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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: [CRÍTICA] PRIMEIRA TEMPORADA - CENA DO CRIME: MISTÉRIO E MORTE NO HOTEL CECIL
Author: Jéssica Ohara
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  Como essa grande fã de mistérios e true crime que eu sou, nada mais normal do que ficar super ansiosa pela série documental que a Netflix...

 


Como essa grande fã de mistérios e true crime que eu sou, nada mais normal do que ficar super ansiosa pela série documental que a Netflix lançou: Cena do Crime - Mistério e Morte no Hotel Cecil. Pelo trailer, a história seguiria o desaparecimento de uma turista canadense chamada Elisa Lam em Los Angeles. Ela teria se hospedado no Cecil e de lá nunca mais teria saído. A princípio, pensei que essa era uma história de serial killer típica, mas ela é muito mais e melhor do que isso.

Tenho que falar logo que amei o documentário, não foi o melhor que eu vi por causa de algumas pequenas falhas e tal, mas mesmo assim me fez ficar horas amarrada a essa história. Na série, começamos pelo desaparecimento de Elisa e como se desenrolou a investigação, logo no início já nos é colocado o clima que percorreria toda história. O Cecil é basicamente um lugar maldito, já foi lar de serial killers, já houveram muitos suicidios, assassinatos, estupros, roubos e tudo o que você possa imaginar naquelas paredes (depois dessa série vou sempre procurar pela história do local antes de me hospedar).



O Cecil está localizado numa área do centro conhecida como Skid Row, nesse espaço estão os sem tetos, as prostitutas, as pessoas abandonadas com problemas de saúde mental, viciados, traficantes e vários outros tipos com vidas bem complicadas. A vizinhança é conhecida por ser perigosa, mas também por estar sofrendo um processo de gentrificação, nesse sentido duas realidades coexistem: turistas e pessoas com poder aquisitivo junto com os habitantes habituais da Skid Row.

Eu fiquei muito impressionada com a situação das  pessoas que vivem nessa condição indigna e são vistas como lixo pelas autoridades, é muito triste quando você percebe que os mais vulneráveis são preteridos em todos os lugares. Ficou claro que o problema não está só dentro do hotel e sim que ele é um reflexo estrutural da sociedade. O documentário acertou muito bem ao trazer pessoas que poderiam comentar essa situação e as suas consequências no Cecil.

A descrição de quem é Elisa Lam também foi muito boa, claramente a produção não teve acesso a família o que é perfeitamente entendível, afinal as pessoas não são obrigadas a reviver momentos traumáticos. Mas mesmo assim a pesquisa foi muito bem feita, mostraram uma jovem de 21 anos cheia de sonhos, com vontade conhecer o mundo e travando uma batalha diária contra a depressão e a bipolaridade. Eu fiquei genuinamente tocada com a escrita dela do Tumblr, ela é uma alma sensível capaz de analisar o mundo com muita sensatez. 



Depois que temos o contexto, vamos nos aprofundando no sumiço de Elisa  que se deu de uma maneira realmente peculiar. A última gravação das câmeras de segurança é dela no elevador e é aí que o bagulho fica doido. As cenas recuperadas pela polícia mostram uma Elisa comportando-se de maneira errática, fazendo gestos e movimentos estranhos e parecendo estar com muito medo. É um choque real ver esse vídeo, eu fiquei arrepiada todas as vezes que o vi por completo.

Essa estranheza toda envolvendo o desaparecimento deixou a polícia alerta, mas o abalo ocorreu mesmo quando o vídeo foi divulgado na internet e as pessoas enlouqueceram com essa história. Os fãs de true crime e investigadores virtuais começaram a atuar profundamente no caso, analisando cada peça da história e tirando as suas conclusões. O nível de empenho que esse pessoal colocou na resolução é admirável, foi uma onda de empatia com Elisa emocionante. Só que também teve os seus problemas e consequências.

Depois de 19 dias e uma reclamação dos hóspedes sobre a qualidade da água, um funcionário do hotel foi verificar a caixa d'água e ali Elisa Lam foi encontrada, flutuando, morta e nua. O local no mínimo inusitado do encontro de seu corpo junto com o vídeo bizarro do elevador deixaram os investigadores oficiais e virtuais em polvorosa, algo muito errado tinha acontecido e haviam poucas evidências do que poderia ter sido. O documentário fez um ótimo serviço ao mostrar como se deram as etapas da investigação e como cada ponto foi abordado, até mesmo ao trabalhar cada coincidência que atrapalha cada vez mais o caso.

Os episódios se desenrolam numa tentativa de esclarecer os fatos e as consequências da investigação. Aos poucos, vamos descobrindo que a saúde mental de Elisa era pior do que se pensavam, ela tinha muitas crises e nesses momento acabava ficando paranoica, achando que alguém a perseguia de alguma forma. Nos dias anteriores a sua morte, apresentou um comportamento errático, assuntando as suas colegas de quarto e levantando algumas suspeitas da equipe do hotel.

Quando o resultado dos exames toxicológicos chegam, nós temos a certeza que Elisa não estava usando a sua medicação corretamente e que os níveis estavam muito baixos. E é aí que nós sabemos o que realmente aconteceu. E Deus, como isso foi triste. Tudo indica que Elisa teve uma crise e entrou em estado paranoico, ela está fugindo de algo que só ela conseguia ver e ouvir, ela estava apavorada e tentando salvar a sua vida, mesmo o risco sendo apenas imaginário pra gente, era real pra ela. Ela subiu ao teto e acabou entrando numa das caixas para se esconder. Poderia ter havido uma chance dela sobreviver, se o nível da água estivesse alto, mas infelizmente não estava.

Outro resultado desse caso foi a reflexão sobre o linchamento virtual e suas consequências reais. Em algum ponto da história, os investigadores virtuais descobrem que um cantor de black metal se hospedou no Cecil, o nome dele de palco era Morbid. Suas letras eram fortes e falavam sobre morte, perseguição etc. A internet por alguma razão achou que ele era o assassino de Elisa, eles viram os clipes, o jeito que ele se vestia e se maquiava, de alguma forma acharam que isso combinava com um lado mal da força.

O que eles não perceberam de início era que Morbid, ou melhor, Pablo Vergara havia se hospedado no Cecil um ANO antes de Elisa e ele nem estava no país quando a morte ocorreu. Mesmo quando essa informação foi revelada o cyberbullying continuou, Pablo perdeu todas as suas contas nas redes sociais, pessoas o acusavam mesmo internacionalmente, perdeu contatos e a vontade de cantar. Até que ele perdeu a vontade de viver e acabou tentando se matar. Felizmente, ele sobreviveu, mas a vida não foi a mesma pra ele e até hoje vive com as consequências de pessoas irresponsáveis, que de alguma forma acham que são justiceiras.

Esse final me atingiu pessoalmente. Eu lido com a depressão e o TOC há muito tempo, eu sei um pouco do que ela sentir, dessa solidão e sensação de perigo. Também sei muito bem o que é o bullying. Poderia ser eu. Fiquei com raiva também, porque ninguém olhou para aquela menina? Porque não tentaram ajudá-la? É só uma conjunção de fatores ou descaso puro e simples?

Elisa Lam não será esquecida e que a história dela nos sirva de alerta para termos mais empatia, para tentarmos ir além do superficial e ajudar quem realmente precisa, às vezes não é um estranho, pode ser sua família, seus amigos, seu amor. 


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