

Por décadas, o único vínculo humano com a Área X — um lugar cercado por uma fronteira invisível, misteriosamente sem vestígios de civilização — foram as expedições monitoradas pelo Comando Sul, uma agência secreta do governo. Após a tumultuada décima segunda expedição, narrada em Aniquilação, a agência acaba imersa em um completo caos. John Rodriguez, conhecido como Controle, é então nomeado diretor. Apesar dos funcionários desconfiados e desesperados da agência, da frustração dos interrogatórios e anotações que parecem não levar a lugar algum e das horas e horas de registros em vídeo a pesquisar, Controle começa a desvelar os segredos da Área X. Mas, a cada descoberta, ele precisará confrontar verdades perturbadoras sobre si mesmo e sobre a organização para a qual se comprometeu a trabalhar. Em Autoridade, segundo livro da trilogia Comando Sul, as perguntas mais inquietantes sobre a Área X são respondidas. Mas o que se descobre está longe de ser reconfortante...Jeff VanderMeer surpreende mais uma vez com uma obra impossível de parar de ler. Uma narrativa tensa, que mescla com maestria terror e ficção científica.

Havia algo fora do lugar quando li
Aniquilação. Não me entendam mal, amei o livro, mas uma sensação de falta foi inevitável. Cheguei a pensar que a causa estava na história, mas era na leitora que vos fala. Não sou dessas que acreditam em épocas certas para ler um livro: você não precisa ser a pessoa mais madura do mundo, com quatro doutorados e uma ida à Lua para apreciar Dostoiévski, você só precisa se abrir à essa experiência. Passaram-se três anos desde a primeira leitura, acredito que eu adquiri uma melancolia (que meu amigo diz que pode ser boa), típica da vida adulta, que me ajudou a perceber outras camadas na história. Em
Autoridade consegui compreender muitas coisas, mas a mais importante foi saber que a Área X afeta as pessoas modificando a própria ideia do que é o ser, de forma ontológica.
No final de Aniquilação, a bióloga assume sua nova identidade, ela assume a mudança que acontecia em seu interior e, nesse momento, há a criação de uma certa autonomia. Acabam-se as tentativas de desvendar ou destrinchar o novo ambiente, ela aceita, sem se entregare. Não há passividade em seu gesto, e sim uma vontade de viver junto, mesmo com a compreensão de qual será o seu inevitável destino. A área X não cede, mas também não força, finalmente um equilíbrio.
Já no segundo livro, o movimento é contrário. O personagem principal se chama Controle, e, ao decorrer da história, você é levado a perceber como nomes são falhos, diferente do que a diretora pensava, a impessoalidade não faz com que a pessoa se torne o conceito. John Rodrigues se torna cada vez mais John Rodrigues e menos Controle, com os seus medos e passados sendo abertos e expostos diante de si e dos outros. A narrativa é perpassada por uma crítica fortíssima quanto aos meios de espionagem e repressão dos governos. Apesar de serem profundamente vigiados, os membros do Comando Sul não se sentem protegidos ou capazes de proteger, eles foram absorvidos aos poucos pela Área X. Comidos por dentro ao mesmo tempo que mantém uma falsa aparência de normalidade, esperando a barreira romper. E, meus amigos, como rompeu.
O narrador é de uma parcialidade sem tamanho, não consegui confiar nos seus julgamentos, mas isso também trouxe um senso de humanidade para o personagem. Mesmo quando ele errava, não senti raiva ou fiquei decepcionada, erros que qualquer um podia cometer. O que não diminuiu sua força, ele foi enganado e traído por quase todas as pessoas. A relação dele com a Ave Fantasma foi um dos pontos altos, ela se negou a um escrutínio, não dando respostas fáceis ou compartilhando suas dúvidas. Sendo seu duplo, é óbvio que me lembrou a bióloga, mas foi diferente, VanderMeer colocou as nuances certas para que não nos distanciássemos da personalidade da bióloga assim como soubéssemos que era alguém diferente, modificado.
No primeiro livro, a ideia do que era o Comando Sul tinha ficado bem embaçada. Autoridade finalmente nos dá algumas respostas sobre o que é essa força governamental e como está ocorrendo a sua deterioração. Grace foi uma personagem bem ambígua, não sei se gostei dela, ficava com pena do John, mas também não podia confiar totalmente na opinião dele. Quem eu mais simpatizei foi o Whitman (gosto de sadboys), que provavelmente foi o único que entendeu a verdadeira natureza da área X e por isso não suportou.
O final de Autoridade foi completamente eletrizante e deixou um gancho incrível para Aceitação. Vamos ver como VanderMeer vai acabar comigo dessa vez.
AUTOR(A): Jeff VanderMeer
TRADUTOR(A): Braulio Tavares
PÁGINAS: 384
LANÇAMENTO: 2015
ONDE COMPRAR: Aqui
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