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Verônica Martucci Verônica Martucci Author
Title: [C. NERD] Crítica #24 - Ninfomaníaca
Author: Verônica Martucci
Rating 5 of 5 Des:
Falar de Lars Von Trier é como falar de extremos. Não há meio termo para os seus filmes, suas técnicas de filmagem e seu roteiro. É ...



Falar de Lars Von Trier é como falar de extremos. Não há meio termo para os seus filmes, suas técnicas de filmagem e seu roteiro. É sempre aquele negócio: ame ou odeie.

Para quem assistiu seus dois filmes anteriores, nesse novo já não temos mais aquele clima extremamente pesado e carregado de depressão em seus personagens, sendo a produção desses dois filmes uma forma de “exorcizar” seus demônios pessoais, já que o diretor estava sofrendo de uma profunda depressão e disse isso em diversas entrevistas. Com mais um filme cheio de polêmica, “Nymphomaniac” prova ser uma nova fase do dinamarquês.

Aqui, acompanhamos a história de Joe, a qual foi encontrada desacordada e cheia de ferimentos em um beco por Seligman, um homem de idade que mora naquela região. Após o senhor lhe perguntar o que aconteceu, Joe diz que ela é “uma pessoa má e mereceu isso”. Curioso em entender o que leva alguém a se julgar de forma tão desprezível, o diálogo entre o homem e a mulher se estabelece e Joe começa a contar passagens de sua vida.
 

Curioso como essas passagens se desenvolvem, aliás. Pequenos detalhes na residência de Seligman servem de ligação para estabelecer o título de cada capítulo do filme ou como algum tipo de metáfora para as ações de Joe. Logo somos introduzidos em uma história de descoberta sem limites, começando na infância e indo até a fase adulta de uma mulher que apenas pensa em sua própria vontade (como ela mesma se descreve), mas seu ouvinte particular pensa diferente: não a julga moralmente nem trata as histórias de Joe com repulsa. Seligman quer entendê-la e buscar uma lógica para as atitudes da mulher através da sequência de Fibonacci e da polifonia de Bach e essas referências tornam a história de Joe ainda mais interessante.
 

Com uma quantidade considerável de sexo na tela, essas cenas acabam se tornando algo já não tão impactante depois de certo tempo, assim como é para Joe, com toda a crueza do ato exposta na tela e sem a pretensão de despertar algum tipo de excitação no espectador. Diferente do que muitos esperam, o filme possui uma boa carga de reflexão sobre como é estar na pele da personagem, confirmando em um dos ótimos diálogos do filme que a solidão tem sido sua companheira, em meio a tantas pessoas que passam por sua vida e que lhe causam o mínimo de sentimento.

Vale ressaltar a incrível participação de Uma Thurman em um papel secundário que mal aparece, mas conseguiu chocar com uma de suas melhores atuações, mesmo que breve. Stacy Martin encara a jovem Joe com uma atuação convincente e corajosa para seu primeiro filme e até o Shia LaBeouf consegue se manter bem nas cenas em que aparece. Mas, sem dúvida, a melhor parte da personagem principal deve ficar por conta da queridinha do diretor, Charlotte Gainsbourg, que nessa primeira parte apenas fica como narradora, aparecendo mais em ação na segunda parte, pelo que já foi divulgado.


Fazendo uso de uma dose exata de humor e quebrando o ritmo sem prejudicar a história, Von Trier consegue mostrar uma nova faceta que lhe caiu muito bem. O filme não tem um desenrolar rápido, está com menos de 30 minutos devido a edição e muitos se decepcionarão se esperam ver algum tipo de “pornô cult”. Com um corte dividindo as duas partes no que promete ser a grande reviravolta na vida de Joe, o filme acaba com a música do Rammstein explodindo e causando ansiedade para a segunda parte que chega aos cinemas em março.



26 Jan 2014

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