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Title: [LIVROS] RESENHA - MEIO SOL AMARELO
Author: yngrid
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Filha de uma família rica e importante da Nigéria, Olanna rejeita participar do jogo do poder que seu pai lhe reservara em Lago...




Filha de uma família rica e importante da Nigéria, Olanna rejeita participar do jogo do poder que seu pai lhe reservara em Lagos. Parte, então, para Nsukka, a fim de lecionar na universidade local e viver perto do amante, o revolucionário nacionalista Odenigbo. Sua irmã Kainene de certo modo encampa seu destino. Com seu jeito altivo e pragmático, ela circula pela alta roda flertando com militares e fechando contratos milionários. Gêmeas não idênticas, elas representam os dois lados de uma nação dividida, mas presa a indissolúveis laços germanos - condição que explode na sangrenta guerra que se segue à tentativa de secessão e criação do estado independente de Biafra.

Contado por meio de três pontos de vista - além do de Olanna, a narrativa concentra-se nas perspectivas do namorado de Kainene, o jornalista britânico Richard Churchill, e de Ugwu, um garoto que trabalha como criado de Odenigbo -, Meio sol amarelo enfeixa várias pontas do conflito que matou milhares de pessoas, em virtude da guerra, da fome e da doença. O romance é mais do que um relato de fatos impressionantes: é o retrato vivo do caos vislumbrado através do drama de pessoas forçadas a tomar decisões definitivas sobre amor e responsabilidade, passado e presente, nação e família, lealdade e traição.



Depois que um sentimento incondicional pelo livro hibisco roxo nasceu em meu ser, assim como depois de conhecer sejamos todos feministas, assistido entrevistas com essa autora e agora ter lido este livro não restam dúvidas que eu amo essa mulher maravilhosa.
Meio sol amarelo é mais um livro sensacional da Chimamanda Ngozi Adichie, com a escrita impecável e com personagens bem construídos e bem desenvolvidos. Este livro é um romance, com histórias fictícias que se passam na Nigéria num momento de uma guerra civil que de fato aconteceu. Neste momento, você que está lendo este texto pode estar se perguntando que guerra foi essa que não há recordações em sua memória, pois isso se deve ao fato de que só a America do sul e o continente europeu importa, por exemplo, podemos citar uma infinidade de filmes e livros sobre o exército americano na segunda guerra mundial ou sobre Hitler enquanto tantas outras guerras e outros tantos ditadores são esquecidos. Pois bem, a guerra na Nigéria aconteceu entre 1960 e 1970, ademais nossa autora, depois de muita pesquisa, trás uma ideia de como foi e o porquê, mesmo de uma maneira romantizada, a necessidade dessa disputa. Dessa forma conseguimos entender, ter uma visão geral e ter empatia por esse povo tão sofrido e com a humanidade como um todo, já que Chimamanda aborda tantos assuntos num plano secundário.

Sobre o preconceito contra uma mulher que estuda

 “os pais mandaram ela estudar na faculdade. Por quê? Muito estudo acaba com qualquer mulher, todo mundo sabe disso. /faz ela ficar com a cabeça inchada e aí começa a insultar o marido. Que tipo de mulher ela vai ser, me diga?” A mãe do patrão ergueu uma ponta dos panos para enxugar o suor da testa. “Essas moças que fazem faculdade vão atrás dos homens até ficar com o corpo inútil. Ninguém sabe se ainda podem ter filhos. Você por acaso sabe? Por acaso alguém sabe?”

Sobre a imagem dos político para alguém ignorante

“Até gostaria de sentir dó de verdade, pelo amigo político dela que fora morto, mas os políticos não eram como as outras pessoas normais, eles eram políticos.” (Ugwu)

Sobre o tratamento de um patrão com seu empregado (diferenças econômicas)

“Meu pai e seus amigos políticos roubam dinheiro com os contratos que fazem com as empresas, mas ninguém os faz ficar de joelhos, implorando o perdão. E com o dinheiro roubado eles constroem casas e alugam para gente como esse homem, a preços exorbitantes que os impedem de comprar comida.” 

