Rebecca Solnit é hoje uma das principais pensadoras do feminismo contemporâneo. Autora do famoso ensaio que deu origem ao termo mansplaining, que veio revolucionar o vocabulário das discussões sobre gênero, sua obra é leitura obrigatória tanto para as pessoas mais experimentadas no tema quanto para aqueles que desejam se iniciar em um dos principais debates da sociedade atual. Em A Mãe de Todas as Perguntas, Solnit parte das ideias centrais de maternidade e silenciamento feminino para tecer comentários indispensáveis sobre diferentes temas do feminismo: misoginia, violência contra a mulher, fragilidade masculina, o histórico recente de piadas sobre estupro e outros mais. Cristalinos e contundentes, seus ensaios devolvem ao tema toda a gravidade ele merece, sem abrir mão da poesia e do humor característicos de sua escrita.

Rebecca, em seus ensaios, tenta traduzir de maneira clara e autoexplicativa uma da mais complexas e singulares situações da sociedade atual: o que realmente significa ser mulher?
De primeira instância cabe auferir que... Bem, ser mulher é ser muitas coisas, mas, principalmente, é ser guerreira. Homens (e mulheres também) que se declaram antifeministas irão gritar aos quatro ventos que temos direitos e igualdades e que, de certa forma, nós somos as opressoras hoje. Mas qualquer indivíduo que se reconheça como mulher, seja cis ou trans, sabe muito bem que não é verdade.
Quaisquer mulher enfrentará situações que homem nenhum sonha em se dar de frente. Nós ainda precisamos responder a mãe de todas as perguntas. Ainda cabe a nós a maternidade e o sonho do casamento. Ainda cabe a nós um sistema patriarcal que visa nos controlar, visa ditar nossas vidas de acordo com o desejado por esse grupo determinante.
Sistema esse que controla nossa sexualidade, nossa vestimenta, nossos sonhos e nosso próprio sucesso. Nós devemos ser bem sucedidas, mas nunca mais do que o esperado e sempre almejando a maternidade e o casamento. Devemos nos "dar o respeito", mesmo que quem sexualiza meu, nosso, o corpo de qualquer mulher, é a sociedade machista. Devemos nos enquadrar no que alguns chamarão de arquétipo de Maria: virgem, santa, mãe e esposa. E quando não nos encaixamos, a sociedade, de forma violenta e agressiva, decido nos punir.
E todos fazemos vista grossa disso.
É dessa punição, por exemplo, que surge a chamada cultura do estupro: a culpabilização da vítima pela violência sexual que sofre é uma maneira de controle do sistema patriarcal. De certa forma, quando escutamos que não podemos usar tal roupa, ou dar voz a nosso desejo sexual por sermos mulheres e, que aquelas que forem de desencontro com essas ditas maneiras, mereceram a violência que sofreram, então, estamos de frente a cultura do estupro e de uma forma de controle sob o corpo da mulher por uma sociedade antiga e devassada.
Solnit cria (ou ao menos ela foi a primeira pessoa que vi usar dessa teoria) uma teoria sobre vozes, silêncio e quietude e a monopolização dessas, transformando aqueles que tem voz em ilhas e aqueles que são silenciados em mares. Eu não conseguia parar de aplaudir, ler em voz alta e marcar cada centímetro, de frases, parágrafos, ideias que eram simplesmente perfeitas, pois representavam exatamente o que estamos vivendo.
Transpassar a importância desse livro por um mero resumo chega a ser pecaminoso. Tanto, que o utilizei no meu próprio Trabalho de Conclusão de Curso (TCC pros íntimos), pois queria que o mundo conhecesse o que Solnit tem a dizer.
A mãe de todas as perguntas é um ensaio fluído de assuntos pertinentes ao ser mulher de hoje em dia. Da (re) explosão do movimento feminista, a nova tutela como problema social da violência contra a mulher e até mesmo a legitimação de piadas de estupro (afinal, existe piada de estupro engraçada? A resposta é sim e os exemplos são ninguém menos que Tina Fey, Amy Poehler e Amy Schumer - sendo o da Amy Schumer tão bom que não consegui evitar e utilizei no TCC também), Rebecca demonstra um tino feminista e uma escrita fluída sobre um assunto tão pertinente à nossa sociedade atual.
A todos que acreditam que feminismo não é útil, que mulheres tem direitos iguais aos homens e que, hoje, não existe mais cultura do estupro: a mãe de todas as perguntas talvez te mostre que não é bem assim que a banda toca e que, por mais que muitas batalhas já foram ganhas, muitas outras ainda estão sendo travadas ou nem começaram e é necessário que se discuta sobre isso. Pelo bem do nosso futuro.
"Se o direito de falar, de ter credibilidade, de ser ouvido é uma espécie de riqueza, essa riqueza agora vem sendo redistribuída".
Autora: Rebecca Solnit
Páginas: 200
Editora: Companhia das Letras
Lançamento: 2017
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Livro cedido pela Editora Companhia das Letras para resenha ♥
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