O Dr. Ben Payne acordou na neve. Focos sobre os cílios.
Vento cortante na pele. Dor aguda nas costelas toda vez que respirava fundo.
Teve flashes do que havia acontecido. Luzes piscavam no
painel do avião. Ele estava conversando com o piloto. O piloto. Ataque cardíaco
sem duvida.
Mas havia uma mulher também – Ashley, ele se lembra.
Encontrou-a. Ombro deslocado. Perna quebrada.
Agora eles estão sozinhos, isolados a quase 3.500 metros de
altitude, numa extensa área de floresta coberta por quilômetros de neve. Como
sair dali e, ainda mais complicado, como tirar Ashley daquele ugar sem agravar
seu estado?
À medida que os dias passam, porém, vai ficando claro que se
Ben cuida das feridas físicas de Ashley, é ela quem revigora o coração dele. Cada
vez mais um se torna o grande apoio e a maior motivação do outro. E, se há
duvidas de que se possa sobreviver, uma certeza eles tem: nada mais será igual
em suas vidas.
Acho que o sentimento maior desse livro, se me perguntassem
ainda hoje, dias depois de ter lido é: intenso, louco e amor demais. E agonia
também. Filme sobre resistir em lugares inóspitos é mais rápido e fácil de
sofrer, porque acho que passa rápido, muita das vezes por ser sor duas horas
daquilo e pronto. Livro não. Você fica agoniada a cada parágrafo, e é de deixar
qualquer um tenso!
E eu fiquei tensa o livro quase todo, até as ultimas 50/60
páginas. Porque vamos lá, imaginem aí: aquele filme em que o personagem tá no
pior lugar, ferido, junto com outra pessoa, em um estado um pouco pior, e você
tenta fazer de tudo para ajudar, poucas coisas dão certo, a agonia, e isso tudo
em 2h. Agora coloque em um livro: é muito pior, por que vai dando errado, e o Ben tenta fazer o melhor, não tem comida, ele tenta fazer o melhor pra deixar a
Ashley confortável, olha você fica com a respiração presa esperando o pior
acontecer. E a cada coisa boa que acontece você falta ficar louca vibrando! 27
dias no desespero, com pouca sorte, e olha, eu teria morrido ou teria entrado
em desespero logo no segundo dia.
E os personagens e a historia são fenomenais. As características
de cada um para lidar com a tragédia é muito interessante. Por exemplo: o humor
da Ashley. Você sabe que ela tá assustada e com uma puta duma dor, a qual o Ben tenta de tudo para amenizar, com os parcos remédios na bolsa, mas ela se
utiliza de tudo, inclusive um flerte meio doido com o Ben, e é muito bom de ver
isso, pra que a historia não fique completamente pesada, estressante e
agoniante. Incluindo um joguinho de “Ai, que vontade de comer um x-burger com
tudo que tenho direito!”, essas coisas. O Ben é mais metódico, mas entra no
jogo da Ashley. Não só pra ajudar a cada minuto que passa, como pra seguir no
dia a dia e se focar nisso pra conseguir seguir adiante com as coisas que ele
tem que fazer, como por exemplo: caçar, ajudar nas necessidades físicas da
Ashley, já que ela não pode nem se mexer direito por causa da perna. E como ele
é médico, o pobre fez o diabo com o que tinha pra ajudar na cura dela, até o
momento que eles conseguissem chegar em algum vilarejo montanha abaixo.
Outro ponto interessante: o Ben, com a fidelidade a esposa.
E a história por trás disso. Ele usa um gravador pra contar os próprios sentimentos,
e assim poder conversar com a esposa, já que a ideia foi dela, por ele ser
médico e ficar um certo tempo longe por motivos. Assim, nenhum nem outro
sentiriam saudades demais e estariam sempre perto, por assim dizer. (Gorfei arco-íris).
E fica nisso quase o livro todo, ele
relembrando coisas boas com a esposa, pra entregar a ela quando voltasse pra
casa. E aí, meus bebês, está a genialidade da coisa. Enquanto esse plot rolava,
eu fiz diversas teorias: já que ele falou pra Ashley que ele brigou com a
esposa, e por isso estavam separados a um tempo, o final desse livro foi tanto
um tapa, quanto ligeiramente obvio, por envolver uma das minhas teorias, depois
de uma das memorias depois lá da pagina 200. Mas eu assumo, também, que
confundiu um pouco, devido a umas conversas dele com a Ashley.
Nesse ponto eu louvo o relacionamento deles, que deu muito
certo, e foi crescendo ao longo da historia. E eu fiquei muito puta com o autor
por causa dessa história, porque tem a esposa do cara, e a Ashley, só que ao
mesmo tempo também fiquei feliz, já que uma das minhas teorias poderia se
confirmar. Mas a culpa: ela é presente e esse autor é cachorro. Por
causa de uns detalhes, você fica naquela, de seguir em frente pelo ship,
odiando as vezes o autor, mas torcendo pra tudo ficar bem pra todo mundo no
final. Vocês vão me entender na confusão de sentimentos depois que lerem.
Enfim, shipei, chorei, amaldiçoei a historia e a agonia
passada, mas pensem numa historia boa, de escrita maravilhosa, e que te cativa
de uma maneira muito doida. Olha, fãs do Sparks tinham razão (sendo eu uma fã
doida do autor, confirmo): lenço faltou. O final desse livro é sensacional
e uma "rasgação" de coração total, com direito também a fofura. Leiam, vale
totalmente a pena. Além do que, as dicas pra sobrevivência são muito boas.
Título: Depois Daquela Montanha Autor: Charles Martin
Editora: Arqueiro
Páginas: 306
Ano: 2016