Entendo que devo justificar um pouco a escolha desse livro. A primeira vez que tive contato com esse título foi no maravilhoso evento que a Companhia das Letras promoveu aqui no Rio, no qual conversamos com a autora e tivemos uma ideia da concepção dessa história. Eu amei o nome de cara e quando pensei no projeto, logo vi como uma oportunidade de finalmente ler o bendito. Não é um livro que as pessoas pensariam, antes de lê-lo, como algo regionalista, tão interconectado ao espaço do Rio de Janeiro, em especial a sua capital.
Já havia lido Fim da Fernanda, então já estava preparada para uma leitura densa, difícil, que tem personagens a beira do nojo. Mas não foi bem o que aconteceu com esse novo romance, aqui há uma história triste, majoritariamente sobre decadência e uma cidade que esmaga. O que pra mim reflete muito de uma classe média branca carioca que tenta se agarrar ao mínimo para manter o máximo da pose, tornando-a vazia e monstruosa.
O personagem principal, Mario Cardoso, é filho da classe média burguesa e decadente, branco, intelectual, sonhando em ser ator, com um engajamento político superficial e com a gana de viver o mundo ao máximo. O livro começa do fim, com o ator contando parte de sua vida e todo o seu movimento de ascensão e decadência.
Com ele, nós saímos de uma Tijuca nos seus anos áureos de subúrbio para uma zona sul infestada de novidades e contracultura. No Teatro, que Mario tem a sua formação de ator. O que mais me impressionou na leitura foi a forma que a Fernanda, ela mesmo uma atriz, descreve a composição do personagem, a entrega que alguns atores têm para fazer o papel com perfeição.
Através desse livro também vemos o fim do regime e abertura politica e com isso o fim também de alguns ideais, com uma geração perdida sem precisar mais lutar de forma drástica, mas também sem perspectivas. Também acompanhamos grandes constrastes entre oportunidades e desenvolvimento de certas partes da população no Rio de Janeiro. Uma leitura da cidade nada habitual que só quem mora aqui consegue sentir na pele, ou como um privilegiado como o Mario Cardoso ou como pessoas normais olhando o Mário através das telas de TV.
Durante uma pesquisa recente li um texto muito bom do Getúlio Nascentes da Cunha que se chama A Cidade do Vício e da Graça, título que é retirado do livro A cidade do vício e da graça do Ribeiro Couto. Esse nome mexeu muito comigo e durante a leitura ele vinha a memória várias vezes, tanto nas história do Mário como no olhar sobre a cidade. Há uma energia viciante na capital que compele, mas pode destruir quem é atingida por ela.
Região: Sudeste – Estado: Rio de Janeiro – Cidade(s): Rio de Janeiro
Livro: A Glória e seu Cortejo de Horrores
Bairros: Tijuca, Maracanã, Centro, Catete, Ipanema, Copacabana, Ipanema, Gávea, Laranjeiras e São Cristóvão.
Autora: Fernanda Torres (Rio de Janeiro, 1965)
Outros livros resenhados no blog que têm o Rio de Janeiro como cenário
Efetivo Variável, O Amor dos Homens Avulsos, O Sucesso, Machado
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