"Devia ser o Luke. Sempre deveria ter sido Luke".
A primavera chegou em Stars Hollow e, com ela, os nossos adorados festivais que tanto sentimos falta. Com um feirinha de comidas tipicas de cada país, Stars Hollow trouxe de volta aquele clima de amizade e de cidade pequena que todos amamos. Foi maravilhoso ter a oportunidade de ver a cidade reunida novamente e, também, de observar o evento que nós já presenciamos lá no começo da série. Parece que foi ontem que vimos Lorelai correr para dentro do Luke's desesperada para que ele comprasse sua cesta. Parece que foi ontem que eles sentaram no gazebo para comer sanduíches do Luke porque, é claro, Lorelai não conseguiria colocar nada minimamente comestível dentro de sua cesta. Sim, Lorelai, esse momento foi parte do relacionamento inicial de vocês.

No local de comidas coreanas do festival, pudemos ver Mrs. Kim ensaiando com seu coral que parecia levar um choque elétrico a cada vez que o pandeiro tocava e, finalmente, temos a resolução de um mistério que sempre esteve na série: Mr. Kim é real e vive em Stars Hollow! Finalmente o pai de Lane deu as caras para alegria de todos nós que sempre fomos curiosos sobre ele (eu sei que eu era!). Kirk acaba entrando em conflito consigo mesmo ao descobrir que é um monstro porque come carne de porco e Jackson aparece no festival sem Sookie, para tristeza de Lorelai. Os habitantes de cidade continuam fazendo dos festivais algo maravilhoso de se sentir e sempre nos transmitindo aquela vontade absurda e estar lá, experimentando cada coisinha.
Uma das coisas mais questionadas sobre Gilmore Girls esse ano, depois do aumento do público da série, foi a falta de representatividade que ela possui. Então, quando Stars Hollow decide sediar uma parada gay, obviamente, todos ficamos felizes. O assunto homossexualidade começou a ser trabalhado com Michel e seu companheiro em "Winter" e agora um pouco mais. Infelizmente a cidade não tem gays o suficiente e as cidades vizinhas não querem emprestar os seus para a fazer o evento! Vejam o absurdo!
Mais absurdo que isso somente os atores de 2ª que estão hospedados na Dragonfly inn, deixando não apenas Taylor mas Michel também a beira de um ataque de nervos. Michel quer ver a Dragonfly crescer e hospedar Jannifer Lawrence, Lorelai não vê como fazer isso já que a pousada não tem para onde crescer. É claro que este é o sonho da Lorelai e ver o desespero dela quando ela percebe que Michel pode estar saindo é triste de assistir. Esse foi um sonho de Lorelai e Sookie juntas e Michel esteve com elas em cada passa do caminho e ela não quer viver esse sonho sozinha. Isso é compreensível, ao mesmo tempo que é compreensível a necessidade dele de trabalhar em um local maior.

Rory continua sem um emprego fixo mesmo estando com um website desesperadamente atrás da "voz da Rory Gilmore" para escrever para eles. Porém, ela almeja algo maior que isso, o que faz com que nossa garota rejeite seguidamente as propostas que recebe. Seu mais novo projeto, o livro com Naomi não está saindo exatamente como planejado e isso era de se esperar, afinal, quando a pessoa que você está escrevendo sobre, passa mais tempo bebendo do que te fornecendo material para escrever as coisas tendem a não fluir. Além disso, Naomi não é a pessoa mais fácil do mundo de se lidar, não existe possibilidade delas continuarem se entendo quando o livro vai de autobiográfico à infantil e Rory não entende se Naomi deveria ser a baleia ou o rato. Ou o coelho. Para Rory a melhor possibilidade seria a entrevista em Condé Nast que continua sendo adiada sem motivo aparente.

