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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: [CRÍTICA] O SOM DO SILÊNCIO - A INCERTEZA DO FUTURO
Author: Jéssica Ohara
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Alguém ri do seu lado. Você responde. Os dois riem. Você diz outra coisa. A pessoa ri. Mas você já não consegue mais ouvir, em um instante t...

Alguém ri do seu lado. Você responde. Os dois riem. Você diz outra coisa. A pessoa ri. Mas você já não consegue mais ouvir, em um instante todo o barulho, som, farfalhar some e há um silêncio que preenche todos os espaços. Você não consegue mais se ouvir. Assim, em dois minutos sua vida muda irreversivelmente.

Em O Som do Silêncio é isso o que acontece ao baterista Ruben, em alguns minutos todos os sons somem e só ficam ruídos abafados. A história acompanha o artista a partir do momento que ele descobre a perda auditiva e sua adaptação a sua nova condição. Um músico em ascensão, viciado em recuperação e apaixonado, toda a sua pretensão de futuro mudada em um minuto.

Eu dividiria esse filme como uma peça em três atos, nos quais podemos acompanhar não o desenvolvimento de uma doença, mas a capacidade de uma pessoa de se adaptar a situação. Ruben veio de um lar despedaçado e teve uma vida difícil, só encontrando paz através da música e do seu amor por Lou. Os dois são como bússolas um do outro em um caminho de escuridão. O primeiro sentimento de Ruben, muito bem explorado durante o longa, é a raiva por, na sua percepção, perder tudo o que havia construído.

Nós vivenciamos com o protagonista todas as fases de um luto, com direito aquele sentimento de frustração que preenche. Vemos um Ruben preso a uma ideia de futuro enquanto tenta vivenciar o presente e suas possibilidades. Durante o filme, vemos ele aprender um novo idioma, ele convivendo com pessoas muito diferentes, entendendo que não é preciso que se conserte tudo. 

O ponto marcante da história é a mensagem de que a gente aprende pelos nossos erros e pelas horas que aceitamos quem nós somos. Todos os personagens percorrem esse caminho, eles se viam escondidos na rotina, deixando de enfrentar seus medos, presos a uma ideia rápida de salvação. Nós vemos eles nos vários estágios dessa jornada.

 Destaco aqui o personagem de Paul Raci, Joe, um alcoólatra em recuperação, surdo, que abriga outras pessoas em sua casa que precisam de ajuda para aceitar a surdez. É ele que guia Ruben nesse mundo e o faz com maestria, sua atuação emociona. A sabedoria de Joe não vêm do mito do velho sábio, mas sim daquele que sofreu e entende cada fase que as pessoas a sua volta passam. O melhor diálogo fica por conta dele e Ruben quase no final do filme.

Esse é um dos mais fortes concorrentes ao Oscar que eu vi, as metáforas nos seus títulos foram certeiras. Em inglês, Sound of Metal, tanto remete a música como ao som das vozes depois que Ruben coloca o implante. Já em português, é uma referência direta a quietude que Joe fala e que Ruben presencia verdadeiramente ao final. A cena final é uma das belas sequências que eu vi, a completa aceitação de quem ele é, de quem ele foi e quem ele será.

TRAILER O SOM DO SILÊNCIO

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