Eu penso em você o tempo todo. Penso
na temporada que só teve oito episódios. Eu penso nas suas personagens
complexas, na trilha sonora maravilhosa, na geladeira de champanhes da
Villanelle. Penso em como as pessoas ainda não estão te dando a devida atenção,
em como sinto saudades da Cristina Yang, em como você tem cenas de mortes
elaboradas. Eu penso em quando será que você vai voltar para a segunda
temporada. Penso naquela cena final que me deixou chocada e agoniada. Killing Eve, eu penso em você o tempo todo.
A temporada em geral apenas nos
apresentou a ponta do iceberg no que se diz respeito a trama policial internacional,
mas se pouco foram desenvolvidos os mistérios a respeito do grupo empregador de
Villanelle, em contrapartida o estabelecimento do distorcido vínculo entre as
duas protagonistas foi perfeitamente trabalhado. É impressionante o quão
próximas Eve e Villanelle estavam uma da outra mesmo passando a temporada quase
inteira sem estarem na mesma cena. E o momento em que elas contracenavam era um
show à parte, um misto de sentimentos entre elas e também para quem assiste,
com todo tipo de tensão envolvida. O jogo de gato e rato entre as protagonistas
foi um verdadeiro deleite.
A série não faz questão de nos
apresentar diretamente cada aspecto da vida dessas mulheres. Como bem
exemplifica o piloto, já pegamos as investigações, suas vidas e atividades em
andamento. Temos uma amostra de que tipo de pessoas elas são e a partir daí no
decorrer dos episódios é que sozinhos poderemos perceber suas personalidades e
como elas vão se transformando, em especial a de Eve que tem a vida inteira
remexida. Para alguém cujos únicos grandes incômodos da vida eram um chefe
problemático e acordar com braços adormecidos, tudo vira de cabeça para baixo.
E quem disse que não era exatamente isso que ela queria? O homicídio em andamento
anunciado no título da série é muito mais relacionado a desconstrução da vida
de Eve pela própria Eve do que da mesma correndo um risco literal de morte já
que curiosamente nunca foi a intenção de Villanelle feri-la, claro que depois
daquele final não há mais garantias de que suas promessas sejam mantidas.
Eve foi desenvolvendo um fascínio
por Villanelle, que ia além da necessidade de parar uma assassina, ela se
encontrava enfeitiçada pelo próprio conceito da mesma. E foi muito fácil se
identificar com essa situação já que, como não ficar ansiosa para ver qual seria
o próximo passo imprevisível da loira? Como não ficar curiosa para saber quais
limites seriam ultrapassados? Como não se deixar seduzir pelo seu jeito aleatório e descarado? Somos todos Eve.
Personagens como Villanelle não
são os usuais anti-heróis que buscam a oportunidade de seu arco de redenção.
Ela não quer ser perdoada simplesmente porque não acredita estar a fazer algo
passível de perdão. Ela sequer deve pensar a respeito da possibilidade. Para a
assassina, esse é um trabalho comum, ela gosta de fazê-lo e faze-lo bem. É onde
ela se diverte. Mas mesmo assim, mesmo tendo consciência disso, com suas
carinhas fofas e aleatórias é impossível não se deixar levar pelo charme. No
momento em que seus olhos enchem d’água ao receber o mínimo de afeto, a gente
ainda se pergunta, mas e se ela for uma pessoa boa assim bem lá no fundo? Então
na cena seguinte ela nos dá uma rasteira emocional e volta ao seu modo
imbatível retomando o controle mostrando que está lá para ser uma verdadeira
agente do caos e que se você começou a série pela Sandra Oh, como acredito que
tenha sido o caso de muitos, você vai continuar vendo por Jodie Comer, que
junto com a nossa eterna Cristina Yang forma uma dupla de gigantes.
Pontuando em especial cenas como
a dolorosa morte de Bob marcada por aquela perseguição em que a assassina mantinha
um sorriso macabro e o tenso jantar em que aprendemos que não se deve chamar um
psicopata de psicopata, os ritmos dos episódios seguiram com equilíbrio de
humor ácido e tensão investigativa gostosos de assistir. É uma série que merece
ganhar algum destaque na temporada de premiações e estarei com dedos cruzados
para que isso ocorra. Que venha a segunda temporada!



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