A prova de que uma em cada cem vezes os algoritmos do Facebook acertam é Alice Júnior ter me encontrado. Uma propaganda aleatória abriu os meus olhos pra essa preciosidade brasileira, mas o nível de empolgação foi igual ao desânimo, já que estamos em uma pandemia e não tem a mínima chance de eu ir em uma sala de cinema. Quando tudo parecia estar perdido, me vem a Netflix com a notícia que tinha incluído Alice Júnior em seu catálogo.
O filme segue a história de Alice, uma adolescente pernambucana que acabou de participar de um reality show chamado Next Teen Top Model e agora curte um pouco da fama mesmo tendo ficado em segundo lugar. No meio disso, estão as descobertas da adolescência e a vontade de perder o BV(todxs passamos por isso, Alice). Seu pai trabalha na indústria de cosméticos e recebe a proposta de desenvolver uma nova essência, mas para isso eles terão que mudar para uma cidade no interior do Paraná.
A situação é complexa para qualquer um, mas para Alice se torna um desafio ainda maior já que ela é uma mulher trans e ir para uma cidade conservadora, longe de seus amigos e do ambiente familiar é tudo o que ela menos precisa. Eu fiquei apaixonada pela personagem, ela é forte, engraçada e sincera. Sua história foi construída em um bom equilíbrio entre ser uma adolescente cheia de tensões com também ser uma mulher trans que acarreta ainda mais desafios perante a sociedade do que o habitual.
O filme tem uma ótima edição e quase não vemos o tempo passar. A linguagem é compatível com a realidade e as situações também. A minha única reclamação é que eu poderia passar mais tempo com essa história, uma hora e quarenta minutos é pouco. Durante o filme, Alice vai descobrindo a sua galera, se integrando com as pessoas que não só a aceitam, mas também são capazes de se autoanalisar e ver quais sãos os seus próprios preconceitos.
Há conflitos pelos quais a personagem passa no longa que seriam spoilers se eu dissesse, mas quero destacar o relacionamento entre pai e filha que é muito bonito. Foi emocionante ver uma relação saudável assim e como um podia contar com o outro para estar ao seu lado.
Ver uma adolescente trans em tela tendo o destaque que ela alcançou é uma vitória para todos. Alice Júnior é uma história sobre crises juvenis, mas com uma personagem que quase nunca é permitida a aparição nesse tipo de cinema, consequentemente toda uma outra perspectiva é representada. Pessoas trans têm o direito de se verem refletidas em qualquer espaço e em qualquer tipo de história.
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