

A Menina Submersa - Memórias' é um verdadeiro conto de fadas, uma história de fantasmas habitada por sereias e licantropos. Mas antes de tudo uma grande história de amor construída como um quebra-cabeça pós-moderno, uma viagem através do labirinto de uma crescente doença mental. Um romance repleto de camadas, mitos e mistério, beleza e horror, em um fluxo de arquétipos que desafiam a primazia do 'real' sobre o 'verdadeiro' e resultam em uma das mais poderosas fantasias dark dos últimos anos. Considerado uma 'obra-prima do terror' da nova geração, o romance é repleto de elementos de realismo mágico e foi indicado a mais de cinco prêmios de literatura fantástica, e vencedor do importante Bram Stoker Awards 2013. A autora se aproxima de grandes nomes como Edgar Allan Poe e HP Lovecraft, que enxergaram o terror em um universo simples e trivial - na rua ao lado ou nas plácidas águas escuras do rio que passa perto de casa -, e sabem que o medo real nos habita. O romance evoca também as obras de Lewis Carrol, Emily Dickinson e a Ofélia, de Hamlet, clássica peça de Shakespeare, além de referências diretas a artistas mulheres que deram um fim trágico à sua existência, como a escritora Virginia Woolf. (Via
Skoob)

"A Menina Submersa" é um thriller extremamente psicológico escrito pela Caitlín Kiernan, ganhador do prêmio Bram Stoker Awards 2013, foi publicado em 2014 aqui no Brasil pela DarkSide Books.
India Morgan Phelps, nossa narradora inconfiável, nos pega pela mão e nos leva ao mais profundo da alma. Dela e nossa. Nessa obra encantadora, confusa, sombria e assustadora o elogio de Neil Gaiman “Poucos escrevem como Caitlín” ganha todo sentido.
Imp, como podemos chamar nossa guia nesta trama, encontra no diário que escreve uma forma de não esquecer suas memórias. Afinal, quando se luta contra uma esquizofrenia paranoica herdada de gerações – com histórico de suicídios- ela precisa se agarrar a algo além dos livros, datas, vinis e artes. Ela era pintora. Imp, quero dizer. E ainda escritora, afinal, aqui temos um livro dentro do livro onde o diário da pequena Imp é o nosso mapa para tentar – e tentar muito - entender o que é verdadeiro, factual ou delírio.
Como eu disse lá em cima, Imp não é uma narradora confiável, mas é a única narradora, o único ponto de vista que temos. Vamos mergulhar e ficar submersos em suas memórias por um momento?
O momento chave para todo o desenrolar da história ocorre quando Imp encontra uma mulher misteriosa na beira da estrada e completamente nua. Eva Canning, a misteriosa figura, passa a ser presença e pensamento constantes na vida da pequena India. Eva acaba se tornando a segunda personagem principal do livro e você se questiona sobre a sua natureza o tempo todo. Era real? Factual? Delírio? Poderia Eva ser um fantasma? Mas como seria ela um fantasma se Abalyn, namorada da Imp, também a vê?
A obra é de uma riqueza de detalhes beirando ao absurdo. Arte. Temos muitas citações de arte dentro dessa obra de arte. Imp faz menção a diversos quadros que eu, em minha ânsia de entender os seus sentimentos, procurei incansavelmente. Vim a descobrir que as obras foram criadas exclusivamente para o livro, mas agradeço as pessoas que tiveram o cuidado de pintar cada uma delas para que nós, que estamos imersos na cabeça da personagem, pudéssemos tentar entender tudo que essas pinturas a fizeram sentir.
Sentir. Talvez esse seja o sentimento chave para ler “A Menina Submersa”. De certa forma é preciso sentir Imp e sentir o desespero da mesma em tentar nos guiar numa narrativa não linear que mistura presente e passado de uma forma quase mágica (e de difícil leitura). Se você não tiver medo de pegar na mão da nossa narradora e se deixar levar pelas verdades e devaneios, talvez você seja presenteado com uma das viagens mais incríveis da sua vida.
Segui-la nessa jornada é também sair da sua zona de conforto. Não é fácil ler narrativas não lineares normalmente. Mas a narrativa não linear onde você não sabe o que é real ou não, é duplamente desafiador. India, com sua consciência limpa, pode narrar a obra nos avisando que nem ela mesma tem certeza se as coisas aconteceram exatamente daquela forma. Lemos o livro com um véu imaginário sem saber exatamente o que nos aguarda em seguida. Quando ela para de tomar seus remédios é possível mergulhar profunda e duramente nos delírios, na paranoia e entender que mais difícil do que ler a história narrada por ela, deva ser escrevê-la.
Entendi um pouco, e com certo terror, o que seria estar na pele de Imp. Presa entre memórias e fantasmas, sem saber o que de fato é real, presa em um labirinto dentro da própria cabeça, sem ser Teseu com fio feito por Dédalo, para achar o começo de tudo e sair daquela confusão. Estar na mente de Imp causa calafrios, causa terror e acima de tudo curiosidade.
Curiosidade em amplo sentido, afinal de contas, por mais de uma vez precisei parar para ir ao google e pesquisar veracidade dos fatos citados, assim como fiz com as obras de arte. Numa obra onde a presença do suicídio e da escuridão são constantes, citar a Floresta do Suicídio no Japão conhecida como Aokigahara, foi apenas um dos pontos que mais que me marcaram na obra.
Além de retratar a esquizofrenia e o homossexualismo de forma bastante enfática na pele da protagonista, outra discussão que vemos, de uma maneira mais sutil mas ainda presente de forma marcante, é a questão de gênero. Uma vez que a Abalyn era transexual, assim como a autora da obra. As conversas entre Imp e Abalyn a cerca do tema são bastante bonitas. Alias, a obra não é sobre uma história de amor, e sim de fantasmas, mas o amor tem presença constante e o desenvolvimento do relacionamento entre as duas personagens se dá de maneira muito bonita, verdadeiramente bonita.
"O que mais tememos não é o conhecido. O conhecido, por mais horrível ou prejudicial à existência, é algo que podemos compreender. Sempre podemos reagir ao conhecido. Podemos traçar planos contra ele. Podemos aprender suas fraquezas e derrotá-lo. Podemos nos recuperar de seus ataques. Uma coisa tão simples quanto uma bala poderia ser suficiente. Mas o desconhecido desliza através de nossos dedos, tão insubstancial quanto o nevoeiro" (pág. 170)
Cada capítulo é uma camada, uma camada densa. A menina submersa é um convite a abraçar o desconhecido. É um convite a um mergulho sem preparação alguma. É um convite para adentrar na alma e ali conhecer seus monstros, medos e inseguranças. Se você estiver pronto para sair da superfície e mergulhar, quem sabe o que você pode encontrar? Eu, se fosse você, não deixaria de descobrir.
Acho que a resenha ficou confusa. Talvez tenha ficado sem nem ao menos uma lógica. Talvez eu não consiga me expressar. Ou, talvez, a beleza do livro esteja exatamente nesta confusão de pensamentos que você não consegue sair. Talvez a beleza do livro esteja em mergulhar e não em explicar o mergulho. Talvez....
Título: A Menina Submersa
Autor: Caitlín Kiernan
Páginas: 320
Editora: DarkSide® Books
PS: Como vocês puderam perceber, essa edição da DarkSide já era um primor pela riqueza de detalhes, porém, posteriormente a editora lançou uma edição de capa dura absolutamente maravilhosa e você pode conferi-la clicando aqui. Ainda sonho com essa edição na minha estante todos os dias <3