Provavelmente games é um dos
mercados que mais crescem tanto no Brasil, quanto no exterior. Eu lembro quando
nos perguntávamos se algum dia videogames superaria ou se igualaria a
Hollywood, é claro que antigamente, com a base que tínhamos era praticamente
impossível algo desse tipo se tornar realidade. Mas hoje... Isso não está longe,
diria que alguns já até passaram os filmes. Hoje, alguns desenvolvedores focam no
drama interativo ou como muitos preferem chamar os ‘’filmes interativos’’. É
claro que esse gênero não agrada a todos, até porque eles são focados na
história, e muitos preferem a ação do que ler ou assistir algo que é parado.
O gênero está tendo um crescimento
conforme o tempo vai passando, empresas como Telltale já conseguiu até a
premiação de Jogo do Ano com The Walking Dead, que sinceramente, é o único jogo
da série que realmente vale a pena dedicar horas. Pra quem nunca ouviu falar,
drama interativo é aquele game em que cada escolha que você faz, vai interferir
no decorrer da história, podendo mudar até o desfecho final. Beyond: Two Souls
foi lançado dia 8 de Outubro exclusivamente para Playstation 3, desenvolvido
pela Quantic Dream e distribuído pela Sony. Ele gerou certa polemica na
internet e no Brasil.
A primeira delas foram as notas
que os críticos deram ao game, pra quem não sabe, David Cage dirigiu e escreveu
o que era pra ser um dos possíveis concorrentes ao Game of the Year, ele é
conhecido por trabalhos como Heavy Rain, meu game favorito da geração, e Indigo
Prophecy, que foi lançado lá no PS2 e disponível pra PC. Ele ficou conhecido
por elaborar enredos totalmente profundos, emocionantes, surpreendentes, e
resumidamente ele é um gênio. A espera e expectativa criada em cima do novo
projeto foi tão grande, que a decepção foi maior ainda, o porquê eu explico
quando terminar a analise. A outra polemica foi por parte da Sony no Brasil, a
promessa era que Beyond viria totalmente dublado e legendado em
português-brasileiro, algo que não aconteceu com a versão final do game.
Jogamos com Jodie Holmes, a atriz
Ellen Page deu a vida ao personagem atuando, dublando e servindo como modelo
pra criação. Jodie possui uma entidade, espirito, chamado Aiden, que está
presente na sua vida desde o nascimento. Nós iremos controla-la dos oito anos,
onde ela é separada de sua família e começar a viver em um laboratório
sobrenatural onde estudam sua ligação com Aiden, até seus vinte e três anos
onde ela é enviada ao exercito para treinar seu dom, corpo e sua mente. E é a
partir dai em que ela abandona o militarismo e sai em busca de resposta sobre
ela e Aiden. Você deve estar pensando: Que clichê. Em certa parte é mesmo! Mas
não é assim que funciona durante a campanha inteira, conforme personagens novos
vão sendo apresentados, descobertas sendo feitas, o enredo se torna envolvente,
surpreendente e extremamente emocionante. Eu diria que Beyond é um dos games
mais humanos que já joguei. O simples fato de você ver como a vida de Jodie decaiu
é algo estonteante. O momento em que conhecemos pessoas humildes e somos tão
bem tratados por elas é fantástico, ele pode não ter nada na sua vida, mas
sempre vai procurar dividir o que lhe resta.
Nós não jogamos de uma forma
cronológica, como é de costume em vários jogos, ou seja, os capítulos estão
misturados. Os momentos alternados já pode ser um erro fatal para varias
pessoas. Se você não entendeu, darei uma explicação simples: Estamos jogando
com a Jodie nos seus 15 anos indo pra uma festa de aniversario, após completar esse
capítulo pulamos pra ela com seus 20 em uma missão do exercito, depois ela
criança fazendo testes no laboratório após isso voltamos pra ela sendo caçada
pelos policias. Isso pode prejudicar nossa experiência e interação com a
história do game, quando estamos nos envolvendo emocionalmente, criando um laço
com os personagens, o clima acaba, pois fomos interrompidos com a mudança de
tempo e lugar, basicamente perdemos o foco. A campanha gira em torno de sete a
dez horas.
