, vulnerável, mas unir isso de maneira bastante impactante com aquilo que sempre foi sua obsessão: O suicídio.

Brady estava, de certa forma, vulnerável às mãos de um médico que abusa deste fato para usar este paciente que não gerava nenhuma empatia por ninguém, afinal, ele era um psicopata e que mal era capaz de se comunicar, como cobaia de seus experimentos. Acho incrível essa capacidade de Stephen de debater os mistérios que rondam a mente humana e ainda encontrar espaço para debater de forma bastante velada a questão de ética dentro de cada um.
A grande questão do livro é lutar contra um vilão que você não vê. Bill já imaginava que o estado do Assassino do Mercedes não era como este levava todos à acreditarem. Ele sempre afirmava "Eu sei que você está aí, Brady", mas era muito mais fácil para as pessoas presumirem que isso era fruto da obsessão de Hodges com este caso do que com a realidade. Algumas enfermeiras já diziam ter visto Brady mover objetos com a mente, ou ligar e desligar a torneira sem sair da cama. Muitas tinham medo dele. Mas ele estava vegetando, não havia motivos para se preocupar: Ele não pode machucar ninguém.
Até que Peter Huntley, ex companheiro de Bill Hodges, liga para o detetive após a morte de uma pessoa que estava envolvida no caso do City Center, com graves sequelas do atropelamento. Um homicídio seguido de suicídio onde toda e qualquer relação com o Assassino do Mercedes não poderia ser nada além, é claro, de mera coincidência.
A trilogia que, até então, vinha tendo cunho policial ganha seu lado sobrenatural de forma magnifica nesta obra, onde uma onda de suicídios ganha vida através de Brady e do aparentemente inofensivo aparelho Zappit. Na primeira obra desta série, Stephen já havia nos apresentado a tecnologia como um fator essencial para a trama e aqui, novamente, o elemento tecnologia é fator determinante. O autor, inclusive, teve ajuda para escrever os detalhes tecnológicos na obra (mas mesmo assim tomou algumas liberdades para que estes pudessem se integrar de maneira mais eficiente e clara na história).

Devido ao fato do narrador ser onisciente, é possível ter uma visão de todo dos personagens e de tudo que está acontecendo com cada um deles em determinados momentos. A narrativa em terceira pessoa alternando o foco, principalmente entre Brady e Bill, foi algo já utilizado nos livros anteriores da trilogia e funciona muito bem para o leitor, fazendo com que a leitura caminhe de forma bastante rápida onde as mais de 300 páginas passam tão depressa que você mal percebe que está chegando ao final da obra.
O embate final entre o detetive e o Príncipe do Suicídio não poderia terminar diferente. A forma como Stephen trabalhou a construção dos personagens nos mostrando cada falha e como as coisas haviam mudado nos últimos anos, como o peso da idade atrapalhando Hodges e os poderes de Brady, deixam a última parte do livro impossível de parar de ler até você chegar na última página desta história que não poderia ter saído de outra mente além da de Stephen King.
Para quem esperava que essa trilogia de King possuísse um foco mais policial, pode não ter gostado tanto do desfecho do livro que trouxe o sobrenatural (que eu tanto amo nas obras do autor) para cá de maneira bastante assustadora em um vilão psicopata muito bem escrito desde o primeiro volume desta série. Meu favorito desta trilogia permaneceu sendo "Achados e Perdidos" sem tirar qualquer mérito deste desfecho que foi muito bem desenvolvido do começo ao final.
Sentirei falta de visitar Bill, Holly e Jerome. Mas essa última visita valeu a pena (e muito).
"O pensamento que ocorre a ele é complicado demais, carregado demais com uma mistura de raiva e dor para que seja articulado. É sobre a forma como algumas pessoas jogam fora o que outros venderiam a alma para ter: um corpo saudável e sem dor. E por quê? Porque estão cegos demais, traumatizados demais ou voltados demais para si mesmos para ver além da curva escura da Terra até o próximo nascer do sol. É só continuar respirando".
TÍTULO: O Último Turno
AUTOR: Stephen King
EDITORA: Suma de Letras
PÁGINAS: 384
ANO: 2016
ONDE COMPRAR: Amazon
Livro cedido pela Editora Suma das Letras para Resenha.
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