Todo mundo já passou por esse dilema. Ultimamente tenho percebido que o número das minhas leituras por prazer é muito inferior ao número de séries que acompanho, e isso tem uma base muito prática: ver séries é mais rápido do que ler um romance inteiro. Quando vemos uma (ou várias) série, em 23, 45 ou 60 minutos acompanhamos um “capítulo”, que no caso de muitos livros por aí, não é o mesmo tempo de leitura. A vida é muito corrida, e o dinamismo das séries tem ganhado a batalha contra os livros lidos por prazer.
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A Leitora - Jean Honoré Fragonard, 1772 |
Isso tem seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom de acompanhar tantos seriados ao mesmo tempo é que somos capazes de mergulhar em vários universos dos mais diversos tipos e ver histórias fascinantes, como se estivéssemos lendo vários livros ao mesmo tempo no decorrer do ano. Para quem gosta de histórias, das mais diferentes possíveis, acompanhar muitos e muitos seriados enriquece essa experiência imaginativa.
Porém, ao deixar de lado um pouco os livros, percebi que o ritmo frenético de séries muda drasticamente o modo como a concentração se desenvolve. Porque enquanto se vê uma série dá para comer, beber, conversar, mexer no celular, enfim, fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo. E é isso que está afetando um monte de gente que segue esse mesmo ritmo. Tente ler um livro comendo, mexendo no celular, conversando com alguém, não dá, a leitura não rende, é muito mais fácil esquecer o que foi lido em um parágrafo e ter que voltar tudo de novo.
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Man Watching TV - Alexa Meade |
Isso me preocupa bastante, afinal a experiência da leitura é algo muito antigo na nossa cultura e muito enriquecedor, pois incentiva a criatividade, a imaginação. Com as séries temos de bandeja elementos como fotografia, trilha sonora e legendas, ao passo que ao ler um romance cabe a nós, leitores, imaginar e pensar sobre aquilo que o narrador nos mostra.
Essa problemática é um reflexo do nosso modo de vida, sempre agitado, quase nunca com tempo para reflexão, sempre consumindo cada vez mais e mais as coisas muitas vezes sem pensar sobre elas. Vejam que coisa mais paradoxal: uma vida corrida nos impossibilita a dedicação ao “ócio produtivo”, nos deixando cada vez mais automatizados, porém, é somente vivendo essa vida massacrante que nos damos conta do quando estamos perdendo nosso tempo com coisas que não são tão produtivas assim (leia-se carga de trabalho de 40, 44 horas semanais).
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Returning From Work - Laurence Stephen Lowry |
O legal seria mesmo conseguir balancear tudo isso: trabalhar, estudar, ler, assistir séries, filmes, conviver com as outras pessoas, tudo se complementando, nunca reprimindo.
E você, caro leitor e seriador, o que acha dessa questão?