Sobre o lugar da mulher e a traição

“ Quando seu tio se casou comigo, fiquei preocupada, achando que todas aquelas mulheres de fora acabariam me tirando de casa. Agora sei que nada do que ele possa fazer vai mudar minha vida. Minha vai mudar se eu quiser que ela mude.”

Sobre a fé em tempos de guerra

“Estamos espantados com o bom trabalho que Deus está fazendo aqui”, Richard quis perguntar por que Deus permitira a guerra, para começo de conversa. No entanto, a fé deles o emocionou. Se Deus podia fazê-los genuinamente preocupados com os refugiados, então Deus era um conceito que valia a pena manter.

O livro tem três divisões temporais, antes, durante e depois da guerra, com a narrativa alternada de três pessoas de origem e educação diferentes: Ugwu, um garoto que veio de uma vila trabalhar como criado para um professor universitário, que tantas vezes traz as crendices de seu povo para a casa em que trabalha; Olanna, uma mulher instruída e de uma família rica e influente da Nigéria, namorada do patrão de Ugwu; e Richard, um homem branco e europeu que pretende escrever um livro sobre a arte do povo ibo, além de ser namorado de Kainene, irmã gêmea de Olanna.
A guerra que estes personagens, de etnia igbo (exceto o Richard), presenciaram ocorreu, resumidamente, por causa de disputas etinicas entre os povos Igbo e Hauçás. Nesse tempo, a Nigéria tinha acabado de ser emancipada, mas ainda enfrentava dificuldades com a herança colonial, na qual se constatava uma grande diversidade étnica que dificultava a acomodação pacífica de todos. Somando-se a isso, o cenário político estava instável assim como a economia. Dessa forma os habitantes do sudoeste, os Igbos, fundaram a república de Biafra e as batalhas giraram em torno de reintegrar esta república à Nigéria. O livro narra o lado igbo, incluiseve, o título do livro faz referência a bandeira de Biafra, com seu meio sol amarelo. Contudo, como toda guerra, os conflitos políticos gerados pela ganância humana, acabam se refletindo de maneiras devastadoras sobre todos e sobre a vida dos nossos personagens, que padecem e amadurecem no decorrer de toda história, como pessoas, como família como mulher e aprendem a lidar com a lealdade e as traições.

Trechos do livro que me chamaram atenção:

1- "O livro: O mundo estava calado quando nós morremos
Ele escreve sobre fome. A fome foi a arma de guerra da Nigéria. A fome quebrou Biafra, trouxe fama a Biafra e fez Biafra durar o tempo que durou. A fome fez os povos do mundo repararem (...) e fez os pais do mundo todo dizerem aos filhos para raspar o prato (...) A fome ajudou a carreira dos fotógrafos. E a fome fez a Cruz Vermelha Internacional chamar Biafra de sua maior emergência, desde a Segunda Guerra Mundial."

2- "O que importa é aquilo que puder fazer nosso povo ir para a frente. Vamos presumir que uma democracia capitalista seja algo bom, em princípio, mas se é democracia do tipo que temos por aqui, em que alguém lhe dá uma roupa dizendo que é idêntica à dele, mas só que não serve em você, os botões caíram, então é preciso descartar essa roupa e vestir uma que sirva. Você simplesmente tem de fazer isso!"

3- "É certo que temos que esperar baixas. A morte é o preço de nossa liberdade"

4- "Os tempos tiraram um pouco da capacidade de raciocínio de nós"

5- "Há certas coisas que são tão imperdoáveis que tornam outras facilmente perdoáveis”, disse Kainene.

6- "Mesmo que me custasse a vida, eu estava decidido aprender a ler. Mantenha os negros longe dos livros, mantenha-nos na ignorância, e seremos sempre escravos."


7- "Em todos os períodos da história, as pessoas feridas têm que recorrer às armas para se defender quando as negociações de paz fracassam. Nós não somos exceção. Pegamos em armas pela sensação de insegurança gerada em nosso povo pelos massacres. Nós lutamos em defesa dessa causa."




TÍTULO: Meio Sol Amarelo
AUTOR: Chimamanda Ngozi Adichie
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 504
ANO: 2008
ONDE COMPRAR: Amazon

Livro cedido pela editora para resenha.
06 Abr 2017

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