Um dos autores de mais destaque no cenário da ficção científica, Ted Chiang pode ser descrito como um escritor pouco prolífico: tem apenas quinze trabalhos publicados, entre contos e novelas curtas. A pequena produção contrasta com sua expressiva quantidade de premiações: os oito textos reunidos em História da sua vida e outros contos ganharam no total nove importantes prêmios, dentre eles Nebula, Hugo, Locus, Sturgeon, Sidewise e Seiun.
Publicadas originalmente em volumes diversos, as narrativas de Ted Chiang estão pela primeira vez reunidas em uma coletânea. Entre as histórias dotadas de rigor científico, humanidade e lirismo estão “A torre da Babilônia”, na qual um minerador sobe a famosa torre com a missão de escavar a abóbada celeste; “Divisão por zero”, uma reflexão precisa e devastadora sobre o fim da esperança e do amor, e “História da sua vida”, na qual uma linguista aprende um idioma alienígena que modifica sua visão de mundo.
Com uma prosa límpida e ideias às vezes desconcertantes, Chiang comprova seu inegável talento para a boa ficção científica: a capacidade de contar uma história humana, extremamente bem escrita, na qual a ciência funciona como expressão dos questionamentos mais profundos enfrentados pelos personagens. Um livro repleto de ideias originais e passagens inesquecíveis.
Eu venho tentando começar essa resenha há muito tempo, mas sempre sinto que quanto mais eu penso sobre Ted Chiang, menos racional e em ordem meus pensamentos ficam. O que é um efeito bem perturbador considerando os temas desse livro. Queria ser mais formal e polida, mas a única expressão que me vem a mente é "desgraçou com a minha cabeça".Talvez isso se deva aos diferentes ângulos que cada conto aponta, muitas vezes para temas semelhantes, mas sempre de forma surpreendente. Algo que você parece que conhece de repente pode ser outra coisa dependendo de como você vê. Melhor, de como você pensa.
Há uma constante sensação de expansão da consciência no decorrer da leitura, e por mais pedante que isso pareça é o que realmente acontece. Como se a cada nova história ele nos perguntasse: E se fosse assim? E se tudo mudasse? E você pudesse ver além? E se nada fosse assim? A sua mente gira diante de todas as possibilidades incríveis que lhe são apresentadas e também das escolhas que teriam que ser feitas.
Em um momento você é normal e em outro você pode ver todos os padrões que conduzem o mundo. Ou você aprende uma nova linguagem e aí o tempo deixa de ser percebido da mesma forma. Ou você perde alguém muito especial e precisa ver a luz de Deus para reencontra-lá. Ou a ciência humana já não faz mais sentido já que criamos seres meta humanos melhores que nós. Ou precisam decidir se pessoas irão perceber ou não a beleza. Ou você pode fazer o verbo virar carne. Ou você pode encontrar um ponto sem volta na ciência pura e destruir sua vida por causa disso. Os contos não precisam ser lidos na ordem, na verdade, indico de que seja feita uma leitura aleatória para que toda a beleza das interconexões venham a sua mente. Para que você também possa ver os padrões.
Há uma complexidade em Ted Chiang que cada vez que você acha que chega perto de desvendar, tudo rui ao seu redor e você não tem mais certezas. Há a possibilidade de se sentir um pouco perdida após a leitura, como se houvessem tantos caminhos que o seu cérebro não consegue decodificar, mas mesmo assim fica aquele sorriso bobo no rosto de quem viu algo maravilhoso.
Eu tenho um problema com contos, me incomoda eles serem tão curtos. E eu passei a ter um problema muito maior com eles após ler Ted Chiang e depois descobrir que esse livro é quase 80% do que ele já escreveu. Oito contos não são o suficiente, Ted...
P.s.Como muitos sabem, A Chegada(que você pode ver a crítica aqui) foi baseado no conto História da sua vida. Veja o trailer abaixo.
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