Diretor: Steve McQueen. Elenco: Chiwetel
Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Benedict Cumberbatch, Paul Dano,
Brad Pitt, Alfre Woodard, Adepero Oduye, Paul Giamatti, Sarah Paulson
Após muito tempo, Hollywood finalmente
se volta para um capítulo trágico na história estadunidense pouco abordado,
pelo menos de forma realista, no cinema.
Com efeitos que ecoam até hoje, inclusive de maneira bastante intensa, a realidade da escravidão é
retratada de maneira primorosa no filme do britânico Steve McQueen.
A trama é baseada na autobiografia,
publicada em 1853, de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro livre, pai de família e
habitante de Saratoga (Nova Iorque) que é enganado, seqüestrado e levado para a
Louisiana, onde é vendido a um escravocrata para trabalhar numa plantation. Tudo
isso em 1841, 22 anos antes da abolição da escravidão nos EUA. Dessa forma, acompanhamos
a nova vida de Solomon que tem seu passado, sua identidade e sua dignidade destruídas.
Sob o nome ''Platt'', Northup passa a ser propriedade de Ford (Benedict Cumberbatch), um homem que até apresenta compaixão para com a situação dos negros do
país, mas que logo o vende para Epps (Michael Fassbender), um sádico dono de uma plantação de
algodão que trata a todos com selvageria, em especial a escrava Patsey (Lupita Nyong'o).

É na forma honesta, no realismo de mostrar o
horror de uma vida de escravidão que McQueen consegue imprimir sua marca. O filme consegue nos incomodar. É impossível
não sentirmos nojo, repulsa e indignação ante à cenas de tortura, humilhação e
barbárie. Definitivamente, "12 Anos de Escravidão" não é um filme fácil de
assistir. De forma densa e brutal nos é passado um retrato fiel da escravidão,
fazendo com que nos indagamos a todo o tempo como aquilo foi possível.
Além de roteiro e direção, a atuação é
parte fundamental no filme. Todos os atores estão inspiradíssimos. Ejiofor
consegue através de seu olhar e expressão passar a dor e a raiva que sua
personagem sente, ao mesmo tempo em que tenta manter sua dignidade em face a
realidade em que vive. Michael Fassbender transpassa o ódio, a ignorância, e a
crueldade de um senhor de engenho que vê seus escravos como uma mera
propriedade. E por fim, o destaque também vai para Lupita Nyong'o, que dá vida
a uma escrava desafiadora, porém sofrida e fragilizada, que não suporta mais os
grilhões.
Através da reunião de todos os
elementos supracitados, "12 Anos de Escravidão" atinge a beira da perfeição. É um
verdadeiro clássico moderno, que consegue nos deixar perplexos, indignados e
envergonhados por tudo retratado ali ser a representação de um passado não tão
distante, ainda mais se analisarmos os efeitos desse período na sociedade atual.
Portanto, "12 Anos de Escravidão' é um
filme que respira realidade. Nele, McQueen coloca em cada cena a carga dramática que dois
séculos de escravidão requerem. É impressionante como após tantos anos um filme
tem êxito em retratar tão bem esse período da história estadunidense.
Por fim, para
melhor entender a importância deste filme é interessante voltar a 1915, quando
da estreia de ''O Nascimento de uma Nação'', de D.W.Griffith. Tratando sobre a
Guerra Civil Americana e suas conseqüências, o clássico é importantíssimo na
história do cinema, sobretudo na parte técnica e na forma de narrativa. Porém,
ele retrata uma mentira. Extremamente racista, o filme mostra os negros como
imorais enquanto que a Ku Klux Klan aparece como a salvadora da nova nação.
Assim, através de um olhar ao passado, "12 Anos de Escravidão" se eleva não
apenas a uma obra-prima, mas a um marco do cinema.