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Title: SEM AMOR: REPRESENTANTE RUSSO NO OSCAR 2018
Author: Rafael Bürger
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Três anos após Leviatã   ter sido indicado ao Oscar e vencido o Globo de Ouro de filme estrangeiro, o diretor russo  Andrey Zvyagintse...



Três anos após Leviatã  ter sido indicado ao Oscar e vencido o Globo de Ouro de filme estrangeiro, o diretor russo Andrey Zvyagintsev volta a marcar presença na categoria com um filme e uma crítica social tão poderosos quanto o anterior.

Em Sem Amor, o casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Alexey Rozin) estão nos últimos estágios de um amargo processo de divórcio. Mesmo ainda morando sob o mesmo teto, ambos já possuem outros parceiros. O único elo que ainda resta entre os dois, é o filho de 12 anos deles, Alyosha, do qual a guarda é a maior motivação das brigas do casal. Boris tem uma nova esposa, grávida de um filho dele, e espera que a mãe fique com a guarda integral da criança. Já Zhenya, não quer ter que cuidar sozinha da bagunça que o marido fez e ficar com a total responsabilidade sobre o filho. Mergulhados em seu próprio universo egoísta, os pais só viriam a perceber que o menino fugiu de casa dois dias após o ocorrido, e portanto são obrigados a se juntar para encontra-lo.


Ao contrário do seu filme anterior, onde a crítica se encontra no conflito entre o homem e um estado fortalecido, burocrático e com fortes ligações com a igreja, Zvyagintsev, faz a crítica em um recorte bem mais pessoal focando no conflito do homem com o próprio homem. Aos poucos o diretor disseca e analisa as relações humanas daqueles personagens pertencentes à sociedade da classe média russa, e ao faze-lo tem a habilidade de conseguir universalizar, de modo que aquelas situações sejam relacionáveis com outros países. É impossível não lembrar de Black Mirror, seja pela fotografia que abusa de luzes duras e uma paleta de cores acinzentada, ou pela presença constante de celulares e outros itens tecnológicos. No entanto existe todo um tratamento dado pelo diretor na maneira com que ele conta com imagens a história, abusando de planos de florestas, lagos e estruturas abandonadas da era soviética no inverno, de maneira a fazer uma clara referência ao grande mestre do cinema russo, Tarkovsky.


É chocante a maneira como as relações humanas retratadas são frias, egocêntricas, hedonistas e em alguns momentos até mesmo cruéis. É interessante como o roteiro brinca com as diferenças e desentendimentos entre as gerações: a mãe de Zhenya, que viveu quase toda a sua vida sob o domínio soviético, Boris e a própria Zhenya, que apesar de passarem seus primeiros anos no mesmo ambiente dos pais, descobriram o mundo capitalista e globalizado, e Alyosha, que já nasce em plenao mundo globalizado. É bem nítida a noção desses descompassos. Por último, o filme pode ser visto como um mergulho numa busca por uma identidade nacional, nos mostrando uma Russia presa entre as angústias do passado como grande superpotência mundial, e as de um futuro capitalista e globalizado, e assim como Alyosha, completamente perdida.

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