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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: SOMBRA DE REIS BARBUDOS: DAS PROFUNDEZAS DO CÉU
Author: Jéssica Ohara
Rating 5 of 5 Des:
Publicado pela primeira vez em 1972, Sombras de reis barbudos foi tido como alegoria do regime militar brasileiro, ao contar a his...





Publicado pela primeira vez em 1972, Sombras de reis barbudos foi tido como alegoria do regime militar brasileiro, ao contar a história de uma cidade que recebe a Companhia Melhoramentos de Taitara, símbolo da modernidade. Aos poucos, porém, a empresa impõe uma rotina tirânica aos moradores.
Décadas depois de sua estreia literária, os críticos de José J. Veiga lançam nova luz à obra do autor, ampliando seu alcance. Embora tenham influência do realismo mágico, seus livros não se encaixam nessa vertente; exploram o universo infantojuvenil, mas vão além do romance de formação.
O leitor pode agora atestar por si só por que José J. Veiga é considerado um dos melhores autores brasileiros do século XX.


 A primeira vez que ouvi falar de Sombra de Reis Barbudos foi embaixo dos Arcos da Lapa, em um clima meio sombrio (e alcoólico), um amigo me contou sobre um dos seus livros favoritos, tendo um certo brilho no olhar ao lembrar. Eu gosto desse tipo de indicação. Na verdade, eu sou mestre em dar indicações sobre os meus livros desse jeito: cheia de empolgação, mneio gaguejando, quase obrigando a pessoa a ler e já doida pra discutir o que ela achou.

Quando soube que relançaram os livros de José J. Veiga, não foi dificil escolher meu próximo título. A história se passa em uma pequena cidade do interior de Goiás na qual vivem Lucas e os seus pais. A vida no local é bem pacata, chegando a ser monótona  até que Baltazar, tio de Lucas, retorna a cidade para fundar uma companhia, A Companhia de Melhoramentos de Taitara.

Aos poucos, esse novo empreendimento vai mudando a vida dos moradores substancialmente. Primeiro, para melhor com as pessoas conseguindo trabalhos e qualidade de vida, até que reviravoltas e a face mais autoritária da empresa se impõe, tornando a cidade o seu quintal e sua mina.

Ao invés de falar das claras metáforas políticas, do incrível desenvolvimento dos personagens ou da bela escrita, quero discutir mesquinharia, hipocrisia e poder. A chegada da companhia prometia mudanças profundas na sociedade, um novo rumo e esse seria conduzido por uma figura controversa, mas amada, no caso, o Tio Baltazar. É forte como Veiga demonstra que essa admiração se torna uma fonte inesgotável de inveja, não só para aqueles que querem muito poder e dinheiro, mas também para os cidadãos comuns, como o pai de Lucas que nunca se conformou com o sucesso do cunhado.

Por muito pouco, as pessoas venderam seus ideais e apoiaram ideias horríveis simplesmente por  um ódio infundado nascido de uma baixo autoestima. Ao decorrer do livro vemos como alguns se arrependem conforme atrocidades acontecem e sua liberdade é suprimida, mas para muitos atos já é tarde demais para remorso.

Lucas se desenvolve em um ambiente altamente repressivo, no qual até a direção do seu olhar é vigiada. É bonito como para alguns assuntos, o menino logo estabelexe uma ideia de certo e errado, desde o início das medidas autoritárias da companhia, ele tinha já enxergado isso como um avanço de forças que destroem pessoas. Entretanto, para outras questões, emocionais e sexuais, o menino está sozinho, não podendo contar para os adultos o que acontece, nem tem como saber se é de alguma forma normal. Há um muro que impede comunicações e trocas dentro das próprias famílias criado pelo ambiente cruel no qual elas vivem.

Eu não imaginava que sentiria tanta coisa por esse livro, eu acho muito justa a classificação dele ser infanto-juvenil, porque ele serve como um alerta para que os jovens possam identificar os sinais de perseguição e autoritarismo e evitá-los antes de seu avanço.

Esse livro foi cedido gentilmente pela parceira Companhia das Letras :)

AUTOR(A): José. J. Veiga
PÁGINAS: 152
EDITORA: Companhia das Letras
LANÇAMENTO: 2017
ONDE COMPRAR: Aqui

Sobre o Autor

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