Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são Bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.
Não acho que seja novidade para alguém meu amor por Stephen King, pela forma como ele escreve, descreve e nos apresenta seus personagens e histórias. Eu me sinto envolvida por toda a atmosfera que o autor cria. Porém, em Cujo, eu fui tomada por outras sensações como terror, agonia e tensão e isso não apenas em um capítulo, mas no livro todo. Talvez este tenha sido um dos livros do autor que mais me deu agonia no momento da leitura e que me deixou verdadeiramente triste e sentindo o final. Eu não esperava aquilo.
A história de Cujo se passa na pequena cidade de Castle Rock, no Maine, e essa cidade não é novidade para os leitores de King, não é mesmo? Zona Morta está mandando Olá <3 E aqui, embora a sinopse te leve a crer que terá os famosos elementos sobrenaturais clássicos do autor, o terror é com algo absolutamente cotidiano. Não há possessão demoníaca ou algo semelhante. Aqui existe apenas um elemento que causa todo o terror da história: Um cachorro que adquire raiva.
O livro aborda como tema central, fora a doença do cão, o lado humano. Os dramas familiares compõem a história, os porquês e nos levam a pontos que geram o problema e, também, podem solucioná-los. Neste livro enredos como traição, dificuldade financeira e relacionamentos abusivos/agressivos são trabalhados e a forma como Stephen descreve os personagens e histórias faz com que você se coloque no lugar dos personagens e sinta por e com eles.
Focando no melhor amigo no homem (ou não), Cujo é um são bernardo de 90 quilos e extremamente dócil e obediente. O cachorro conhecido pela cidade, era da família Camber composta por Brett (filho do casal), Joe (mecânico da cidade) e Charity que se encontrava dentro de um relacionamento bastante conturbado e até agressivo. A vida pacata do cachorro estava indo muito bem até que Cujo resolve perseguir um coelho, apenas para se divertir, e acaba indo parar em um buraco dentro da propriedade da família. A perseguição, que era para ser algo divertido, acaba tomando outro rumo quando ele é arranhado por um morcego no focinho e acaba adquirindo raiva. O cão que antes era tão dócil vai se tornar o maior pesadelo dessa cidade.
O clima de terror e suspense criam uma sensção de agonia gigantesca ao redor do livro, onde uma série de coincidências fazem com que tudo dê errado o tempo todo e parece que nada vai dar certo para os personagens. Ao mesmo tempo o narrador, em terceira pessoa e onisciente, nos dá a visão dos personagens sobre o que está acontecendo e também nos dá a visão do próprio Cujo.
A medida que a doença avança e que o cão vai ficando cada vez mais agressivo (matando pessoas à sangue frio e de maneiras bem cruéis), nós temos flashs dos pensamentos dele onde, logo no inicio da doença, ele tenta lutar contra o instinto por saber que as PESSOAS não fizeram nada contra ele, até no estágio avançado quando ele culpa qualquer um que apareça na frente dele por sua dor insuportável (e, sim, ele sente muita dor e incomodo o tempo todo). Cujo é nosso vilão, mas não por escolha ou por ser mal, o que faz com que você sinta pena dele da mesma forma que sente das pessoas que ele ataca.
A família Trenton composta por Donna, Vic e Tad acaba virando o ponto central da história e as pessoas que mais sofrem com a doença de Cujo. Tad é apenas uma criança, uma criança que via monstros no seu armário e não conseguia dormir a noite. Quando Donna acaba indo com o filho para a oficina de Joe Camber para levar seu carro para arrumar, seu terror começa. Não havia ninguém na casa dos Camber, exceto um cachorro de 90 quilos dominado pela raiva, fazendo com o monstro do armário de Tad praticamente ganhe forma a sua frente.
Se até antes disso a leitura é um pouco arrastada, é a partir deste ponto da história que a leitura avança rapidamente e você não consegue parar de ler. Você quer ajudar Donna e Tad, você quer saber o que vai acontecer, coisas que você acha que darão certo acabam dando errado e a agonia te domina. Pura agonia. Este é o sentimento que quase me sufocou lendo esta obra.
Mais do que a luta com demônios externos, este livro é uma luta com as dores internas de cada personagem. É como conviver com eles por um tempo, saber suas dores e dúvidas, sentir o quão perdidos e quebrados de alguma forma a maioria deles está e, perceber que este terror é real porque é palpável. É claro que Stephen extrapola, até porque isso é ficção, mas os elementos reais estão ali, para você ler e sentir.
O final do livro me deixou.....atordoada. Eu fechei o livro e não queria acreditar que aquilo que tinha terminado daquela forma, o que pra mim foi sensacional porque eu amo finais que te surpreendem de uma maneira ou outra. O final foi um choque e isso tornou minha experiência com o livro algo realmente bom.
A cerca da edição, Cujo era uma das obras de Stephen King estava impossível de achar em território nacional. Sua primeira edição aqui no Brasil havia sido publicada pela Editor Record (com o título de "Cão raivoso") na década de 80 e, até o ano de 2016, era uma raridade encontrá-la por aqui. A Editora Companhia das Letras, dentro do selo Suma de Letras resolveu, então, presentar os fãs de Stephen com o relançamento de Cujo dentro de uma coleção chamada "Biblioteca Stephen King", que irá reunir outras obras clássicas do autor que já não conseguimos encontrar tão facilmente, sendo este o primeiro livro publicado dentro da coleção.
A capa do livro é emborrachada e contém uma gravura da pata do Cujo em baixo relevo e a diagramação está maravilhosa de ler. Cujo é um livro diferente dentre os publicados por King e não apresenta uma divisão por capítulos, como se as pouco mais de 300 páginas fossem um capítulo único que conta toda a história.
Ainda, ao término da história, temos uma entrevista com o autor como um material extra do livro e, para quem é fã, a entrevista está sensacional. Nela Stephen se abre e nos conta mais sobre o que pensa sobre a versão cinematográfica de "O Iluminado", fala sobre o final polêmico de "Celular" entre várias outras coisas legais sobre suas inspirações e vida.
A obra como um todo é extremamente agoniante e vale super a pena leitura! O livro não acaba quando termina, uma vez que, você ainda fica se perguntando sobre tudo que aconteceu e pensando naquele final. A sensação é estranha, mas é uma sensação que você vai amar sentir.
Livro cedido pela Editora Suma de Letras para resenha ♥
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