Todo artista que se preze deve se acostumar com a fama e as consequências que ela traz. Deve rolar muita pressão à medida que seus trabalhos são lançados e são bem recebidos, consolidando a carreira e, assim, aumentando também as expectativas para os próximos. Imagina então o que esperar de uma dupla que lançou dois clássicos em menos de cinco anos? É, Scorsese e De Niro formaram essa dupla incrível, e sofreram juntos pela má recepção de “O Rei da Comédia” (1983).
Nesse filme, acompanhamos a história de Rupert Pupkin (Pumpkin, Putkin, etc), um comediante amador que quer se lançar no show business com a ajuda do consagrado apresentador de televisão Jerry Langford. Sua obsessão em se tornar um comediante famoso é tanta que, para isso, ele toma atitudes irracionais de uma forma tão natural que é difícil acreditar que aquilo seja possível.
Na verdade, Pupkin é um homem que vive sua própria ilusão. Durante o filme, presenciamos sua loucura através de diálogos que ele mesmo cria como se estivesse falando com artistas em um programa de TV, ou falando com Langford como se fossem grandes amigos e estivesse lhe ajudando com favores. Seus devaneios só são interrompidos por sua mãe, a qual não deve ter ideia do por que seu filho está dando gargalhadas e falando sozinho. Ao mesmo tempo, temos a personagem Masha, uma fã ainda mais louca por Langford, com um amor platônico que toma proporções absurdas, e que se juntará a Pupkin para chegarem até o apresentador, cada um com suas próprias intenções.
De Niro está inspiradíssimo na atuação de um homem que não mede esforços para conseguir o que quer. A carga de seu personagem é forte, aparentando ser uma pessoa solitária e que não já não consegue distinguir a imaginação do real. Acreditando ser um homem extremamente engraçado e com um grande potencial de sucesso, sua esperança em conseguir chegar ao topo é jogada ladeira abaixo quando sugerem que ele melhore sua atuação e quando Langford demonstra nenhum interesse por seu trabalho. Jerry Lewis, no papel do apresentador de televisão perseguido, também mostra outra faceta da celebridade, aparecendo desacompanhado em caminhadas pelas ruas da Nova York dos anos 80 ou em sua própria casa sozinho, sempre com uma expressão fechada e melancólica.
É difícil pensar que essa grande obra seja tão esquecida. Devo lembrar que em menos de cinco anos, De Niro e Scorsese lançaram “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, dois trabalhos que consagraram ambos, e são referência em termos de direção e atuação. “O Rei da Comédia” tem um título que sugere algo engraçado, mas aqui só temos um humor desprezível, que mostra a fragilidade dos personagens e o quanto são frustrados.
O filme ainda critica o tão procurado “cinco minutos de fama” que algumas pessoas buscam desenfreadamente e de como o público enaltece pessoas sem ter ideia ou se questionar a cerca de quem está ali sendo idolatrado através de uma imagem que mal conhecemos, e assim se contentam com os programas do show business americano que possuem sempre o mesmo roteiro, os mesmos artistas e as mesmas risadas falsas.
Não é fácil estar no topo. Scorsese e De Niro provaram um pouco de sua própria crítica ao estrelato, mas injustamente, pois esse é um trabalho espetacular e que será reconhecido por poucos que derem essa oportunidade.
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