O poder que a família tem de (des)construir um homem.
Desde o primeiro momento, Tyrant nos mostrou dois lados da
mesma moeda. Barry e sua extrema covardia em fugir sempre quando algo que ele
teme está próximo de acontecer, contra Jamal e sua mente perturbada fazendo de
tudo para não usar sua inteligência para apaziguar as coisas. É notável como um
depende do outro e sempre dependeu, se Bassam hoje sempre foge dos problemas e
da sua família em Abbudin (até que enfim deram um nome para a cidade fictícia)
é por que no passado ele fazia o papel de irmão mais velho e tentava proteger
Jamal das barbaridades que seu pai já os impunha desde quando eram crianças.
Esse problema do Jamal em ter sido protegido quando criança
e posteriormente “abandonado” por seu irmão mais novo acarretou em problemas
seríssimos para a sua personalidade. Ele é mimado, quer tudo para ontem nas
suas mãos, é egoísta ao extremo e o pior de tudo, pratica barbaridades contra
quem estiver no seu caminho por puro prazer. O personagem é repugnante, por
alguns momentos até se vê um resquício de humanidade, mas é impossível criar
empatia por alguém que estupra a própria nora porque quer que o seu filho se
decepcione na hora H. Esse caminho que os roteiristas estão levando Jamal é
muito perigoso, porque ao mesmo tempo que ele se torna um personagem
interessante de se acompanhar por causa de todas suas perturbações, também fica
muito difícil de torcer por ele, de se compadecer com algum problema seu. Se é
para criar um vilão logo de início deveriam ter ido com calma e maneirado mais
nas suas ações, pois nunca se sabe como um personagem pode ser visto pelos
espectadores. Mas sinceramente, não vejo Jamal se redimindo de qualquer coisa
que ele já fez nesses 3 primeiros episódios, a minha misericórdia ele não tem e
nunca terá.

Já Barry, é um covarde que podemos até entender. Quando criança matou para defender seu irmão, teve um caso com a
mulher do mesmo (resta saber se Leila na época já tinha alguma relação com
Jamal ou não), depois de tudo o que vimos e ainda veremos do seu passado, motivos
foram o que não faltaram para ele fugir e renegar toda essa vida luxuosa dos Al
Fayeed. E conseguimos entender mais um pouquinho dos seus medos nesses 2 episódios.
Bassam não é um ditador, pode ser que na sua adolescência tenha se perdido, mas
o seu maior medo ao meu ver é ter que enfrentar toda essa tirania do seu país,
tendo que lidar ainda com problemas familiares (traição contra seu irmão, filho
gay) mais cedo ou mais tarde.
Enquanto isso a guerra é sempre anunciada em países
mulçumanos por garotos que mal saíram das fraldas mas que acham que estão
fazendo algo pelo bem maior, que Deus irá recompensá-los e etc. Esse assunto é
bem delicado de se tratar, tendo em visto que cada cultura tem suas fés e
motivações e como eu desconheço muita coisa dos mulçumanos não posso falar do
que não sei. A interligação entra Fatma e o terrorista Irah foi um acerto do
roteiro, que mostra que sabe o que estão fazendo, conseguindo ligar uma
história com a outra que no primeiro momento não tinham muita ligação.
E o núcleo adolescente mais uma vez nos apresenta uma trama
fraca e clichê, no qual há um romance entre filho de patrão e de empregado.
Claro que o casal sendo gay, dá uma dinâmica diferente para o plot mas ainda assim continua pouco
atrativo e quando nem mesmo a série quer mostrar realmente essa relação
amorosa. Tentando preservar dois jovens, ou até mesmo os telespectadores mais
conservadores do show, optaram por não mostrar um simples e singelo beijo entre
os dois, mas a menção de um oral é super normal mostrar né.
Do mesmo jeito que reclamei do primeiro episódio em que a
série poderia muito bem ter uma coragem maior de tratar sobre assuntos tão
relevantes quando o assunto são os países mulçumanos e como os Estados Unidos
lidam com eles, faltou coragem agora para mostrar o relacionamento gay.
Potencial a série vem mostrando que tem, resta saber até onde eles estão
dispostos a ir para tocar na ferida da sociedade que ela retrata e que assiste
o show.
P.s.*: Ainda não entendi qual era a intenção da agulha com
sabão, alguém sabe me dizer se uma agulhada com sabão tem o poder de matar?
P.s.**: Quer mais ironia que um estuprador praticamente ser
capado por uma de suas vítimas?
P.s.***: Quantos episódios para Barry e Leila reviverem o
passado?