A paixão inesperada, o reencontro e sentimentos que se
mantém depois de tanto tempo e, por fim, a vivência de todo o sentimento, com
os altos e baixos de um relacionamento. Essa poderia ser uma definição bem
breve e superficial da espetacular trilogia de Richard Linklater e seus
parceiros, Julie Delpy e Ethan Hawke (a qual sou fã incondicional!).
Após assistir “Antes da Meia Noite”, fica aquela sensação
agridoce, de como aqueles dois lados da vida estão sempre presentes em tudo, e
é preciso aceitar que essa é uma imposição natural que existe em nossas vidas.
Vemos aqui o relacionamento de Jesse e Celine elevado ao patamar de um
casamento, compartilhando o cotidiano, agora com filhos crescidos e a ideia é
mostrar o que todo esse tempo de convivência trouxe em suas vidas.
O que diferencia esse filme dos anteriores certamente é essa
inserção de outras pessoas nos diálogos e na vida dos protagonistas, o que já
mostra que sua relação deixou de ser algo exclusivo aos dois, e agora há outras
pessoas a quem devem se dedicar. Aliás, é através de um diálogo com alguns
amigos do casal que começamos a observar que o relacionamento dos dois está
passando por mudanças e conflitos que ainda não vieram à tona, mas a cada
oportunidade é possível sentir uma dose de insatisfação disfarçada por brincadeiras
e comentários desnecessários.
Com o relacionamento mais maduro, a única cena em que é
possível ver o casal se divertindo é quando estão caminhando (como nos velhos
tempos) pela belíssima Grécia, passando por diversos lugares com lindas
paisagens. Seria a escolha do país onde gravaram uma brincadeira, já que citam
tantas vezes durante o filme o quanto a história grega é cheia de tragédias?
Para quem for conferir o filme, certamente é de se pensar que sim.
Celine sente o peso de ser mãe, e reclama por ser sempre a
pessoa que tem que abrir mão de suas vontades por conta do marido; Jesse está
visivelmente frustrado por não ser um pai presente na vida de seu filho do
casamento anterior e está cansado de sua esposa não o aceitar como ele é. Sem dúvidas, retratar esses conflitos de
forma tão simples é o trunfo do diretor e roteirista Richard Linklater, desmistificando
as relações que vemos em outros filmes e sempre se dedicando em mostrar o
quanto seus personagens são humanos e esmagados por seus conflitos.
Como fã do casal, senti falta de ouvir suas conversas leves
sobre coisas banais, e de sentir a paixão transbordando ou ao menos contida,
como no segundo filme. Aqui as coisas já estão diferentes. O peso do
relacionamento e as angústias de todos os sacrifícios que ambos fizeram ao
longo dos anos toma conta das cenas, e pouco se vê daqueles dois jovens de
1994. O filme é intrigante, e certamente mostra uma faceta que muitas vezes
preferimos ignorar: do quanto os relacionamentos são difíceis e nós somos
complicados.
Seria o tempo um fator definitivo no desgaste das relações
humanas? Vivemos cheios de expectativas, somos humanos, mas devemos aceitar que
a vida é como é e só temos isso em mãos? Será possível que nossa idealização
de relacionamento feliz esteja construída sob uma visão distorcida relacionada
a duração e ter filhos? Ao assistir essa trilogia, algo é certo: há muito a se
pensar, discutir e apreciar em todos os incríveis diálogos dessas duas
vidas que se encontraram ao acaso. E ainda torço para que venha o quarto.