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Title: CIÊNCIA E LITERATURA: A COMBINAÇÃO PERFEITA PARA DEBATES EXISTENCIAIS E ÉTICOS
Author: Diário de Seriador
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Para termos essa breve conversa sobre ciência e literatura é preciso ambientá-los sobre quem sou. Prazer, meu nome é Michelle e sou apai...

Para termos essa breve conversa sobre ciência e literatura é preciso ambientá-los sobre quem sou. Prazer, meu nome é Michelle e sou apaixonada por duas coisas desde muito pequena: literatura e bilogia. Da mesma forma que cresci cercada por livros e apaixonada por esse universo, eu sempre soube que seria bióloga. Essa paixão começou cedo, no auge dos meus seis anos de idade e hoje, com 23 anos e bióloga formada, posso dizer que sou apaixonada por ciência. Pela arte da pesquisa, das descobertas e, claro, dos debates que cercam esse universo. 


Em parceria com a companhia das letras, recebi dois livros sobre o tema: O gene egoísta e A vida imortal de Henrietta Lacks. E vou conversar brevemente sobre estes dois livros com vocês agora.

O gene egoísta, escrito por Richard Dawkins, vem para sacudir e levantar debates à cerca da biologia evolutiva trazendo uma teoria polêmica e provocativa. Os genes seriam a unidade minima de evolução e estes agem de maneira a sobreviver em meio a seleção natural, leia-se aqui como conseguir espalhar uma grande quantidade de cópias de si mesmo para se manter "vivo" dentro das espécies. 

A grande polêmica que gira ao redor do livro, escrito em 1970 (importante lembrar que muito do que se sabe hoje, a respeito de tudo e todas as coisas, não era conhecido na época), é que neste livro nós, seres humanos, somos vistos como uma gigantesca máquina de replicação desses genes que buscam "sobreviver" e se multiplicar. É como se os genes competissem entre si e a sobrevivência de determinados genes em relação aos seus "concorrentes" determinam as frequências alélicas desses genes nas populações.



Obviamente esta tentativa de sobrevivência não é intencional, como se os genes tivessem vontade própria e quisessem se multiplicar. Eles apenas o fazem. Cada gene expressa um conjunto de instruções, que podem resultar tanto na coloração de determinado animal, nos padrões de folhas de uma planta ou, até mesmo, na tendência comportamental de determinado individuo. Aquele que tiver o fenótipo melhor adaptado as condições impostas à ele, teria maior sucesso reprodutivo e os genes que este individuo possuísse seriam passados para a próxima geração garantindo, assim, o sucesso de sobrevivência deste gene. 

É claro que desde o lançamento da obra até hoje, muita coisa mudou. A visão de muitos fundamentos genéticos e bioinformáticos hoje são mais conhecidos, porém, a leitura de Dawkins ainda é algo essencial para quem gosta do tema e para quem busca uma reflexão a cerca da biologia evolutiva. Cabe a cada um fazer sua leitura e retirar dali o que acredita ou concorda ou nenhuma das duas alternativas. 


Estou atualmente fazendo mestrado em genética e durante uma aula de citogenética meu professor mencionou este livro, sugeriu que fizéssemos a leitura e ainda bem que segui a recomendação. Henrietta Lacks salvou a vida de muitas pessoas mas você pode não fazer ideia disso. Você já ouviu falar ou sabe o que são as células HeLa? 

O ano é 1950 e Henrietta é uma mulher pobre, negra e que está morrendo de câncer de colo de útero. Não é um cenário anormal para a época, mas o que acontece a seguir mudou para sempre a ciência como conhecemos. Na época, vivendo nos EUA segregacionista, Henrietta estava no único hospital que atendia os negros e morreu depois do câncer se espalhar tão rapidamente que os tratamentos já não faziam mais efeito. O hospital era o John Hopkins e ali mesmo, o fisiologista George Rey tentava isolar células que fossem capazes de sobreviver fora do corpo humano para estudo. E, sem o consentimento da paciente, passou a utilizar as células dela para este fim. As células não apenas sobreviveram, elas se multiplicaram. E continuam se multiplicando até hoje. Henrietta se tornou imortal com suas células (HeLa, em homenagem ao seu nome) sendo utilizadas até hoje. 

Rebecca, a autora, levou 10 anos para escrever a historia de Henrietta que havia se interessado aos 16 anos. Em sua pesquisa com a família, descobriu que a família da mulher negra que mudara o curso da história, não fazia ideia que as células de sua mãe estavam sendo utilizadas. As células HeLa viraram um negócio multi-milionário e a família não fazia ideia (ou tinha sequer recebido qualquer dinheiro e vivia, portanto, na pobreza). 


Aqui nós temos um debate ético muito forte bastante importante, sobre o quão violados os direitos de Henrietta foram e o quão longe a ciência pode - e deve ou não - ir. Além disso, o livro é uma mistura de livro de ciência, nos mostrando tudo que as células HeLa significaram para o mundo e como foram importantes em inúmeras descobertas, como a vacina da poliomelite. Mas, também. vai de encontro da histórias pessoais da autora e de Deborah, filha de Henrietta, em busca de detalhes sobre a vida de sua mãe. 

É claro que aqui também é necessário entrar no debate racial e pensar, bastante, no racismo. Se Henrietta fosse branca e sua família também, será que a ciência seria tão negligente com eles como foi? Esses são debates inevitáveis de se fazer durante a leitura deste livro tão necessário e tão importante. 


Ficam aqui essas minhas duas dicas de leitura que mesclam ciência, literatura e debates essenciais de serem feitos. Para a leitura de "O  gene egoísta" eu indico que você saiba um pouco mais sobre o tema genética para a leitura, acho que isso pode gerar debates e pensamentos mais interessantes, até mesmo para saber se você concorda com os pontos o autor ou não. No caso de "A vida imortal de Henrietta Lacks", indico para o público geral, A escrita de Rebecca não te deixa perdido em nenhum momento e, é claro, o mundo precisa saber da história dessa mulher. 

Espero que vocês consigam aproveitar a leitura (e tudo que elas te propõem para refletir) tanto quanto eu aproveitei. 


O Gene Egoísta

Autor: Richard Dawkins 
Editora: Companhia das letras
Páginas: 544
Ano: 2007
Onde Comprar: Compare aqui.

Livro cedido pela editora para resenha.






A Vida Imortal de Henrietta Lacks

Autor: Rebecca Skloot
Editora: Companhia das letras 
Páginas: 456
Ano: 2011
Onde Comprar: Compare aqui.

Livro cedido pela editora para resenha.




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