Tendo como pano
de fundo a agitada cena musical de Nova York dos anos 1950, Terra estranha é um
retrato franco sobre bissexualidade e relações inter-raciais, publicado em uma
época em que esses assuntos eram tabu. Este romance de fôlego, publicado em
1962, tem como pano de fundo os clubes de jazz de Greenwich Village, em Nova
York, na década de 1950. Rufus, um baterista negro em decadência, se envolve
com Leona, uma mulher branca nascida no sul dos Estados Unidos. Dessa relação
complexa em sua origem, desdobram-se temas caros a James Baldwin, como raça,
nacionalismo, identidade, depressão e bissexualidade. Em Terra estranha, o
celebrado autor de O quarto de Giovanni constrói uma obra comovente, violenta e
apaixonada, cujos personagens tentam reverter a todo custo as barreiras da
segregação racial e das convenções burguesas em busca da felicidade e de si
mesmos.
E como prometido
uma nova resenha de um outro livro de James Baldwin. Para aqueles que não
lembram ou não conhecem, irei fazer uma breve apresentação dele. James Baldwin foi
um escritor que abordava temas pouco discutidos em sua época, no caso anos 50,
ele trabalhava temas como sexualidade e as diferenças de classes raciais nas
sociedades ocidentais. Trazendo personagens homossexuais e bissexuais que lutam
para ter espaço em uma sociedade que ainda não reconhecia seus direitos.
Não esqueçam: conheço muita gente que pôs fim a própria vida e que hoje anda pelas ruas, alguns pregam o evangelho, alguns estão no poder. Lembrem-se disso. Se o mundo não estivesse tão cheio de gente morta, talvez aqueles de nós que tentam viver não precisassem sofrer tanto.”
É sobre esses
temas que o livro vai falar. Ele passa em grande parte em Nova York e em alguns
momentos na França, Rufus é um dos personagens principais e com maior destaque,
é negro e um famoso músico de jazz que se envolve com Leona, uma mulher branca,
o relacionamento é afetado pelas questões raciais que Baldwin retrata com
bastante realismo e sensibilidade, essas questões também influenciam a amizade que ele tem com
alguns brancos e que também são personagens principais da história.
O fato de que algo aconteceu não significa que a pessoa saiba por aquilo por que passou. A maioria das pessoas não viveu de fato – mas nem por isso se poderia dizer que estavam mortos – algumas situações terríveis que aconteceram com elas. Simplesmente ficaram aturdidas com o golpe. Passaram a vida numa espécie de limbo em que a dor jamais é admitida ou examinada. A grande questão com que ele se deparava nesta manhã era se ele realmente havia ou não, em algum momento, estado presente à sua própria vida."
São eles:
Vivaldo, homem branco e com pretensões de ser escritor; Richard e Cass, casal
branco, ele é um escritor recém-publicado e ela uma dona de casa; Eric um ator branco
e bissexual que se mudou para a França em busca de um recomeço, após uma experiência
intensa em Nova York. E Ida que é irmã de Rufus e sonhar em ser cantora. Um
fato curioso é que ele e sua irmã, só se relacionam com pessoas brancas e são
obrigados a verem seus relacionamentos como algo não natural, sendo julgados por
causa disso.
Mas muitos outros seguiam invisíveis, transformados em alcoólatras ou drogados, ou haviam embarcado numa procura pelo psiquiatra perfeito; tinham casamentos rancorosos e se procriavam e engordavam; sonhavam os mesmos sonhos"
Um ponto muito
positivo no livro, além da escrita de Baldwin que me conquistou com o livro Se
a rua Beale falasse, é a construção dos personagens, pois são os mais reais
possíveis, com seus defeitos, preconceitos, suas complexidades, suas ideologias
que podem ser liberais ou conservadoras (essa última era mais comum naquela
época), seus fracassos e vitórias. O racismo e a homofobia que eram comuns na
época estão presentes e claro que nesses momentos fiquei triste e revoltada,
porque infelizmente algumas dessas cenas ainda acontecem. Outro ponto positivo é
como ele aborda as relações, sejam elas entre homens e mulheres ou entre
homens, sendo a segunda algo tão normal e natural quanto a primeira.
Os rostos de pessoas estranhas não tinham segredos, pois a imaginação não os envolvia em nenhum mistério. Mas o rosto de quem se ama é desconhecido exatamente por estar envolto em uma parte grande de nós mesmos. É um mistério que contém, como todo mistério, a possibilidade do sofrimento.”
O livro é
dividido em três partes: a primeira sobre a tragédia, a segunda sobre o amor e
a terceira sobre a vida. Narrada de forma linear, mas com algumas recordações
do passado. Possui muitas descrições e mesmo sendo detalhadas não são chatas ou
me deram vontade de pular, pois Baldwin consegue deixar tudo interessante com
sua escrita fluída. Com esse livro James garantiu seu lugar na minha estante e
no meu coração, todos precisam ler um de seus livros.
Muitas vezes havia pensado em sua solidão, por exemplo, como um fator que atestava sua superioridade. Mas pessoas que não eram superiores também podiam ser extremamente solitárias - e incapazes de romper com a solidão justamente por não terem ferramentas para entrar nela."
Título Original: Another Country
Autor: James Baldwin
Tradutor: Rogério W. Galindo
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 544
Ano: 2018
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