Existe outro problema envolvendo
a história. Como eu disse cada escolha que fazemos muda o desfecho da história,
tanto no decorrer dela quanto no final. Só que Beyond não funciona muito bem
assim. Nós temos possiblidades de escolher o que fazer em determinada cena, só
que qualquer coisa que você escolha ou faça, vai resultar em um único desfecho.
Por exemplo: Estamos em uma festa de aniversario e alguém nos pede pra escolher
a musica. Temos diferentes tipos como rock, pop, country, etc., qualquer uma
que escolhemos, vai estar errada. Outro exemplo: Na demonstração disponível,
estamos sendo caçado, saímos do trem, percorremos a floresta, subimos uma
parede e temos que passar despercebido pelos policias pra chegar à moto e
fugir, mesmo que você seja pego a única diferença é que você não jogará tudo
isso. Jodie aparecerá em um carro de policia, Aiden vai abrir a porta e pegamos
a moto. Ou seja, a linearidade, se comparada com Heavy Rain, é alta. A sensação
de liberdade é praticamente ausente, pois se alguém vai te dar um objeto, você
não tem como recusar, se você ficar parado os personagens ficarão congelados, mas
isso não é ruim, afinal o game possui doze diferentes finais e vai ser mínimos
detalhes que o alterarão.
A jogabilidade de Beyond, aposto
que vocês já devem saber como funciona. Vamos começar falando de como jogamos
com Aiden. Como ele é um espirito ele atravessa paredes, interagi com objetos
seja pra mostrar a raiva que está sentindo ou usa-os para ajudar, proteger,
Jodie. Nós podemos possuir pessoas que são indicadas com: Um contorno Azul
envolta do corpo quer dizer alma e não é possível fazer nada com ela, Laranja
quer dizer que a pessoa está frágil, deixando elas adormecidas, se alguém a
toca automaticamente ela acorda e expulsa Aiden do corpo, se possuímos um
soldado, por exemplo, nós usamos sua arma para matar outras pessoas ao redor e
após isso, nos matamos. Já Vermelho quer dizer o ódio, nós os possuímos e o
matamos enforcados, asfixiados. Além disso, quando Jodie está em perigo e um
inimigo tenta dar tiros nela, Aiden cria um campo de força envolta, impedindo
os tiros a acertem. Quando estávamos em laboratório, treinando nosso controle,
adquirimos a habilidade de ver o passado de pessoas e objetos de valor
sentimental, ou seja, nós podemos ver o que aconteceu no local, como a pessoa
morreu etc. Quando nos machucamos ou alguém muito ligado a nós, Aiden pode a
curar.
Como eu disse, controlamos Jodie
dos seus oito anos até seus vinte e três. Passaremos por vários momentos da
vida dela, seja criança, quando ela está se separando dos pais e lutando contra
espíritos, é onde o suspense e terror dominam. Adolescência é adaptação, ela
está sem seus pais, sem amigos. Adulta são os momentos de ação, já que ela vai
a missões pelo exercito, lembra muito Metal Gear, não só pelos momentos
furtivos, mas também na própria movimentação. Fugitiva são os momentos tensos,
dramáticos e emocionantes. E o ultimo é a crise de Jodie, depressivo, suicídio,
etc. O game abusa de QTE (Quick Time Events), onde temos que apertar ou segurar
os botões indicados na tela. Usamos os analógicos para controla-la e para fazer
ações tais como lutar, pegar objetos, fazer perguntas, dar respostas, e vários
outros. E lembrando que Beyond não possui ‘’Game Over’’. Se você for morrer,
alguém perto irá te ajudar e o que pode prejudicar é o capitulo ser encurtado
por você não ter chego em determinado ponto e consequentemente pode ou não
tirar um final disponível.
A gameplay é diferenciada, mas
mesmo assim existem alguns problemas. Nós não podemos nos separar de Jodie
quando jogamos com Aiden, eles são ligados por um cordão, quando tentamos ir
para outra sala ou cômodo pra ver o que está acontecendo ou ver o que tem
dentro, temos uma barreira, ou seja, até com Aiden a liberdade é um tanto
ausente. A movimentação de Jodie é travada e irritante. Não podemos controlar a
velocidade com que ela anda e se existe um objeto na frente dela é não consegue
move-lo pra sair do lugar, mesmo sendo o objeto mais leve existente no cenário.
