CANTINHO NERD: Crítica #1 - A Vila

Logo quando o filme "A Vila" (The Village, 2004, M. Night Shyamalan) estreou, lembro bem de ter pensado que devia ser uma história de terror. Aliás, lembro de combinar com minhas amigas de alugá-lo, pois queríamos fazer uma "sessão terror" juntas, mas acabou que nem vimos. De certa forma, é uma pena não ter visto quando eu tinha apenas 12 anos, pois tenho certeza que seria engraçadíssimo ter odiado o filme naquela época e assistí-lo novamente agora. Se você der uma lida na sinopse, parecerá algo meio sinistro mesmo, eu mesma pensei isso ao alugá-lo (..."quero ver um suspense"...wrong).

A história se passa num pequeno vilarejo do século passado (muitíssimo bem ambientado, aliás), mas esse lugar aparentemente calmo tem algo a mais. Com um limite de espaço a ultrapassar definido, os moradores não devem atravessar a fronteira até a floresta, pois "Aqueles de quem não falamos" (Harry Potter feelings aqui) habitam o outro lado, criaturas perigosas, segundo os habitantes mais velhos da vila, ficando assim restrita a passagem "às cidades".

Atingidos pelo medo do desconhecido, as pessoas da vila respeitam e não questionam o que há do outro lado, e assim  seguem vivendo em perfeita harmonia com o que possuem ali, montando guarda dia e noite para vigiar a paz da comunidade. Mas é claro que tem que haver uma força oposta à maioria, e eis o motor da história: Lucius Hunt (interpretado pelo queridíssimo Joaquin Phoenix) começa a questionar os limites impostos pelo conselho da vila e as consequências de seu questionamento começam a aparecer, dando início aos muitos conflitos que hão de aparecer.

Sim, a premissa é muito boa, ainda mais vindo de um diretor que fez um clássico aclamadíssimo do suspense (O Sexto Sentido, 1999). Bom, aí pode estar o problema do filme dividir tantas opiniões com seu final: as expectativas acabam sendo grandes. Pobre Shyamalan, as pessoas não entenderam que você não é um diretor APENAS de suspense (deixem o homem trabalhar!)

A verdade é que "A Vila" tem muito mais a oferecer do que só uma história de mistérios. Com um roteiro cheio de simbologias e metáforas, é um filme que questiona os aspectos que formam uma sociedade, e como o medo é uma ferramenta forte pra mexer com o psicológico. Aliás, vou mais além: também é uma história de amor e de esperança, afinal. Há muito o que analisar e o que questionar sobre aquele lugar, e essa é a chave do filme, você pode se guiar com a interpretação que melhor desejar, você decide o que te marcou mais daquele vilarejo e daquelas pessoas.

Eu poderia me prender a algumas falhas do roteiro que são meio chatinhas, mas optei por deixá-las de lado, já que a mensagem do filme é tão forte que seria um desperdício me prender justamente a isso.

"Sometimes we don't do things we want to do so that others won't know we want to do them."