Após um temporada que, verdade seja dita, não prendeu a atenção de muita gente, True Blood chega ao fim. Também pensei em começar o texto assim: “E então, aos trancos e barrancos, True Blood chega ao fim”, mas achei um pouco indelicado, dado o possível afloramento emocional de alguns fãs com o final da série.
O desfecho mais esperado por todos – o único desfecho pendente, na realidade – era sobre que fim tomaria Bill. Eu admito que, por alguns momentos, cogitei a hipótese de que ele poderia se tornar humano novamente, que o tal vírus não fosse algo letal, mas sim que transformaria vampiros em humanos. O fato dele próprio ter admitido estar se sentindo mais humano do que nunca e de Sookie ter conseguido ouvir seus pensamentos corroborou com essa minha ideia. Seria uma saída também. Em um seriado onde absolutamente tudo pode acontecer – e aconteceu de tudo –, um vampiro voltar a ser humano seria apenas um detalhe. Mas, o ponto é que optaram por matar o homem, o que bastante digno também e mostra uma certa integridade dramática da série. O grande problema foi a maneira escolhida para a morte do sujeito. Ele poderia muito bem ter deixado as águas rolarem e ter morrido naturalmente, mas não, nada disso, vamos botar um pouco mais de drama nisso, oras! O cara tem o dom de pedir– e com um argumento até que convincente, ressalte-se – que a mulher que mais o amou na vida o mate. E, o pior, que, com isso, ela deixe de ser fada. É um tanto quanto forçado, vai? E a cena toda da morte beirou o ridículo, principalmente no ponto em que, tudo certo, bola de energia a postos, ela declina da ideia de deixar de ser fada, quebra um cabo de enxada e acha por bem que o melhor a se fazer é cravar-lhe uma estaca no peito... Mas, como eu disse, em True Blood tudo pode acontecer. Cabe a nós aceitar e seguir adiante.
Como todo bom final de enredo que se preze, é claro que houve um casamento. Hoyt e Jess casaram-se às pressas (realmente às pressas, já que o evento foi no mesmo dia do pedido) para que Bill pudesse ter a honra de leva-la até o altar. O evento foi bastante estranho. Primeiro pela correria com que foi montado, depois pelo clima um tanto nebuloso que pairava no ambiente. Por alguns instantes cheguei a pensar que algo daria muito errado, mas não. Foi apenas impressão e mau costume – já que raras foram as situações em True Blood que não acabaram em climão ou em carnificina. Uma coisa que eu não lembrava é que Andy tinha vínculos de parentesco com Bill. Isso voltou à tona quando ele pediu ao xerife que “alugasse” a casa para Jessica pela módica quantia de um dólar, já que Andy seria seu parente mais próximo e, portanto, seu herdeiro.
Uma outra possível fonte de agonia para os espectadores era o desfecho da história com os japoneses. Por fim, o clima de tensão acabou mais rápido do que poderíamos imaginar. Eric e Pam deram um jeito neles todos em fração de segundos. Isso tudo, no entanto, acabou gerando uma das melhores cenas não só do episódio, mas, quiçá, da temporada: Eric fazendo uma dancinha à la Estragos de sábado à noite (A Night at the Roxbury) enquanto dirigia o carro dos japoneses. É claro que falando assim não passa muita credibilidade, mas para quem acompanhou a cena, acompanhou a série toda, enfim, conhece bem o espírito da coisa, é quase de emocionar quando vemos o grande vampiro Eric Northman fazendo uma dancinha com a cabeça enquanto dirige. Eu adorei!

Após a morte de Bill, passaram-se alguns anos e pudemos ver como as coisas ficaram. Ou quase isso... Eric e Pam se deram muito bem. Ficaram com Sarah, alugando-a eventualmente a algum magnata, sintetizaram o New Blood e, pelo que se pode ver, ficaram bilionários e famosos. Infelizmente não houve um desfecho entre ele e Sookie. Torço para que tenham continuado bons amigos, realizando visitas sociais uns aos outros. Jason parece ter se tornado um homem sério, pai de família, casado com a ex-namorada de Hoyt que, por fim, decidiu não voltar ao Alasca. Sam reapareceu, finalmente com um carro novo, com mulher e filhos. Sookie, por sua vez, está grávida. De quem, nunca saberemos, o que me irritou um pouco. Catzo, ela é a personagem principal. Seria justo ter dado um final mais bem acabado à ela, juntando-a com alguém que fizesse sentido. Realmente, é preciso admitir, não havia ninguém que fizesse sentido. Ora, então que não tivessem matado o Vampiro Bill! O fato é que acompanhamos por anos esse menina sofrendo de canto e canto, desencontrando-se de sua felicidade a todo instante e, quando finalmente ela parece aparecer de modo definitivo, somos privados de uma boa história... Achei injusto.
O seriado acabou em uma espécie de jantar de Ação de Graças ao ar livre, com todos confraternizando pelos bons tempos (sem trocadilho!) que aparentavam estar vivendo. Dá uma sensação de alívio, o que é bom, mas fez falta um final mais eletrizante. O ponto alto do episódio, podemos concluir, foi Sookie matando Bill, o que, afinal, não faz lá muito sentido. Muito dessa falta de assunto se deve a maneira mal estruturada com que a temporada foi se construindo, não deixando absolutamente nenhuma grande expectativa para o final. Nenhum grande combate, nenhum grande dilema, nenhuma grande surpresa. Minha grande satisfação, enfim, foi ter Led Zeppelin como trilha sonora das últimas cenas, aquelas em clima bem alto-astral. Sugestivamente, a música escolhida foi Thank You (homônima ao episódio), que, trocando em miúdos, é uma grande jura de amor, promessa de um amor eterno e, acima de tudo, um agradecimento à pessoa amada. Talvez possa ser interpretado como uma fala de Bill para Sookie, o que é até bonitinho, mas prefiro pensar que eram mesmo os produtores a agradecer nossa grandissíssima gentileza e paciência por ter chegado até ali, mesmo nos dando em troca uma temporada lamentável, com um episódio final bem pouco satisfatório. De nada, senhores, de nada...

E, quanto a você, True Blood, fica aqui o nosso agradecimento por todos esses anos de bom entretenimento, boas histórias e bons personagens. É claro que nessa hora todos os seus pecados (a incluir nessa lista esta última temporada) são remitidos. Você deixará saudades (principalmente você, Eric Northman, sempre uma figura, sempre um querido!). Thank you, True Blood! Descanse em paz.