Mesmo tendo esse pequenos problemas podem chegar a irritar alguns, já outros
podem passar despercebidos. Os controles são bem simples, não há segredo, não
precisa de muito tempo pra se acostumar a não ser em combate onde temos que
mover o analógico pra direção em que Jodie se mexe, ou seja, se ela vai bater
com a perna esquerda, a câmera fica lenta e temos que mover o analógico pra
esquerda, pode confundir um pouco no começo, mas após algumas horas de
treinamento é bem simples.
Os gráficos é um absurdo. Eu acho
que é um dos melhores gráficos que já vi em um console! Texturas, expressões
faciais, detalhes, física, é simplesmente fantástico. Beyond pode até ser uma
amostra do que pode vir na próxima geração de consoles. Eu não preciso dizer
nada a respeito de expressões faciais e movimentação por que a Quantic Dream
usa uma das melhores tecnologias a respeito de captura de movimentos, ainda
mais com a atuação de Ellen Page não tem o que reclamar.
A ambientação é fantástica. O
mundo de Beyond é espetacular, vamos de laboratórios sobrenaturais até
florestas, desertos, acampamento militar, cidades em guerras, é sem palavras,
só jogando pra entender, obviamente que a sensação de repetitividade é nula. Os
cenários junto com os gráficos super-realistas leva o hardware do Playstation 3
aos limites, sem brincadeira. E lembrando que quem for jogar e estiver no
capitulo ‘’Navajo’’ prestem bastante atenção na personagem que aparece,
Shimasani, o detalhe facial dela é o melhor que eu já vi. Não procure nada na
internet, isso perderá completamente a experiência com o game!
A trilha sonora é original. Desde
os momentos tensos, dramáticos, emocionantes até os mais calmos é extremamente
bem feita. Os efeitos sonoros sejam de Jodie andando na neve até o abrir de uma
porta, som de tiro ou soco, é lindo. A dublagem eu não preciso dizer nada já
que os atores que serviram como modelo, dublam os respectivos personagens,
William Dafoe (Duende Verde) está no game pra quem não sabe. Um detalhe
especial pra Jodie cantando e tocando violão no capitulo ‘’Homeless’’. É um dos
momentos mais humanos que já vi e também um dos meus favoritos, isso é um
simples fator que faz Ellen Page merecer o que tem. A dublagem em português-brasileiro não tem
como analisar por que vocês já ficaram sabendo o que aconteceu em relação ao
game e a distribuição da Sony.
Normand Corbeil era o compositor
do game, e de outros títulos como Heavy Ran, só que infelizmente ele faleceu
devido a um câncer pancreático. Hans Zimmer e Lorne Balfe se juntaram pra
finalizar a trilha sonora. No final do game, nos créditos, aparece uma
homenagem a ele, o que vale a pena ressaltar, pois foi uma grande perda. O cara
mandava bem no que fazia.
Mas afinal, Beyond: Two Souls
vale a pena?
Sim.
Beyond pode ser aquele game que
eu posso amar, mas você pode odiar. Ele conta com um enredo fantástico, uma
trilha sonora única e um mundo totalmente novo e diversificado, só que claro,
possui alguns problemas. Em meu ponto de vista, ele teve um hype, uma espera,
tão grande que acabou decepcionando alguns pelos fatores citados na analise. Só
que isso não tira o brilho nele, ele pode não ser candidato a Jogo do Ano pelas
notas tão baixas e por não ser um ‘’Nível David Cage’’, pois se prestarmos
atenção, Cage mostrou muito mais o lado diretor do que escritor, mesmo Beyond
tendo duas mil paginas de roteiro. Mas mesmo assim, ele é fantástico e com
certeza merece pelo menos uma jogatina. Pode não ser memorável pra alguns, mas
com certeza é um excelente titulo na biblioteca do Playstation 3. E tenha em
mente que não é possível pular as cutscenes, ou seja, se você gosta de ação
frenética e não é de ver todas as cenas, já pode ser um grande problema. Diríamos
que Beyond não é titulo pra todos.
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