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Title: CANTINHO NERD: Crítica 19# - A Grande Beleza
Author: Unknown
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Indicado à Palma de Ouro, concorrente a Melhor Filme Estrangeiro do Globo de Ouro, e escolhido como representante da Itália no Oscar 2014, ...
Indicado à Palma de Ouro, concorrente a Melhor Filme Estrangeiro do Globo de Ouro, e escolhido como representante da Itália no Oscar 2014, A Grande Beleza surge como La Dolce Vita da era Berlusconi. Dirigido pelo excelente Paolo Sorrentino, o filme se inicia com a festa de aniversário do escritor e agora jornalista Jep Gambardella (interpretado por um fabuloso Toni Servillo). Ao mesmo tempo, mostra uma excursão de turistas japoneses por Roma, onde um deles desmaia ao contemplar a beleza da Cidade Eterna. A partir daí somos levados a acompanhar a vida de Jep e seu círculo social. Através destes temos uma ácida crítica da alta burguesia, especialmente quando tratamos de um país imerso em uma profunda crise socio-econômica.


Após o sucesso de seu único livro, escrito há 40 anos, Gambardella é apresentado a alta sociedade italiana, e acaba por se tornar uma espécie de ''rei do camarote'', que segundo ele próprio, tem a capacidade de ''fazer uma festa fracassar''. Ao mostrar o estilo de vida de Jep e seus amigos, Sorrentino disseca o comportamento da elite italiana, ao mesmo tempo em que ilustra que há sim beleza no ato de viver. Aliás, a ''grande beleza'' é uma busca de Jep, que mesmo escondida de baixo de sua frustração, não se perde em nenhum momento. Seja na forma de seu primeiro amor ou nos seus sentimentos de infância, Gambardella sempre esteve em busca dessa ''beleza''. Porém, o protagonista, ao contrário do turista japonês, não parece perceber que ela está no cotidiano, que ela se apresenta num passeio pela sua tão querida Roma, por exemplo. Isso faz com que todas essas emoções que o levaram a escrever sua obra quando jovem se dissipem e dêem lugar a um vazio que é mascarado pelas festas, bebidas, drogas, e fúteis casos amorosos que não agregam absolutamente nada, não o fazem verdadeiramente feliz e impedem a criação de outra obra literária. E mais, esse vazio não é sentido apenas por ele. Seu círculo social é composto de diversas personagens que sofrem deste mesmo mal. A alta burguesia, e não só a italiana, sofre dessa espécie de paralisia moral.



Dessa maneira, é através das observações e reflexões de Jep que Sorrentino critica essa sociedade. Literatura, religião, arte e é, claro, beleza, são alvos do diretor. Até a Cidade Eterna é alvejada, quando em dado momento uma personagem diz que ''o melhor de Roma são os turistas''. Além desta, há muitas outras cenas memoráveis do longa, com destaque para a seqüência em que Jep ensina como se comportar em um velório, o passeio noturno com sua amante Ramona pelos palácios de Roma, e a situação tragicômica na clínica de aplicação de botox.

Por fim, é inevitável notar que A Grande Beleza tem como inspiração La Dolce Vita, de Federico Fellini. O confronto entre realidade e fantasia, as bizarrices, o merchandising da Martini (Fellini fez publicidade da Campari), a similaridade das personagens de Toni Servillo e Marcello Mastroianni, e, principalmente, a representação de décadas marcadas pelo culto ao belo e pela decadência moral são aspectos que aproximam os dois filmes.


A Grande Beleza, portanto, é um filme que contém uma severa crítica do modo de vida contemporâneo da alta burguesia. Ele reflete sobre a situação em que se encontra a Itália e o mundo. E tudo isso com ideias e diálogos primorosos, repletos de sarcasmo, ironia e deboche. Pra quem quer se divertir e refletir sobre a sociedade contemporânea, A Grande Beleza é uma ótima oportunidade.

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