Certa noite, o famoso ator Arthur Leander tem um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de Rei Lear. Jeevan Chaudhary, um paparazzo com treinamento em primeiros socorros, está na plateia e vai em seu auxílio. A atriz mirim Kirsten Raymonde observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto as cortinas se fecham, mas o ator já está morto. Nessa mesma noite, enquanto Jeevan volta para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados, e pela janela do apartamento em que se refugiou com o irmão, Jeevan vê os carros bloquearem a estrada, tiros serem disparados e a vida se desintegrar.
Quase vinte anos depois, Kirsten é uma atriz na Sinfonia Itinerante. Com a pequena trupe de artistas, ela viaja pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes.
Abarcando décadas, a narrativa vai e volta no tempo para descrever a vida antes e depois da pandemia. Enquanto Arthur se apaixona e desapaixona, enquanto Jeevan ouve os locutores dizerem boa-noite pela última vez e enquanto Kirsten é enredada por um suposto profeta, as reviravoltas do destino conectarão todos eles. Impressionante, único e comovente, Estação Onze reflete sobre arte, fama e efemeridade, e sobre como os relacionamentos nos ajudam a superar tudo, até mesmo o fim do mundo.
Eu já conhecia Estação Onze, mas nunca me interessei muito para ler até que vi o trailer da minisérie que a HBO está produzindo. Esse não costuma ser o meu caminho na escolha de um livro, ainda sim fiquei satisfeita que o tomei. Estação Onze é uma história pós-apocalíptica que fala sobre a Terra após uma gripe que dizimou as pessoas. Eu sei, um timing estranho pra ler.
No livro, a história é contada por diversos pontos de vistas em épocas diferentes. Nós teremos alguém contando como era a vida antes e depois da pandemia, essa em vários estágios. Englobando um período de quase cinquenta anos de história. Essa dinâmica é muito bem feita por Emily Mandel, nós não ficamos cansados lendo ou passando tempo demais em uma época.
No mundo pós pandemia, nós acompanhamos principalmente Kirsten e a Sinfonia Itinerante, um grupo de que decidiu que "sobreviver não era o suficiente" e passa pelas cidades formadas no que restou em uma parte dos EUA e Canadá encenando peças de Shakespeare. O que claramente é uma volta a origem desses textos teatrais. Nesse grupo, temos pessoas que vieram de diferentes contextos e aos poucos também dão suas lembranças sobre como foi sobreviver em um mundo que estava se arruinando.
Kirsten é parte da sinfonia como atriz. Ela já havia sido atriz mirim no mundo pré-pandêmico e convivido com Arthur Leander, um grande ator da época que mesmo morto será fio condutor da história. Através dele, ela recebe as revistas em quadrinhos chamadas de Estação Onze. Essas hqs acompanham Kirsten pelo resto da vida, com sua história tbm distópica, mas espacial.
O que eu achei mais bonito no livro foi como a autora escolheu explorar as emoções e pensamentos dos sobreviventes. As ações e fatos são muito importantes, mas os seus pesos dependem de como as pessoas vão reagir a eles. Nós temos grupo religiosos extremistas formados, temos pessoas que encontraram na arte uma saída, pessoas que entenderam o sentido de comunidade e outras que perceberam o poder da memória.
A leitura é simples e rápida de fazer. Eu admito que pode ser um gatilho para qualquer pessoa que tenha perdido alguém nessa pandemia. Recomendo fazer essa análise de consciência antes. Fora isso, a história é inspiradora e com muita leveza nos leva a lugares incríveis dentro e fora da gente.
AUTORA: Emily St. John Mandel
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