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Anônimo Anônimo Author
Title: [REVIEW] GYPSY - PRIMEIRA TEMPORADA
Author: Anônimo
Rating 5 of 5 Des:
Gypsy é uma série que fala sobre obsessões. Temos um suspense psicológico em que todo e qualquer elemento novo adicionado à narrativa n...

Gypsy é uma série que fala sobre obsessões. Temos um suspense psicológico em que todo e qualquer elemento novo adicionado à narrativa não é confiável a primeira vista simplesmente porque todos os personagens possuem sua bússola moral meio deslocada. Obcecados, controladores, codependentes, manipuladores, viciados, traidores, intrometidos e mentirosos. Mentiras para todos os lados. Chegamos a momentos em que não se sabe mais o que é mentira o que é verdade. Afinal quem é Jean Holloway de verdade? Tenho certeza que nem ela mesma consegue responder a essa questão. Jean mantem uma vida dupla e um constante ciclo de mentiras, sempre encontrando e perdendo a própria identidade.  

Como assistimos a série em sua maioria através do ponto de vista de Jean, o que fazer quando todas as suas decisões são questionáveis e todas as suas motivações soam ambíguas? O pior é que esse problema não aparece apenas com ela. Quando está todo mundo errado, pra quem você torce? Em diversos momentos me peguei tendo opiniões controversas. Mesmo irritada com a cinicidade da bela Alexis, em certo momento me vi torcendo para que Michael seguisse com a traição de uma vez por todas. Mesmo com o perigo do envolvimento com Allison, quis que Jean a acolhesse e se juntasse a suas batalhas. Mesmo sabendo o quão errado é o relacionamento entre Jean e Sid, passava mal com medo de sua exposição. Esse jogo mental que a série faz com os expectadores é seu maior trunfo. Você começa a série julgando a todos e acaba questionando a si mesmo. 


A diferença entre as perspectivas é outro ponto curioso. Primeiro as descrições dadas pelos pacientes nos faz criar uma espécie de pré-conceito a respeito da situação de cada um, em seguida quando Jean faz sua mágica antiética e temos a oportunidade de acompanhar a historia por pelo menos dois lados é que conseguimos criar uma maior noção do que realmente está acontecendo. Para Claire, sua filha é uma ingrata e potencial suicida. Para Sam, Sidney é um monstro sem coração e ladra de cachorros. Para Allison sua situação é a mais precária e negativa possível. Depois de conhecer a outra metade a forma de interpretar muda completamente. Quanto mais pontos de vista temos, melhor podemos analisar a situação. E essa provavelmente era a intenção inicial de Jean, mas a mulher claramente tem problemas pessoais demais pra ajudar qualquer pessoa. E devem existir terapeutas borbulhando em agonia até agora numerando a quantidade de regras que ela quebrou nessas experiências. 

Todos os relacionamentos existentes nessa série são tóxicos, salvo apenas o que se diz respeito a menina Dolly que é o único ser puro nessa historia e provavelmente a melhor coisa que Jean fez na vida, e também a única pela qual os sentimentos da terapeuta não são questionáveis. De todos, o papel mais regular que Jean exerce é o de mãe. E sobre sua segunda personalidade, percebe-se que mais do que para viver outra vida, Jean usa Diane para ter a liberdade de expressar seus sentimentos e opiniões a respeito da própria vida em terceira pessoa, sem ter que lidar com o peso das próprias ideias. E que esses arriscados envolvimentos com os pacientes não estão acontecendo pela primeira vez, isso já acabou em desastre antes e tem tudo para dar ruim novamente. 

A série possui vários picos de tensão em que a todo o momento você espera algo dar errado e que alguma mentira seja exposta. A quantidade de personagens instáveis é tão grande que o potencial pra tragédia é gritante. Não teve um único episódio em que não imaginasse que fosse dar em morte. Seja qual for a atitude desesperada que Jean tome para retomar o controle, tem sempre algum detalhe que acaba deixado de lado, dessa vez foi a situação de Allison que acabou se tornando uma bomba relógio.


Muitos críticos caíram em cima da série falando sobre a lentidão dos acontecimentos, e em parte é verdade, tudo ocorre de forma meticulosamente dosada, mas o desenvolvimento está lá mesmo que sutilmente, basta prestar atenção nos detalhes da forma como a personalidade de Jean vai se moldando no decorrer dos episódios. As transições vão desde o modo de falar e se portar até em questões físicas como a troca de esmalte e perfume. Jean não apenas se envolve na vida dos pacientes, ela também vai absorvendo o comportamento deles e no final da pra identificar cada um deles como uma parte de sua vida seja em sem momento atual ou na vida que nunca chegou a ter. Mas é claro que as vezes fica difícil prestar atenção nesse tipo de coisa especialmente porque se não tomar cuidado, em um instante você acaba se perdendo na intensidade da troca de olhares entre Sidney e Diane.

Além do brilhante trabalho de Naomi Watts, queria deixar minhas palmas especiais para linda da Sophie Cookson por sua viciante Sidney, realmente é como olhar para o sol. Não tenho palavras para expressar a química entre essas duas nesse jogo de poder em que ambas descaradamente mentem e ainda assim seguem ainda mais fascinadas uma pela outra. O sorriso compartilhado no final nada mais é do que a perfeita representação não apenas desse relacionamento, mas também da série em geral: uma rede de mentiras que quanto mais complicada e perigosa, mais atrativa fica.

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