Torto Arado é um livro que eu tinha ouvido bastante falarem sobre, mas por incrível que pareça, eu mal sabia qual era a sinopse. Toda a informação que eu tinha era que o livro arrebataria meu coração e seria uma revolução no que eu conhecia na narrativa. Mas não foi isso o que aconteceu, Torto Arado não me deu aquela paixão alucinante que faz com que a gente fique até ás três da manhã lendo. O que ele me deu foi um velho amor, conhecido, que sabe como te capturar e manter aquele sentimento para além das 300 páginas. Ele me deu o realismo fantástico latino americano.
Itamar Assunção faz revolução, mas é ao escolher seus temas na realidade brasileira, que tal como em seu livro parece atemporal. O que Gabo e outros fizeram ao trazer a essência de sua cultura para os livros, Itamar faz com maestria e leveza. Nós estamos no recôncavo baiano e acompanharemos a saga familiar das irmãs Belonísia e Bibiana, duas meninas negras que nascem na Fazenda Água Negra. Ao lado de seu pai, Zeca Chapéu Grande, sua mãe, Salu, sua avó, Donana e alguns irmãos, ambas vão aprendendo o significado de ser quem são e da força, não do destino,mas do passado.
Na história, descobrimos como um ato de curiosidade muda as linhas das vidas das irmãs. Elas se entrelaçam entre si e com a própria terra que coabitam. Zeca é um poderoso conhecedor dos encantados e das curas, ele ensina a toda a sua família a ver o mundo de um jeito integrado entendendo o que a terra pode dar e o que ela demanda. Todos vivem ainda nos mesmos resquicios dos sistemas de escravidão, em um trabalho eterno para sobreviver.
Eu gostei muito de como o livro aborda a pobreza no seu cotidiano. Como alguém que já passou muitas dificuldades, me incomoda quando eu vejo retratos irrealistas do que é ser pobre e negro no Brasil, como se fossemos imagens de coitadismo digno de pena. Quando nada mais somos aqueles que mantém tudo de pé e não somos reconhecidos.
A constante dificuldade não foi algo que a família de Zeca se acostumou, mas sim aquilo que eles têm que viver. Não é como senão houvesse orgulho ou vontade de mudança. Cada personagem de Torto Arado é forte e não que ele se tornou forte pelo sofrimento, ele é o que é. Os papeis estão na mesa e cada um assume sua responsabilidade esperando pelo melhor momento para se ver livre e libertar.
O meu sentimento após a leitura foi um misto de doçura e tristeza, eu vi muitas histórias do passado de grandes figuras e até de minha própria família. É uma viagem sobre religiosidades e principalmente fé no homem, na terra e no entre.
Postar um comentário Blogger Facebook