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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: PELO PODER BRUTAL APRISIONADA, TERÁ ELA APREENDIDO O SEU SABER
Author: Jéssica Ohara
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Súbito, um baque: as grandes asas brancas Pousam sobre a jovem, e a agarram com jeito, As patas negras lhe afagam as ancas E a estreitam, i...


Súbito,

um baque: as grandes asas brancas

Pousam sobre a jovem, e a agarram com jeito,

As patas negras lhe afagam as ancas

E a estreitam, impotente, contra o peito.


Com dedos trêmulos, como afastar

Das coxas fracas o esplendor plumado?

E como não sentir a palpitar

O estranho coração, desabalado?


Um espasmo ― e eis que se gera um novo ser,

O muro rompido, a torre incendiadas

E Agamêmnon morto.

        Ali, fremente,

Pelo poder brutal aprisionada,

Terá ela apreendido o seu saber

Antes que a solte o bico indiferente?

(Leda e o Cisne, Yeats)


"Todo homem deveria ver esse filme". Foi essa a frase que eu ouvi em uma live aleatória e acabou ficando na minha cabeça. Só fui ter a magnitude do que isso significava quando me propus a assistir A Filha Perdida depois de umas semanas de hype. Eu finalmente entendi e concordei. Na saga de Leda, nós aprendemos o poder e o peso da maternidade nas mulheres e com isso os papeis que nos são impostos.

Leda é uma professora desfrutando de umas pequenas férias em uma paradisíaca ilha grega. Ela curte a solidão e seus livros, até que a sua rotina recém criada é perturbada pela aparição de uma família barulhenta, rude e disfuncional. Apesar de um aparente desprezo, Leda fica obcecada pela estonteante Nina e sua pequena filha Elena.

Durante o filme, nós entendemos que essa obsessão tem mais a ver com um reconhecimento. Mesmo com todas as diferenças entre as duas, Leda se vê nas atitudes de Nina, percebe como foi na sua juventude e tenta de alguma forma se lembrar do passado através dessa nova experiência. A partir daí, a a história alterna entre presente e regressões, nas quais conhecemos o que aconteceu com Leda e sua relação com as filhas Bianca e Martha.

Considero que o mais bonito nesse filme é como nós somos levadas em um primeiro momento a julgar a atitude dessas outras mulheres. Só que logo esse hábito é destruído, nós estamos próximas demais das personagens e percebemos que os "erros" delas são atos que qualquer uma de nós é capaz de fazer. Quem somos nós pra julgar? Quem nos deu esse direito?

Outro ponto que me marcou bastante, é que o momento que as mulheres estão mais sozinhas é quando elas estão juntas de seus parceiros. Nós vemos uma Leda jovem que se sacrifica, não porque ela quer, mas porque esperam isso dela. Esperam que ela aguente tudo por uma ideia de filhos. Não haja mais a pessoa Leda, somente a mãe.

Em nenhum momento, a história condena de alguma forma a maternidade ou julga outras mães. O que a diretora nos leva a ver é como as mulheres são presas pela instituição maternidade e que ninguém espera que elas reajam. Espera-se que elas aceitem. Espera-se que elas não tenham desejos e ambições. Tudo só pode ser feito dentro de determinada caixa.

Nesse caminho, Olivia Colman brilha em uma atuação na medida certa, mostrando uma mulher que não é perfeita. Eu sinto que é um privilégio poder vê-la atuando. Nas suas expressões encontramos todo um universo no qual nos reconhecemos. Já Dakota Johnson aparece mais apagada como Nina, não dando a personagem algo pelo qual ela possa ser lembrada.

Outra ótima surpresa, foi Jessie Buckley como uma jovem Leda. Ela estava perfeita no papel, conseguia dar tons diferentes para os seus momentos de alegria e os de tristeza profunda. Cada fibra dessa mulher foi feita para esse papel. A participação de Ed Harris foi pontual, mas suficiente para manter na memória cenas incríveis como a da dança.

A Filha Perdida é uma grande candidata para as próximas premiações.

TRAILER A FILHA PERDIDA

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