Rory e Logan continuam o seu relacionamento e, em meio a um almoço, temos um dos personagens mais odiados da série reaparecendo. Mitchel Huntzburger acaba vendo os dois almoçando e até se oferece para ajudar Rory a fazer Condé Nast acontecer. O que chega a ser irônico, uma vez que, anos atrás foi ele quem disse para a Rory que ela não tinha o jeito para o jornalismo, levando -a ao inicio da sua pior fase na série. Mas essa não é a maior bomba que Mitchel joga para nós. Logan está noivo de uma mulher que mora em Paris. E se eu já estava incomodada com Rory traindo Paul para ficar com ele este foi o ápice da minha inquietação. Estamos falando de Rory e temos ali um histórico de traições é claro, mas pensei que depois de tanto tempo e com 32 anos de idade ela fosse amadurecer esse lado o que, aparentemente não acontece. O que vi foi uma Rory que não se importou com o fato dele ser noivo, dela estar namorando um cara que ela não se lembra nem de terminar, vivendo tudo isso como se fosse normal e, para piorar, escondendo tudo da Lorelai.
Mitchel acabou por conseguir Rory se reunir com o pessoal da Condé Nast e quando Naomi decide que não quer Rory escrevendo seu livro, ela finalmente acaba ficando livre para tentar fazer as coisas acontecerem na sua vida. Trabalhando num novo projeto para a Condé Nast sobre filas em Nova York, as garotas Gilmore viajam juntas para fazer a matéria (preciso dizer que fã de Parenthood e fã da Mae Whitman ver a participação dela na série foi algo especial). Quando Lorelai vai para o hotel mais cedo e Rory fica sozinha na filas algo que nunca havia acontecido antes acontece. Rory tem seu primeiro sexo casual. Com um Wookie. É. É.
E isso faz com que ela comece a repensar todas as coisas que tem feito na sua vida tanto profissionalmente quando pessoalmente. E finalmente, ela conta para Lorelai que estava ficando com Logan. Vejam bem, não que eu esperasse a bronca do século, mas não esperava uma Lorelai tão condescendente com a filha. Essa era a hora dela dizer que isso era errado, talvez perguntar se ela não havia entendido lá na quarta temporada que era errado fazer esse tipo de coisa, mas isso não acontece. O que está fazendo é errado e era hora de alguém apontar isso pra ela, já que Rory não está vendo isso sozinha.

Nossa Gilmore caçula está completamente perdida, o que é gostoso de assistir porque todos nós ficaremos confusos um dia, isso se você já não estiver confuso. Sem saber que rumo tomar e em que direção ir. Isso é normal, então, quando Lorelai sugere que ela vá procurar o website que tanto lhe perseguia, Rory vai. E vai com tanta certeza de si mesma que acaba tendo uma queda bem grande. Todos nós, ou quase todos, uma dia vamos fazer algo sem pensar na possibilidade de dar errado, sem pensar que pode não acontecer. Pular de cabeça sem preparação não é indicado, mas todo mundo acaba fazendo um da. As coisas não dão certo para ela ali também e o que acaba levando nossa menina de volta para casa, oficialmente.
Enquanto tudo isso acontecia na vida de Rory, a vida de Lorelai não estava menos agitada. Entre sonhos com Paul Anka real e lidar com a possibilidade da saída de Michel, Lorelai e Luke vão ao cinema e acabam assistindo o segundo filme de Kirk (ainda melhor e mais dramático que o primeiro!). Mas o grande show da noite vem em forma de ligação de Emily Gilmore convidando Luke, e somente Luke, para um jantar mas, é claro, Lorelai vai junto mesmo assim. E, então, Richard Gilmore volta a se fazer presente.
Muitas luas atrás, o patriarca da família Gilmore já queria que Luke abrisse franquias do restaurante e, aparentemente, ele não desistiu. Deixando uma quantia em dinheiro especifica para Luke construir seu império, Richard queria que isso se concretizasse e Emily estava disposta a realizar o desejo do marido, inclusive, estava disposta a ir com nosso homem de flanela favorito olhar os potenciais locais para isso, mesmo que ele não tivesse interesse nenhum em expandir o negócio.

"Me desculpe, mas eu voltei acidentalmente para 2003?". Francie voltou e nós também. Rever Chilton trouxe um clima de nostalgia, afinal, foi por causa dessa escola (e do dinheiro que ela custaria) que toda a história começou. Hoje, uma Rory e uma Paris formadas voltam para aquele lugar que foi a casa delas durante anos. E voltam com tudo, com direito a surto de Paris por achar que ainda estava apaixonada por Tristan (não interpretado pelo Chad no revival) mesmo depois de tanto tempo e, claro, a paranoia gerada pela presença de Francie. Paris sempre teve uma insegurança muito grande em perder as pessoas, devido a seus pais serem ausentes. Ela se agarra à aqueles que ela gosta e fica com medo que eles a abandonem. Mesmo assim, ela é uma personagem extremamente forte e que não tem medo de mostrar a que veio. As aulas que ambas ministram não poderiam ser mais diferentes, se de um lado temos uma Rory falando sobre música de forma emocional e relembrando como essa escola foi importante para ela, do outro temos Paris com direito a citação de Stalin lembrando que isso também era guerra e fez alunos saírem chorando da sala.
Quando o diretor oferece a Rory a possibilidade de lecionar em Chilton, eu achei logo de cara que seria ótimo para Rory e ela leva jeito para isso, mas eu entendo a necessidade do não dela. Ela vem batalhando muito para trabalhar na área dos seus sonhos e não vai aceitar menos que isso, leve o tempo que levar. Não é fácil desistir do sonho e fico feliz que ela não faça isso. Fico feliz que ela opte por continuar buscando aquilo que sempre sonhou.

