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Jéssica Ohara Jéssica Ohara Author
Title: [CRÍTICA] NOMADLAND - CRIANDO UMA ESTRADA
Author: Jéssica Ohara
Rating 5 of 5 Des:
A princípio, eu achei que esse seria um filme sobre viagens e paisagens, aquele típico conhecer pessoas e sentir a emoção da vida. Mas eu me...

A princípio, eu achei que esse seria um filme sobre viagens e paisagens, aquele típico conhecer pessoas e sentir a emoção da vida. Mas eu me enganei quanto a intensidade e o tom  que Chloé Zhao daria a essa história. Nomadland é um filme sobre reconstrução após a decepção com o sistema, não é nem exatamente sobre o momento que você percebe que aquela realidade tão bem construída era uma ilusão. É sobre o momento seguinte, sobre enfrentar o luto da perda de uma pessoa amada e da sociedade em si.

Fern é uma mulher de meia-idade que se tornou viúva há pouco tempo, além de perder seu grande amor, também perdeu a cidade na qual ela havia construído uma vida. Com a falência da fábrica, a cidade industrial Empire foi se desmoronando e em um curto período aquele lugar deixou de existir. Sem perspectivas de vida e emprego, Fern vai com a sua van tornando-se aos poucos uma nômade moderna. Parando de local em local para empregos temporários, conhecendo pessoas e entendendo o que houve na sua vida.

Pra mim, o mais bonito da história toda é a falta de romantização da situação de Fern e das pessoas que ela encontra. Não quero dizer com isso que tudo é violento e difícil, e sim que tudo é muito real. Claro que colabora o fato da maior parte dos nômades que ela encontra sejam pessoas que realmente estão nessa jornada fora das telas. Esse toque comum deixa o filme extremamente próximo de quem o assiste.

Quando eu ouvi falar de Nomadland, o filme me foi recomendado como uma crítica ao neoliberalismo feroz. O que realmente existe na história, mas é muito mais sutil do que pareceria a primeira vista. Nada nesse sentido é feito de forma direta, mas é inevitável ao ver a situação das pessoas, suas histórias, como elas chegaram até ali, perceber que há algo de errado, e muito, no sistema no qual vivemos.

Zhao mostra um outro tipo de sociedade possível e que está se formando, com todos os seus defeitos e qualidades. Fern nessa história é como uma guia que nos leva a conhecer os detalhes e curiosidades desses tempos e espaços. Frances McDormand nos dá uma atuação contida em gestos, mas com olhares tão poderosos que é possível entender cada fase que ela passa através de suas expressões. Nós conhecemos uma Fern que está sofrendo, se adaptando a solidão e tentando se conectar de alguma forma, mas com quem ou o que não se sabe.

O sentimento final que esse filme passa é uma certa melancolia  pelo o que já se viveu e as possibilidades do futuro. Há muitas passagens bonitas, mas o melhor delas está exatamente que elas podem ser encontradas fora da tela, que são coisas comuns, do cotidiano. São essas as que fazem diferença no final da estrada.

TRAILER NOMADLAND 


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