Indicado à Palma de Ouro, concorrente
a Melhor Filme Estrangeiro do Globo de Ouro, e escolhido como representante da
Itália no Oscar 2014, A Grande Beleza surge como La Dolce Vita da era Berlusconi. Dirigido pelo excelente Paolo
Sorrentino, o filme se inicia com a festa de aniversário do escritor e agora
jornalista Jep Gambardella (interpretado por um fabuloso Toni Servillo). Ao
mesmo tempo, mostra uma excursão de turistas japoneses por Roma, onde um deles
desmaia ao contemplar a beleza da Cidade Eterna. A partir daí somos levados a
acompanhar a vida de Jep e seu círculo social. Através destes temos uma ácida
crítica da alta burguesia, especialmente quando tratamos de um país imerso em
uma profunda crise socio-econômica.
Após o sucesso de seu único livro, escrito há
40 anos, Gambardella é apresentado a alta sociedade italiana, e acaba por se
tornar uma espécie de ''rei do camarote'', que segundo ele próprio, tem a
capacidade de ''fazer uma festa fracassar''. Ao mostrar o estilo de vida de Jep
e seus amigos, Sorrentino disseca o comportamento da elite italiana, ao mesmo
tempo em que ilustra que há sim beleza no ato de viver. Aliás, a ''grande
beleza'' é uma busca de Jep, que mesmo escondida de baixo de sua frustração, não
se perde em nenhum momento. Seja na forma de seu primeiro amor ou nos seus
sentimentos de infância, Gambardella sempre esteve em busca dessa ''beleza''.
Porém, o protagonista, ao contrário do turista japonês, não parece perceber que
ela está no cotidiano, que ela se apresenta num passeio pela sua tão querida
Roma, por exemplo. Isso faz com que todas essas emoções que o levaram a
escrever sua obra quando jovem se dissipem e dêem lugar a um vazio que é
mascarado pelas festas, bebidas, drogas, e fúteis casos amorosos que não
agregam absolutamente nada, não o fazem verdadeiramente feliz e impedem a criação
de outra obra literária. E mais, esse vazio não é sentido apenas por ele. Seu
círculo social é composto de diversas personagens que sofrem deste mesmo mal. A
alta burguesia, e não só a italiana, sofre dessa espécie de paralisia moral.
Dessa maneira, é através das observações e
reflexões de Jep que Sorrentino critica essa sociedade. Literatura, religião,
arte e é, claro, beleza, são alvos do diretor. Até a Cidade Eterna é alvejada, quando em dado momento uma personagem diz que ''o melhor de Roma são
os turistas''. Além desta, há muitas outras cenas memoráveis do longa, com
destaque para a seqüência em que Jep ensina como se comportar em um velório, o
passeio noturno com sua amante Ramona pelos palácios de Roma, e a situação
tragicômica na clínica de aplicação de botox.
Por fim, é inevitável notar que A
Grande Beleza tem como inspiração La
Dolce Vita, de Federico Fellini. O confronto entre realidade e fantasia, as
bizarrices, o merchandising da Martini (Fellini fez publicidade da Campari), a
similaridade das personagens de Toni Servillo e Marcello Mastroianni, e,
principalmente, a representação de décadas marcadas pelo culto ao belo e pela
decadência moral são aspectos que aproximam os dois filmes.
A Grande Beleza, portanto, é um filme que
contém uma severa crítica do modo de vida contemporâneo da alta burguesia. Ele
reflete sobre a situação em que se encontra a Itália e o mundo. E tudo isso com
ideias e diálogos primorosos, repletos de sarcasmo, ironia e deboche. Pra quem
quer se divertir e refletir sobre a sociedade contemporânea, A Grande
Beleza é uma ótima oportunidade.