Pedro Juan Gutiérrez diz que 'ao cubano só resta o rum, a salsa e o sexo'. Se o autor não fosse desconhecido em seu próprio país, aos cubanos poderia restar também o prazer dolorido de se verem retratados em 'O rei de Havana', história de um anti-herói adolescente movido a sexo e inteligência cega.
O pobre num país pobre só pode esperar o tempo passar e chegar a sua hora. E nesse intervalo, desde que nasce até morrer, o melhor é tratar de não arrumar encrenca. Mas às vezes a gente, sim, arruma encrenca. Ela cai do céu. Assim, grátis. Sem a gente procurar
O Rei de Havana é uma facada que foi dada subitamente durante um passeio no parque. Você sente a perfuração, o sangramento, e não consegue reagir. Por mais dramática que essa imagem seja, não tem como não se afetar de alguma forma pela história, não é possível não ver a sujeira que a rodeia.
Reinaldo cresceu em uma Havana desconhecida de nós, que não é explorada nem pela propaganda a favor de Cuba nem pela contra. Uma cidade que em quase todos os momentos é bem próxima das grandes metrópoles brasileiras. Um menino que cresceu dentro de uma melancolia e desesperança estruturais. Tudo ao redor dele é dor. A história me lembrou O Cortiço, só que sem as pequenas alegrias(ou ilusões) que esse tinha em algumas partes. O Rei de Havana não apresenta nenhuma passagem que seja mais amena ou livre de uma sensação suja, nem que ao longe.
Adoro a expressão "a calma que vem com o desespero" que se encaixa bem nas situações no livro onde as pessoas pareciam relaxadas e quase alegres perante ao desalento. Rei convive com essas pessoas degradadas e locais destruídos, e nessa relação nem se pode saber quem causou o quê. Perdeu-se o controle até do abandono.
O livro é narrado por uma terceira voz, mas a partir da perspectiva de Rei, as outras personagens permeiam a vida do menino, mas poucos se fixam. Ele nos mostra uma faceta do amor que é suja e auto-destruidora, que não salva nem redime, só consome. O desconforto no estômago volta quando penso no Rei de Havana, uma história pesada, mas extremamente necessária.
AUTOR(A): O Rei de Havana
PÁGINAS: 182
EDITORA: Alfaguara
LANÇAMENTO: 2017
Postar um comentário Blogger Facebook
Click to see the code!
To insert emoticon you must added at least one space before the code.