Por que as sociedades alimentaram uma relação tão esquizofrênica com a vagina ao longo dos séculos? Por que a menstruação é um tema apagado de nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para os povos ancestrais? A origem do mundo escancara interditos e desafia mitos e tabus. Um livro genial, catártico e absolutamente necessário.
Se “o pessoal é político”, como dizia o slogan da segunda onda feminista, iniciada nos anos 1960, Liv Strömquist criou um livro radical. Com humor afiado, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar, castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A origem do mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo. Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação — graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Uma crítica hilária, libertadora e instrutiva sobre o sexo feminino.

Se me perguntassem sobre o que eu estaria lendo aos 23 anos quando eu tinha 15, eu certamente não diria: sobre como homens reprimiram o órgão genital feminino e agora nós mulheres precisamos desconstruir séculos de opressão para entender que não há nada do que ter vergonha. Mas cá estou eu com esse quadrinho brilhante que, nada mais é, que a história da buc**a.
Primeiro, realmente aprendi muito com esse quadrinho. Entender como a sociedade hoje foi construída ajuda na desconstrução. Entender sobre vagina e seus vários mistérios também é importante. Não é como se isso fosse, sei lá, explicado pra gente na escola né? Ninguém chega pras minas e explica sobre masturbação e orgasmos clitorianos, ou sobre porque chamam o clitóris de o "pênis feminino". Ou falam que não é preciso ter vergonha da menstruação, ou vergonha de qualquer coisa que seja referente a vagina. Mulheres me digam se estou errada: mas muitas de nós aprendemos sobre nosso próprio corpo com amigas, muito raramente mães - talvez hoje mais, mas na minha época isso era tabu! -, quem sabe a irmã mais velha ou uma prima, mas sempre de uma forma escondida, como se o assunto fosse errado, nojento ou pervertido.
Ao contraponto, ao menos na realidade em que eu vivi, o órgão genital masculino estava por toda parte - incluindo muitas páginas do meus cadernos onde amigos tinham a mania de desenhar diversos tipos de pênis -. Nunca vi um homem com vergonha de seu órgão genital e certamente sempre soube como um garoto estaria com tesão, afinal me contaram isso na escola, mas esqueceram de explicar direitinho como é com a garota.

Liv deixa isso tudo muito claro de forma irreverente, cômica e, de certa forma, lúdica. Como vários homens ao decorrer da história controlaram a ciência e o que se sabe hoje da vagina (ou vulva). Que as propagandas de absorventes são nada mais que um reflexo de um passado onde a menstruação não era visto como algo normal e sim como algo impuro capaz de envenenar animais, destruir plantações e, claro, contaminar aqueles que tocassem na mulher menstruada ou até se sentassem no lugar que ela se sentou.
Ou como o órgão feminino sempre foi visto como uma versão inversa ao órgão masculino. Nunca um órgão próprio e sempre um espelho da masculinidade. Seja falando sobre o clitóris ou da vulva, é sempre uma comparação ao sistema masculino, o sistema perfeito, claro.
A autora usará de diversos segmentos para falar de tabus com vergonha, orgasmo, clítoris, menstruação, TPM, vagina, ou seja, coisas de mulheres. E como homens só sabem se meter no meio disso e estragar tudo pras mulheres durante séculos. De dizer que a mulher era provocante e pecaminosa a ser frígida e que a mesma nunca sentiria prazer durante o sexo (e que o prazer que importava, era, claro, o masculino), sobre como o mulher se sente pressionada para gozar para que o homem não se sinta inferior, ou colocar Eva contando depoimentos de várias mulheres sobre as vergonhas que até hoje existem referentes a buc**a.
É aquele tipo de coisa que toda mana deveria ler para saber mais sobre seu corpo e como patriarcado o controlou durante o séculos. Como, por exemplo, a menstruação e a TPM eram usadas como motivos para não empregar mulheres nos momentos convenientes para os homens, ou que os livros de biologia ainda tem vergonha de algo tão natural como a vagina. É irônico, extremamente provocante e irreverente, uma leitura rápida e divertida e, mesmo assim revoltante, pela Origem do mundo.
Autora: Liv Strömquist
Tradutor: Kristin Lie Garrubo
Páginas: 144
Editora: Quadrinhos da Cia.
Lançamento: 2018
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Quadrinho cedido pela Editora Quadrinhos da Cia para resenha ♥
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