Com Francie no banheiro também descobrimos que Paris não é apenas médica. Ela é também advogada, especialista em arquitetura neoclássica e sabe algo de prótese dentária também. Sim, ela domina o mundo. A insegurança dela reaparece quando Doyle e Rory acabam contando que trocam e-mails e ela logo desconfia de um caso. Apesar das inseguranças, Paris tem sua família que conta com dois filhos lindos e é mais do que realizada profissionalmente e eu fico imensamente feliz por ela. Paris sempre foi focada (até demais) na vida acadêmica e seus objetivos. Ser rejeitada em Harvard na época foi forte para ela e olhem como ela está hoje? Mais do realizada.
E, mais do que qualquer coisa, ela consegue fazer isso com a porta usando salto alto. Rainha mesmo, não tem jeito.
Mas os melhores momentos do episódio ficam novamente nas mãos de Lauren e Kelly. As cenas de terapia de mãe e filha são uma obra de arte e cada segundo delas vale a pena. Elas tem muitos problemas para resolver, isso é claro, mas elas são exatamente iguais e não se abrem. Fazendo um silêncio estarrecedor, a relação passivo - agressiva das duas chega um ápice nessas cenas, onde a terapeuta precisa de um tempo e até voltou a fumar. Emily aparentemente ainda não superou a história de Lorelai ter engravidado aos 16 anos e saído de casa, criado Rory sozinha e voltado quando precisou de dinheiro para Chilton, o que é perfeitamente compreensível.

A terapia era para ser sobre Emily aprendendo em como lidar com tudo que estava acontecendo nessa nova fase da sua vida, mas aparentemente, as coisas viraram de cabeça para baixo e então mãe e filha agora tentam resolver os seus problemas, incluindo uma suposta carta escrita por Lorelai que segundo ela, nem mesmo existia. Lorelai sempre quis casar, isso não é segredo para nenhum de nós. E ver Emily diminuir seu relacionamento dela com Luke porque eles não estão oficialmente casados, dói em nós. Ela casou com Christopher (e Lauren fez questão de esquecer isso - e nós também) e não foi a melhor decisão do mundo. O casamento dos sonhos era para ter acontecido em 3 de junho. Com Luke. E acho difícil que Lorelai tenha superado isso. Não foi fácil passar por toda a situação do casamento e o que se seguiu. Eles estão felizes, mas isso não impede que ela de querer casar e se sentir completa. É um sentimento absolutamente normal.
Quando Emily decide abandonar a terapia, Lorelai segue em frente. Aparentemente para ela é bom ter alguém para conversar e desabafar sobre as coisas. Ficamos então sabendo de como foi para Lorelai saber da morte do seu pai através de uma ligação de Emily e como tudo isso foi um choque. Também temos um momento onde Lorelai questiona a felicidade em seu relacionamento com Luke, dizendo mais como para que convencer a si mesma do que a terapeuta que eles estavam bem. Falei na review de Winter que o problema de Luke e Lorelai é a comunicação e mantenho isso aqui. Ela esconde dele que está indo para a terapia sozinha e ele fica sabendo disso através de Emily, ou seja, da pior forma possível. E me impressiona que depois de todo esse tempo e de ter visto como segredos podem machucar, eles continuem fazendo isso um com o outro.

Acho que grade parte do que nos atrai em Gilmore Girls é como nossas garotas são falhas, como os relacionamentos são falhos e longe de serem perfeitos. Estamos observando Lorelai reavaliando pontos da sua vida, estamos vendo Emily entrar numa nova fase da vida dela e Rory tentando entender como a vida funciona e buscando seu lugar no mundo. São três gerações completamente diferentes e, ainda assim, muito iguais que buscam se encontrar. Se resolver.
E nos é dada a chance de observar essas mudanças e, quem sabe, se identificar com algumas delas. Gilmore Girls está de volta no melhor estilo da série, com piadas atuais e menções a Outlander tornando esse universo, se é que isso seria possível, ainda mais mágico.
É muito bom voltar para casa. Eu senti falta daqui.