Phil vive uma vida que ele ama com seu irmão Georgie. Os dois são bem sucedidos donos de gado e terras, ele está sempre na lida com os animais e respira o estilo de vida de um vaqueiro: bruto, sujo e místico. Ele é um "homem" de verdade. Ele construiu esse homem. Apesar de ter se formado com altas notas, ele decidiu tornar-se parte da terra. Tudo através de seu mentor Bronco Henry que desenvolveu suas habilidades e auto confiança.
Entretanto, Georgie não se sente feliz nessa vida de solidão, mesmo estando ao lado do irmão. Ele quer mais do que a brutalidade. Ao conhecer Rose, uma mulher forte, doce, gentil e elegante, ele sente que pode ter perto de si a beleza que a vida pode proporcionar. Rose é uma viúva que vive com seu criativo filho Peter, um jovem que quer ser médico seguindo o exemplo do falecido pai.
O primeiro encontro de Phil e Peter gera rusgas que se amplificarão durante a convivência dos três. Phil acha que Rose é uma golpista e seu filho, um afeminado. E decide botar neles toda a raiva de ter sua rotina doméstica abalada. Ele tortura Rose aos poucos, Phil gosta de salientar a inferioridade de Rose, ele quer que ela saiba que não deveria estar ali. E a crueldade de Phil se volta para Peter também, com constantes comentários jocosos, brincadeiras maldosas e seus olhares de nojo.
O filme todo parece seguir um homem ciumento que não admite que a sua vida possa ser diferente daquilo que ele planejou. Nós somos levados a ver Phil como um homem teimoso e raivoso, o que não deixa de ser verdade, só que não pela razão que acreditávamos. Phil está com raiva não porque Rose e Peter são intrusos, mas porque eles representam tudo aquilo que ele negou e conseguiu esconder em si durante todos esses anos. A presença deles põe em risco toda essa farsa de homem do campo e ele sabe disso.
A grande surpresa e o grande triunfo do filme não é a revelação da sexualidade de Phil. O medo de ser quem é, torna Phil cruel e capaz de levar uma pessoa a loucura só para manter seu segredo. Rose começa a se afogar na bebida e desistir de viver. E é Peter quem decide dar um basta nisso, essa é a grande virada do filme. É uma luta entre Phil que quer moldar o garoto da mesma forma que Bronco Henry fez com ele e Pete que se recusa a ser "domesticado". E nessa batalha, ganha o mais esperto.
Jane Campion subverte o que nós entendemos como caráter no roteiro de Ataque dos Cães, não é Benedict Cumberbatch, o protagonista, mas Kodi Smit-McPhee, como Peter. Ele que decide como vai levar sua vida e nada se colocará no seu caminho, os outros podem achar que o estão humilhando, mas ele não se afeta, ele sabe quem é e o que quer. Tem uma cena em particular que diz isso muito bem, quando ele está cruzando o acampamento, ouvindo todo tipo de provocação, mas a única coisa para a qual liga é o que está a sua frente, o seu objetivo, a ave na árvore.
Todas as atuações são excelentes. Kirsten Dunst prova que é uma atriz madura e capaz de interpretar vários papeis, deviam dar mais chances a ela. Benedict está perfeito como se no ápice de uma loucura. É engraçado que há poucas cenas de uma agressão física, mas há uma tensão no olhar de Phil que você sempre fica atento para quando vai explodir.
Não é a toa que Ataque dos Cães é o favorito ao Oscar. Ele não tem barrigas, nem personagens subutilizados, tudo é fechado e bem feito. A estatueta é quase dele, ou melhor, dela.
TRAILER ATAQUE DOS CÃES
Postar um comentário Blogger Facebook