Hora de falar sobre essa web serie linda. Segunda e penúltima review de “Em nome do filho”.
“As vezes a gente olha para trás e se arrepende do que fez. Eu me arrependo do que eu não fiz, dos momentos que eu não pude viver ao lado de quem eu amei e das vezes que deixei de afirmar o nosso amor, e tudo com medo do que os outros vão pensar”.
Por mais que esta frase tenha sido dita apenas ao final do segundo episódio, ela representa ao menos um momento passado por todas as personagens ao longo da série, cada um do seu jeito e a sua maneira de amar busca retribuir e viver o amor, isso que nos é apresentado nestes dois episódios de “Em nome do filho”, sempre de um jeito envolvente.
Quando terminamos o episodio 1 com a novidade da gravidez não planejada e o quase flagra o botão play no episodio 2 é clicado quase que automaticamente devido a tensão gerada no episódio anterior, mas esta se dissolve parcialmente já nos primeiros minutos, ufa! O fato de a notícia dada pelos pais não ser bem recebida vai muito além do ter alguém a mais em casa, ou de formar uma nova família, é diante das situações adversas como esta que o amor é reafirmado, e até poemas criados mostrando o quanto neste meio tempo as personagens mudaram, cresceram.
Do outro lado da história percebemos que Mauricio que ama Ramon é irmão de Gisa, que é apaixonada pela Melissa, que ama Sávio que gostou da Adriana desde a primeira vista, que até então também namora do Lucas, assim como Ramon. Rolo né? Super Gossip Girl essa trama de amores cruzados, mas o como esses enlaces são organizados e apresentados é que faz a diferença, focando não apenas no que se sente, mas no quão longe você vai pelo seu amor, sendo ele possível ou não. Ah, e em meio a tudo tem o Zu Zum Zum, a entidade da natureza que aparece em tudo que é momento para aconselhar os jovens.
Com os dois romances mais estruturados, temos espaço para o desenho do novo casal formado por Sávio e Adriana, mas não antes os embates, da resolução de conflitos e a saída do armário para o irmão. O papo entre Savio e Ramon foi daqueles que faz qualquer um falar um “own!” ao final; esse papo representa não apenas a irmandade, mas a amizade entre eles. O que chamou a atenção na cena em questão foi à forma com a qual Everton Bittencourt (o Ramon) mostra para o irmão além das palavras (por meio da linguagem corporal e olhar), a ânsia de não saber o que fazer, falar ou como falar. Daí, mais uma vez temos a questão da identificação entre quem vive reconhece o sentimento e quem não viveu. Isso gera na gente a empatia com a personagem.
Dando continuidade à história, que começa com boas noticias relacionada ao intercâmbio de engenharia na Irlanda, culminando na festinha de amigos, onde além do pecado de misturar os universos de As Crônicas de Nárnia e Harry Potter em um diálogo falando sobre acreditar em magia, há um show de homofobia protagonizada pelo casal Manoel e Livia, um banho de agua fria naqueles que já reconheceram neles, até então, um casal fofo e típico de novelas de Manoel Carlos. Já Zu Zum Zum, que está presente não deixa quieto e se impõe: “Eu sou bicha, preto, imponderado! Sou gay, tenho corpo gay, tenho sangue gay, sou gay com orgulho. É meu dever dizer quem eu sou quando perguntam”. E com isso o selo lacração da noite vai para Zu Zum Zum, juntamente com a Melissa, Mauricio e Thiago.
Situações como esta são apenas oportunidades para o preconceito aparecer, como pontuado por Lucas, em meio ao inesperado e diante do que não se é acostumado, é que decisões impensadas são tomadas. Na vida real ocorrem situações desoladoras, como a expulsão de um filho de casa, a internação em um acampamento que promete a “cura”, aqui acontece o distanciamento forçado e atos desesperados pedem medidas desesperadas, e com isso todo aquele drama que poderia ser cliché, se não acontecesse em na maioria das casas quando um filho sai do armário, mãe desmaiando, pai partindo para cima do filho, e toda uma tensão, o que sabemos desde o início da série, e não para por aí.
Para finalizar, credito todo o sucesso da web série, assim como o do canal, na sensibilidade em mostrar pontos de vista diferentes ao longo dos episódios. Na construção dos seus personagens é possível contemplar a complexidade das personalidades e o quanto o conhecer alguém é algo totalmente variável, como no dito popular: a situação faz o ladrão. Para fazer tudo isso da forma que fazem, se faz necessário não apenas disposição, mas uma dose de coragem para nadar contra a maré e mostrar algo diferente do comum, conquistando uma base própria de espectadores, mas sem deixar de encontrar seus haters.
Assim como na review anterior cito como dica a trilha sonora, agora com a musica utilizada não apenas na abertura da série, mas envolvendo diversos momentos de todos os personagens, a balada Do Nosso Jeito, cantada pelo ator/cantor Pedro Quevedo, que ficou conhecido por atuar nas primeiras webs do canal. Rapaizinho de talento viu!