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Verônica Martucci Verônica Martucci Author
Title: CANTINHO NERD: Crítica #12 - Antes da Meia Noite
Author: Verônica Martucci
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A paixão inesperada, o reencontro e sentimentos que se mantém depois de tanto tempo e, por fim, a vivência de todo o sentimento, com o...

A paixão inesperada, o reencontro e sentimentos que se mantém depois de tanto tempo e, por fim, a vivência de todo o sentimento, com os altos e baixos de um relacionamento. Essa poderia ser uma definição bem breve e superficial da espetacular trilogia de Richard Linklater e seus parceiros, Julie Delpy e Ethan Hawke (a qual sou fã incondicional!).

Após assistir “Antes da Meia Noite”, fica aquela sensação agridoce, de como aqueles dois lados da vida estão sempre presentes em tudo, e é preciso aceitar que essa é uma imposição natural que existe em nossas vidas. Vemos aqui o relacionamento de Jesse e Celine elevado ao patamar de um casamento, compartilhando o cotidiano, agora com filhos crescidos e a ideia é mostrar o que todo esse tempo de convivência trouxe em suas vidas. 

O que diferencia esse filme dos anteriores certamente é essa inserção de outras pessoas nos diálogos e na vida dos protagonistas, o que já mostra que sua relação deixou de ser algo exclusivo aos dois, e agora há outras pessoas a quem devem se dedicar. Aliás, é através de um diálogo com alguns amigos do casal que começamos a observar que o relacionamento dos dois está passando por mudanças e conflitos que ainda não vieram à tona, mas a cada oportunidade é possível sentir uma dose de insatisfação disfarçada por brincadeiras e comentários desnecessários. 

Com o relacionamento mais maduro, a única cena em que é possível ver o casal se divertindo é quando estão caminhando (como nos velhos tempos) pela belíssima Grécia, passando por diversos lugares com lindas paisagens. Seria a escolha do país onde gravaram uma brincadeira, já que citam tantas vezes durante o filme o quanto a história grega é cheia de tragédias? Para quem for conferir o filme, certamente é de se pensar que sim.


Celine sente o peso de ser mãe, e reclama por ser sempre a pessoa que tem que abrir mão de suas vontades por conta do marido; Jesse está visivelmente frustrado por não ser um pai presente na vida de seu filho do casamento anterior e está cansado de sua esposa não o aceitar como ele é.  Sem dúvidas, retratar esses conflitos de forma tão simples é o trunfo do diretor e roteirista Richard Linklater, desmistificando as relações que vemos em outros filmes e sempre se dedicando em mostrar o quanto seus personagens são humanos e esmagados por seus conflitos.

Como fã do casal, senti falta de ouvir suas conversas leves sobre coisas banais, e de sentir a paixão transbordando ou ao menos contida, como no segundo filme. Aqui as coisas já estão diferentes. O peso do relacionamento e as angústias de todos os sacrifícios que ambos fizeram ao longo dos anos toma conta das cenas, e pouco se vê daqueles dois jovens de 1994. O filme é intrigante, e certamente mostra uma faceta que muitas vezes preferimos ignorar: do quanto os relacionamentos são difíceis e nós somos complicados.


Seria o tempo um fator definitivo no desgaste das relações humanas? Vivemos cheios de expectativas, somos humanos, mas devemos aceitar que a vida é como é e só temos isso em mãos? Será possível que nossa idealização de relacionamento feliz esteja construída sob uma visão distorcida relacionada a duração e ter filhos? Ao assistir essa trilogia, algo é certo: há muito a se pensar, discutir e apreciar em todos os incríveis diálogos dessas duas vidas que se encontraram ao acaso. E ainda torço para que venha o quarto.

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