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Title: O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO E O CINEMA SINISTRO DE YORGOS LANTHIMOS
Author: Diário de Seriador
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Embora já tenha estreado nos cinemas internacionais ainda ano passado com premiere no festival de Cannes, onde foi vencedor do Palma de ...

Embora já tenha estreado nos cinemas internacionais ainda ano passado com premiere no festival de Cannes, onde foi vencedor do Palma de Ouro de melhor roteiro, o filme dirigido pelo grego Yorgos Lanthimos chegou aos cinemas nacionais dia 08/02 e veio, mais uma vez, para causar estranheza. 

Yorgos já tem seu trabalho reconhecido internacionalmente com o inesquecível Dente Canino (2009) e O Lagosta (2015), tendo sido este último indicado ao Oscar de melhor roteiro original. A estranheza do bizarro que ele costuma trazer em suas histórias já virou marca registrada e "O Sacrifício do Cervo Sagrado" não seria diferente. 

Relembrando Dente Canino, aqui a família volta a ser o centro das atenções. Steven Murphy (Colin Farrell) e o jovem Martin (Barry Keoghan), nos apresentam uma relação bastante próxima, porém, é palpável o toque obscuro que ela carrega. Steven, médico cardiologista, e Martin acabam se aproximando após uma cirurgia mal sucedida de Steven, e passam a se encontrar para almoçarem juntos, trocarem presentes e manterem uma certa conexão. As coisas começam a fugir de controle quando Steven resolve apresentar o garoto para sua família, composta pela esposa Anna (Nicole Kidman) e os filhos Bob (Sunny Suljic) e Kim (Raffey Cassidy). 


Inicialmente os diálogos do filme parecem bastante mecânicos (o que não é novidade para Yorgos) e simplórios, indo de conversas sobre limonadas à menstruação. A família de Steven é aparentemente a família perfeita, onde o marido ama a esposa e estes amam os filhos, porém, há muito para ser explorado dentro desse eixo familiar. Quando Martin para de receber a atenção que lhe era concedida por Steven, o garoto começa a demonstrar toda a obsessão descontrolada sobre a família. Para completar, ambas as crianças desenvolvem uma paralisia nas pernas, sem explicação médica aparente e, ao que tudo que tudo indica, isso está ligado à Martin de alguma forma. 

O Sacrifício do Cervo Sagrado é regado de cenas esquisitas e que podem causar reações bastante desconfortáveis para a audiência, mas o desconforto faz parte da experiência do filme. A cena entre  a mãe de Martin (Alicia Silverstone) e Steven, por exemplo, é uma delas. As próprias relações sexuais são demostradas de maneira bastante problemática, onde Anna se deita na cama completamente imóvel (simulando uma anestesia geral, como a própria personagem diz) para ter relações sexuais com o marido.


O título do filme é bastante metafórico e ligado ao mito grego da tragédia de Ifigênia e, caso você não o conheça, eu recomendo que você só procure saber sobre ele depois de assistir ao filme. O mito pode te entregar um pouco da história e, neste caso, é mais interessante ir e olhos fechados para acompanhar a narrativa.

As atuações do filme estão absolutamente sensacionais. Barry nos entrega um Martin que nos transmite uma sensação de agonia e impotência, mostrando uma obsessão doentia que acaba cegando o personagem. Nicole, mais uma vez, está brilhante em tela nos entregando uma frieza dentro da Anna que é absolutamente necessária para o andamento do filme. Colin, que está aqui mais uma vez como protagonista, nos mostra que ele se encaixa perfeitamente na direção do Yorgos (embora ele tenha ficado profundamente depressivo após esse filme, palavras do próprio ator!). 

Você observar como as atitudes e as decisões que Steven precisa tomar acabam influenciando as atitudes de todos os personagens, chega a ser assustador. Quebrar o paradigma da família perfeita, entender o que é, de fato, O sacrifício do cervo sagrado é uma verdadeira experiência. O filme tem uma pegada bastante tensa e a trilha sonora acompanha o filme lindamente. O final vai te deixar pensando e você irá formar, provavelmente, suas próprias teorias para explicá-lo. Confesso, que eu ainda estou tentando absorver e processar toda a história para formar a minha.

Acho que, de certa forma, o cinema desse cineasta grego gosta de brincar de aguçar seu subconsciente e você vai acabar pensando sobre coisas que nunca havia imaginado antes e por isso, talvez, eu seja fã do trabalho dele. O Sacrifício do cervo sagrado não vai agradar à todos os públicos, mas vai chocar quem de dispuser a assistir ao filme. Eu me senti principalmente intrigada e desconfortável e sim, caso tenha restado alguma dúvida, eu gostei demais!

Faz parte, da melhor parte, não saber como você vai reagir as cenas e o que elas farão você sentir. E não é esta uma das maiores magias do cinema?



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