A nova edição da premiada biografia de Clarice Lispector.
Este livro, lançado originalmente em 2009, deu aos brasileiros uma nova imagem de Clarice Lispector e consagrou sua obra no exterior. Se hoje Clarice é uma figura mítica das letras brasileiras - bela, misteriosa e brilhante -, sua vida foi recheada de percalços que a tornam mais complexa do que mostra a imagem oficial. Ao empreender uma síntese inédita entre vida e obra de uma autora clássica, Benjamin Moser deu uma contribuição de extrema importância para a cultura brasileira.
Consigo me lembrar de como eu tinha medo de ler Clarice. Minha irmã mais velha amava e sempre me falava o quão complexo era tudo que ela escrevia. Eu fugia de Clarice por medo de sua complexidade e é irônico e belo o fato de hoje eu amá-la tanto justamente por este motivo. Fui obrigada a ler Clarice para o vestibular e, desde então, sou grata por cada linha que esta mulher já escreveu.
A biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamin Moser, publicada inicialmente em 2009, foi relançada em 2017 pela Companhia das Letras numa edição linda de ver e de ler, diga-se de passagem. Moser nos apresenta a história completa de Clarice dividida em 45 capítulos e praticamente em ordem cronológica, seguindo sua origem na Ucrânia até seu falecimento em solo brasileiro, mais especificamente no Rio de Janeiro.
Clarice era uma mulher que existia porque escrevia. Essa era a razão da vida da escritora e Moser faz um trabalho fenomenal ao traçar essa obra sobre sua vida com seus livros, entrelaçando as duas coisas como se fosse uma, o que de fato eram. O autor da biografia procura a todo momento ser o mais fiel possível para com a história de Lispector, envolvendo um trabalho de pesquisa, apego e, principalmente, respeito bastante palpáveis durante a leitura.
Contando com fotos e escritos com a letra da própria Clarice, é fácil se encantar com essa escrita e com essa narrativa tão sensacional e detalhada à que somos apresentados. Clarice nasceu um enigma. Clarice era e sempre será um enigma, mas tentar entender a história de uma pessoa que transformou a literatura é sempre algo encantador.
A profundidade das palavras de alguém que sempre viveu em função de escrevê-las, sempre será algo que me deixa atordoada ao ler Clarice Lispector. Ela não gostava de ser endeusada dentro da literatura, mas ela era monstruosamente poderosa com as palavras. Brincava com elas com uma facilidade que assusta e que toca. A doce complexidade de quem faz aquilo que ama e que nasceu para fazer.
Este livro é uma leitura essencial para quem ama Clarice Lispector ou para quem quer conhecê-la. A leitura dessa biografia é algo mágico. E se você também teme a complexidade da autora, saiba que nem tudo se resume ao "O ovo e a Galinha". Há beleza nas palavras de Clarice e vale a pena mergulhar nelas.
A biografia não poderia ter um título mais adequado: "Clarice,"
Clarice Lispector sempre será uma vírgula, afinal, é dificil colocar um ponto final em algo tão inconstante e tão encantador.
Visão de Clarice Lispector (Carlos Drummond de Andrade)
Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.
Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.
O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.
De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.
Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice.
Autor: Benjamin Moser
Páginas: 576
Editora: Companhia das Letras
Lançamento: 2017
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Livro cedido pela Editora Companhia das Letras para resenha ♥
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